
“O avi�o est� caindo. Fa�a o que quiser da sua vida. Te amo. Papai.” Com a intelig�ncia artificial do celular, Julie (Marie Reuther) ouve a mensagem de texto repetidamente dentro do carro, enquanto d� voltas ao redor de uma pra�a. Filmada do alto, a sequ�ncia s� mostra o carro, a pra�a e a mensagem, tudo em um grande looping. � bonito e tr�gico, em igual medida.
“Kamikaze”, primeira s�rie dinamarquesa da HBO Max, que estreia neste domingo (14/11), foge totalmente do padr�o das produ��es escandinavas policiais que dominam as plataformas de streaming. Sua protagonista, uma garota de 18 anos, bonita, rica, amada pela fam�lia e popular, com milhares de seguidores nas redes sociais, est� em praticamente todas as cenas.
No passado, ela � assim; no presente, de cabelos raspados, est� absolutamente sozinha. Pegou um avi�ozinho para morrer. Mesmo pilotando em dire��o � morte, n�o conseguiu. A queda, em um deserto, � o in�cio de sua jornada, depois que seus pais e seu irm�o sucumbiram em um acidente a�reo. A mensagem final do pai, “fa�a o que quiser de sua vida”, � a inc�gnita que ela vai perseguir at� o fim.
OUSADIA
Adapta��o do romance “Muleum” (2007), do escritor noruegu�s Erlend Loe, “Kamikaze” � narrada de forma fragmentada. Indo e vindo em diferentes momentos temporais – e utilizando muito de artif�cios dos smartphones, como mensagens de texto e v�deo e posts em redes sociais –, a s�rie, com epis�dios curtos (meia hora, em m�dia, cada um), prima pela ousadia.Ainda que o tema seja pesado, h� algum humor nas ironias a que Julie recorre para falar sobre sua jornada. “� uma s�rie sobre esperan�a e vida, e n�o sobre morte, acima de tudo”, afirma o diretor Kaspar Munk.
“� sempre um desafio adaptar um romance. No caso deste, ainda maior. Como � em formato de di�rio, ou seja, em primeira pessoa, a maior parte da narrativa vem por meio dos pensamentos da personagem. Muito disso foi traduzido em a��o para a s�rie”, diz a roteirista Johanne Algren.
Ela comenta que tamb�m adicionou “lugares que n�o est�o no livro” e fez uma invers�o temporal na narrativa. “A parte do deserto, que est� nas duas p�ginas finais do romance, decidi levar para a abertura da produ��o, para ter um contraste e mostr�-la em um lugar mais existencial, voltado para a reflex�o.”
LUTO
Para Munk, o mais complicado foi criar cenas em que s� havia uma linha no roteiro, como “Julie olha para o c�u”. Como fazer isso? “� uma hist�ria sobre luto, sobre uma pessoa que perdeu tudo. Por outro lado, ela � uma pessoa privilegiada. Ent�o utilizamos diferentes formatos, lidamos com cen�rios e tempos diferentes, dando dinamismo � trama, pois entendemos que, se fosse muito dram�tico, poder�amos perder o p�blico.”Os flashbacks mostram a personagem com os amigos indo beber num bar; preparando-se para uma festa em casa, j� que a fam�lia estava fora. Isto antes de tudo mudar. Logo ap�s a morte da fam�lia, vemos tamb�m Julie fazendo terapia e se relacionando com o jovem que estava construindo uma piscina em sua casa. “Cada epis�dio traz um novo cen�rio. Ent�o, h� um clima de road movie”, afirma Munk.
“Kamikaze” come�ou a ser rodada antes da pandemia. J� no final das grava��es, com a eclos�o da crise sanit�ria, tudo teve que ser fechado, adiando o projeto. Foi um tempo necess�rio � protagonista, a novata Marie Reuther.
“Quando ela chegou, ainda estava estudando artes dram�ticas. Ningu�m a conhecia e sua performance come�ou inocente, pura. No come�o, ela andava pelo set sem saber nada. No final, j� era uma atriz com experi�ncia e esta complexidade aparece na maneira como interpretou Julie”, diz Munk.
Hoje com 25 anos, Marie tinha 22 quando foi escolhida para o papel. “Vi um post no Facebook de um casting aberto a todos. Estava selecionando jovens entre 18 e 22. Mandei uma apresenta��o por v�deo com meu nome, minha idade e a vontade que eu estava de participar do projeto. Fui chamada para outra sele��o e mais outra e mais outra. Cinco meses depois, consegui o papel”, conta ela.
At� o in�cio das filmagens, Marie teve seis meses para se preparar. “Falei com colegas, pesquisei sobre m�todos de interpreta��o, li o romance e resolvi combinar tudo para criar o mundo de Julie”, conta a atriz, que tinha que relacionar a transforma��o psicol�gica da personagem com as mudan�as f�sicas pelas quais a protagonista tamb�m passava.
“A pessoa que a Julie era antes do acidente era superf�cil, n�o tinha preocupa��es. Depois, tudo muda, pois ela n�o consegue se conectar com os outros. � como se, emocionalmente, estivesse em outro planeta”, descreve Marie.
“KAMIKAZE”
• S�rie em oito epis�dios. Os dois primeiros estreiam neste domingo (14/11), na HBO Max. Dois novos epis�dios por semana