'Sei como a sociedade reage quando uma mulher d� a cara a tapa', diz atriz
Let�cia Sabatella volta a BH com espet�culo sobre Edith Piaf e afirma que interpretar grandes figuras femininas a ajuda a compreender a condi��o da mulher
Let�cia Sabatella homenageia Edith Piaf, �cone da can��o francesa (foto: Daniel Bianchini/divulga��o)
"Ter a extens�o vocal de Piaf n�o � uma grande coisa, porque vendo a obra dela voc� percebe que a quest�o n�o est� na voz, e sim na for�a com que se canta. Aprender a cantar as m�sicas foi um verdadeiro exerc�cio de trava-l�nguas para mim
Let�cia Sabatella, atriz e cantora
No espet�culo “Piaf e Brecht – A vida em vermelho”, com texto de Aimar Labaki, Let�cia Sabatella interpreta a cantora e compositora francesa Edith Piaf (1915-1963), que, em uma situa��o hipot�tica, se encontra com o dramaturgo e diretor alem�o Bertolt Brecht (1898-1953), vivido pelo ator Fernando Alves Pinto.
Cheios de personalidade e bom humor, os dois c�lebres artistas est�o em um antigo cabar�, onde ensaiam uma apresenta��o, acompanhados por tr�s m�sicos. A intensa troca de experi�ncias faz com que eles comecem uma esp�cie de competi��o na qual apresentam suas composi��es e outras m�sicas que marcaram �poca.
"� uma troca l�dica que acontece enquanto Edith [Piaf] e Bertolt [Brecht] tentam decidir que espet�culo eles v�o apresentar. Em meio a discuss�es, os dois chegam � conclus�o de que s� vai dar para fazer o espet�culo sobre um deles, ent�o se inicia esse embate", explica Let�cia Sabatella.
"Eles s�o representados como figuras meio mesquinhas, o que d� o tom do humor do espet�culo. Como � uma competi��o, Edith tenta a todo instante detonar Brecht, e ele faz a mesma coisa. � uma pe�a muito l�dica, mas tamb�m com muita sensibilidade e humor."
"A vida em vermelho" ser� encenada nesta sexta (5/11) e s�bado (6/11), �s 21h, no Cine Theatro Brasil Vallourec. Ambas as sess�es ter�o int�rprete de libras e transmiss�o on-line, com cobran�a de ingresso. A apresenta��o em BH marca a retomada do espet�culo, que estreou em 2017.
Ser� a primeira vez que Let�cia Sabatella sobe num palco diante do p�blico desde o in�cio da pandemia. "� a nossa primeira reapresenta��o, ent�o espero que a gente consiga retomar o f�lego que v�nhamos experimentando antes da pandemia. Esse � um espet�culo que exige muito g�s, porque h� nele muita intera��o com a plateia. Claro que agora essa participa��o do p�blico vai ser feita com o maior cuidado poss�vel, mas ela ainda � uma parte muito importante do espet�culo", explica a atriz.
Fernando Alves Pinto como Brecht (foto: Daniel Bianchini/divulga��o)
REFER�NCIA
Em cena, ela n�o s� incorpora uma vers�o debochada de Edith Piaf, como d� voz a cl�ssicos da grande cantora francesa, como "La vie en rose", "Non, je ne regrette rien", "La Marseillaise" e "La foule". Quando come�ou a estudar para o papel, Sabatella tinha a vontade de aprofundar as habilidades como cantora, faceta que ela exercita desde a estreia do show "Caravana tonteria", em 2014. Passados quatro anos da estreia do espet�culo, a atriz sente que aprendeu muito com a personagem.
"N�o tem como a gente n�o ter como refer�ncia algu�m que tem um jeito t�o espec�fico de cantar. Ao longo da minha vida, eu n�o a tinha como uma grande refer�ncia para mim, mas, ao mergulhar no universo de Piaf, entendi a complexidade dela. Ela � conhecida pela figura da bo�mia e do sofrimento, mas ela tamb�m tinha uma for�a interior muito grande e uma sabedoria imensa. Tamb�m enxergo nela essa busca pela necessidade de ter voz, de ser ouvida enquanto mulher", afirma.
Segundo a atriz, seu tom de voz � bastante semelhante ao de Piaf e, portanto, ela n�o teve dificuldade para cantar as m�sicas no tom. O maior problema foi conseguir alcan�ar um n�vel de dic��o que a l�ngua francesa requer. "Ter a extens�o vocal de Piaf n�o � uma grande coisa, porque vendo a obra dela voc� percebe que a quest�o n�o est� na voz, e sim na for�a com que se canta. Aprender a cantar as m�sicas foi um verdadeiro exerc�cio de trava-l�nguas para mim", comenta.
"A voz � uma coisa muito incr�vel que, quando voc� treina e pratica, a sua musculatura aprende os caminhos e, depois de muito tempo praticando isso em cena, passa a ficar introjetado em n�s. Ent�o, � tranquilo para mim chegar e cantar Piaf. N�o � uma coisa imposs�vel ou que exija toda uma prepara��o espec�fica", ela explica.
