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Estado de Minas LITERATURA

Ana Maria Machado comemora 80 anos escrevendo sobre seus leitores

No livro de mem�rias ''Rastros e riscos'', autora carioca re�ne lembran�as sobre o p�blico que a acompanha. J� em ''Vest�gio'', ela se dedica ao conto


09/01/2022 04:00 - atualizado 08/01/2022 02:21

Usando roupa florida e sentada numa cadeira, a escritora Ana Maria Machado sorri para a câmera
Ana Maria Machado diz que ficar confinada durante quase dois anos, devido � pandemia, a fez escrever sobre seus leitores (foto: Bruno Veiga/divulga��o)

Durante a pandemia, com o isolamento for�ado, Ana Maria Machado come�ou a escrever um livrinho muito delicado, dedicado a mem�rias de seus encontros com leitores. No texto, lembra v�rias ocasi�es em feiras, palestras e lan�amentos em que conversou com eles. S�o momentos que estavam guardados na lembran�a, mas sobre os quais nunca pensou escrever.

Integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL), a autora fez um balan�o de sua trajet�ria, durante o confinamento imposto pela COVID-19. “Me dei conta de como fui privilegiada n�o s� de poder fazer pandemia com teto e comida na geladeira, mas com boas lembran�as de bons encontros. A vida me deu presentes. E comecei a me lembrar dessas pequenas alegrias”, comenta.

COLE��O DELAS


“Rastros e riscos” ganhou, primeiramente, o t�tulo “Pequenas alegrias discretas” no arquivo do computador da autora. O livro, que celebra os 80 anos de Ana Maria, completados em 24 de dezembro, faz parte da “Cole��o Delas”, s�rie da editora �tica dedicada a grandes escritoras brasileiras.

Al�m das mem�rias, a autora carioca lan�ou “Vest�gios”, colet�nea de 11 contos cuja publica��o acabou adiada por causa da pandemia.

Escrever sobre encontros com leitores foi um exerc�cio de reflex�o. “Ao longo do tempo, conversei tanto com leitores que acho que essa troca se fazia oralmente. Escrevia para leitores, mas n�o sobre leitores. O fato de termos ficado quase dois anos fechados, sem contato direto, me fez escrever sobre eles”, explica.

“N�o sou muito de redes sociais, ent�o acho que esse mergulho para dentro de mim, esse balan�o de estar fazendo 80 anos, trouxe a oportunidade de refletir sobre esses encontros”, observa.
“Rastros e riscos” � um livro afetuoso e amoroso, sentimentos que ajudaram Ana Maria a passar pelos dois �ltimos anos. Por outro lado, “Vest�gios” n�o foi escrito durante a pandemia, mas tem forte liga��o com a mem�ria. Os contos s�o o exerc�cio de um g�nero pouco praticado por ela.

“N�o sou uma contista, me acho mais uma romancista. Meu forte, quando escrevo fic��o, � desenvolver lentamente uma personagem, criar uma atmosfera. O conto exige concis�o, tem poder de condensa��o de narrativa muito forte, com o qual tenho dificuldade. Por isso escrevo menos”, explica.

Quando a editora sugeriu reunir textos escritos nos �ltimos anos, Ana Maria fez uma pesquisa para ver se conseguiria encontrar o fio condutor das narrativas. Queria evitar a “colcha de retalhos”, preferiu dar unidade � antologia.

“Vi que alguns (contos) tinham em comum o fato de apresentar rastros, vest�gios, pegadas, um reflexo atual do passado ou sobre alguma coisa presente que vai se jogar para o futuro”, diz. “(Eles tinham em comum) o fato de mexerem com a mem�ria, com a passagem do tempo e com as marcas que o tempo deixa na vida.”

A pandemia teve reflexos em v�rios livros publicados em 2020 e 2021 por autores contempor�neos brasileiros, mas Ana Maria ainda n�o viu o Brasil real aparecer em sua fic��o.

“Seguramente, se viver o suficiente para isso amadurecer, isso vai aparecer. Mas meu processo � mais lento. Escrevi sobre 1968 em um livro que publiquei em 1988, escrevi sobre o denuncismo dos anos 2000 s� dez anos depois”, comenta.

Por enquanto, ela ainda est� perplexa com o Brasil. “� uma desgraceira, n�o tem como encarar como coisa boa”, lamenta. “A gente tenta se proteger por sobreviv�ncia. Mao Ts�-Tung dizia que o primeiro dever do revolucion�rio � sobreviver. Ent�o, vamos sobreviver. A gente tem que conseguir sair disso, tem que conseguir, por meio de uni�o, o que � poss�vel.”

CRISE CLIM�TICA

A escritora lembra uma conversa com o colega acad�mico Alfredo Sirkis, pouco antes de ele morrer, em julho de 2020. Os dois discutiram a necessidade de a Academia Brasileira de Letras tomar partido e fazer algo em rela��o � desigualdade e �s mudan�as clim�ticas. Queriam entender por que o Brasil assiste a tudo isso de maneira um tanto passiva, se comparada a outros pa�ses.

“Outro dia, li uma entrevista da Marina Silva em que ela diz que n�o � poss�vel que a gente n�o consiga incorporar os diferentes legados positivos que tivemos desde a redemocratiza��o do pa�s, que a gente tem de conseguir valorizar a responsabilidade fiscal, um trabalho conjunto para diminuir desigualdades sociais e a preocupa��o prement�ssima com o meio ambiente, urgente para todos n�s. N�o � poss�vel, isso � urgente urgent�ssimo. Era para ontem, tinha de ter sido feito”, observa.

Ao comentar o ingresso de Gilberto Gil e Fernanda Montenegro na Academia Brasileira de Letras, Ana Maria diz que se trata de movimento natural da institui��o. De acordo com ela, a ABL sempre foi muito variada, mas a m�dia prestou aten��o nisso agora. Lembra que cineastas e letristas, assim como afrodescendentes, h� muito faziam parte dos quadros da casa.

“O Gil entrou derrotando um candidato negro, o Salgado Maranh�o. T� a�: este � um fato, um sinal dos tempos, uma abertura que est� vindo. Mas n�o � s� por isso, por causa dessas duas entradas, desse dois representantes deste momento t�o simb�lico de um momento novo”, garante.

Capa do livro Rastros e riscos, de Ana Maria Machado, tem desenho azul sobre fundo lilás
(foto: �tica/reprodu��o)

“RASTROS E RISCOS”
De Ana Maria Machado
Mem�rias
�tica
128 p�ginas
R$ 36,24

Capa do livro Vestígios, de Ana Maria Machado, tem imagens de pegadas na areia e de fotografias em preto e branco
(foto: Alfaguara/reprodu��o)
“VEST�GIOS”
De Ana Maria Machado
Contos
Alfaguara
112 p�ginas
R$ 49,90


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