Let�cia Sabatella afirma que Edith Piaf tinha um jeito de cantar que n�o era l�rico. Al�m disso, as m�sicas da cantora francesa permitem que ela opte por cantar em dois tons: um mais baixo e outro mais alto. "Em algumas m�sicas, opto pelo tom mais baixo para o meu timbre se assemelhar ao dela. Eu tenho um timbre mais agudo. Mas a ideia mesmo n�o � reproduzir o jeito como ela canta. Piaf � um cora��o que canta."
Nascida em Belo Horizonte, a atriz de 50 anos se mudou da capital mineira para Volta Grande, no interior do estado, quando tinha 2 anos. A partir dos 4, viveu em Curitiba, at� os 20. Apesar de n�o ter crescido na capital mineira, ela tem uma rela��o forte com a cidade, principalmente porque sua filha, Clara, fruto do relacionamento com o tamb�m ator �ngelo Ant�nio, nasceu em BH.
"Em BH, eu tive o maior acolhimento da minha vida. Primeiro porque � a cidade onde eu nasci; segundo, porque foi o lugar onde eu tive a minha filha. A partir da Clara, criei uma conex�o muito boa com a cidade em si e tamb�m com os amigos mineiros que fiz, principalmente aqueles que trabalham na minha �rea, como o Giramundo, o Galp�o, Marcus Viana, o Uakti", ela afirma.
A atriz diz se lembrar de todas as vezes em que esteve em Belo Horizonte a trabalho. “E o que mais me marcou foi o acolhimento do p�blico. Na outra temporada, quando levamos 'Piaf e Brecht' para BH, foi muito emocionante. As apresenta��es s�o sempre marcadas por muita emo��o.”
Al�m de Edith Piaf, outra personagem hist�rica que Let�cia Sabatella interpretou recentemente foi a imperatriz Teresa Cristina (1822-1889) na novela "Nos tempos do imperador", exibida na faixa das 18h, na Globo. O folhetim hist�rico se passa cerca de 30 anos ap�s a proclama��o de Independ�ncia do Brasil, que ocorreu em 1822. As grava��es j� chegaram ao fim, mas a novela segue no ar at� fevereiro de 2022.
IMPERATRIZ
"Ainda estou com a Teresa Cristina pairando sobre mim", brinca a atriz. "Quando recebi o convite para interpret�-la, me incumbi da tarefa de defender a condi��o de uma mulher t�o mal desenhada e mal compreendida – como todas as mulheres do ponto de vista da hist�ria contada. Estamos entendendo muitas coisas em rela��o ao humanismo e ao feminismo. Eu mesma me pego me reavaliando em coisas que eram normalizadas 10 anos atr�s."
Ao tra�ar um paralelo entre a imperatriz e Piaf, Let�cia Sabatella afirma que interpret�-las tamb�m � uma forma que ela encontrou de aprofundar o que sabe sobre si mesma. "Sinto que � um modo de eu me compreender e, consequentemente, compreender a for�a feminina, saber como ela consegue sobreviver aos julgamentos da sociedade. A hist�ria nunca � generosa com essas figuras", afirma.
Por isso ela procura mergulhar na raiz da hist�ria dessas mulheres, ao mesmo tempo em que aprofunda uma pesquisa sobre quest�es feministas de forma mais ampla. "Essas mulheres j� foram chamadas de tudo. Eu fui xingada na rua, sei como a sociedade reage quando uma mulher d� a cara a tapa."
Desde que estreou, em agosto passado, "Nos tempos do imperador" vem alimentando um debate acalorado sobre a maneira como a novela aborda passagens hist�ricas. A produ��o j� foi acusada de retratar a escravid�o de forma romantizada e apresentar a ideia de racismo reverso.
Let�cia Sabatella v� as discuss�es que o folhetim tem gerado como um reflexo do interesse pela hist�ria que a novela tem gerado. "� uma obra de fic��o que n�o tem o compromisso de ser fidedigna com a hist�ria, mas tem a capacidade de gerar a curiosidade pela hist�ria. Gerada a discuss�o, a gente tem a capacidade de assistir � novela com um olhar que n�o � o de quem est� assistindo a um document�rio."
Com as grava��es finalizadas, ela agora volta a se dedicar aos palcos. Em julho passado, Sabatella lan�ou o primeiro �lbum da “Caravana Tonteria”, que ela tamb�m divide com Fernando Alves Pinto. Com 13 faixas, o trabalho re�ne o registro de can��es como "Je ne regrette rien", de Piaf, e "Geni e o Zepelim". Agora, ela pretende colocar a “Caravana” na estrada novamente.
"Com a libera��o dos shows, chegou a hora de apresentar esse show em outras cidades e capitais. Tamb�m estou escrevendo o roteiro de um filme e h� a perspectiva de uma s�rie", diz.
“PIAF E BRECHT – A VIDA EM VERMELHO”
Nesta sexta (5/11) e s�bado (6/11), �s 21h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Rua dos Carij�s, 258, Centro). Ingressos pelo site eventim.com.br e na bilheteria do teatro a R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia). Ambas as sess�es ter�o transmiss�o on-line com ingressos a R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia), � venda no site eventim.com.br e na bilheteria do teatro