

"� um luxo porque tenho uma biografia em que a biografada est� aqui, disposta a falar, oferecendo suas mem�rias. E vem uma hist�ria oral. J� se escreveu muita coisa sobre a Elza, mas � a primeira vez que ela d� a vers�o dela. Mesmo quem conhece a biografia da Elza vai ter algumas surpresas no livro", contou Camargo, na ocasi�o do lancamento do livro. A cantora morreu nesta quinta-feira (20/1), de causas naturais, aos 91 anos, no Rio de Janeiro.
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Cantora Elza Soares morre aos 91 anos
A mem�ria de Elza para as sess�es era a mesma da menina de 13 que gostava de brincar com os garotos na rua e fingia dramas para comover passantes e ganhar um trocado.
"Toda a mem�ria dela � impressionante. Ela lembra de tudo", garantiu Camargo, na ocasi�o do lan�amento do livro. "Lembra de detalhes, da roupa que tava usando, o que algu�m falou. Quando algu�m faz uma biografia, geralmente, o problema � a mem�ria. A pessoa n�o lembra muita coisa. No caso da Elza, ela lembra demais, a gente tem de selecionar." Nas 384 p�ginas da biografia, � sempre a perspectiva da cantora que predomina.
"Toda a mem�ria dela � impressionante. Ela lembra de tudo", garantiu Camargo, na ocasi�o do lan�amento do livro. "Lembra de detalhes, da roupa que tava usando, o que algu�m falou. Quando algu�m faz uma biografia, geralmente, o problema � a mem�ria. A pessoa n�o lembra muita coisa. No caso da Elza, ela lembra demais, a gente tem de selecionar." Nas 384 p�ginas da biografia, � sempre a perspectiva da cantora que predomina.
Talvez esse detalhe seja o aspecto mais interessante do livro. A trag�dia sempre fez parte da vida de Elza. Menina, foi obrigada pelo pai a casar-se aos 13 anos porque ele achou que uma briga com um menino havia resultado em estupro. Elza jura que nada aconteceu, a n�o ser a briga em si. Mas ela casou-se. N�o se interessava por fazer sexo, mas fazia porque era obrigada. Perdeu dois filhos desse primeiro casamento e outro da uni�o com Man� Garrincha. Sofreu com viol�ncia dom�stica e, quando menina, se assustou quando ouviu de S�o Jorge, no que ela chama de apari��o, que apanharia mais da vida do que do pai. Elza era crian�a traquina e levava surras quando aprontava na rua, onde gostava de passar tempo em companhia da meninada.
Leveza
Na fala da cantora, no entanto, a hist�ria toma outro peso. Combinada com a costura de Zeca Camargo, a fala de Elza tem uma certa leveza. Ela n�o se esquivou das passagens dif�ceis, mas como n�o � de sucumbir � dor, seguia em frente. "O que � impressionante s�o as reviravoltas na vida dela. N�o � que ela teve um alto e um baixo, ela teve v�rios altos e baixos e n�o desistiu. Ela tinha quase 70 anos quando a carreira tava meio � deriva e ela falou: vou fazer o disco que eu quero. E fez 'A mulher do fim do mundo'", diz Camargo.
Era, nas palavras dele, uma vontade de viver muito grande que fazia com que Elza naveguesse por ciclos dif�ceis sem deixar de produzir de forma brilhante. "Ela nunca foi acomodada. Isso � impressionante", diz.
Era, nas palavras dele, uma vontade de viver muito grande que fazia com que Elza naveguesse por ciclos dif�ceis sem deixar de produzir de forma brilhante. "Ela nunca foi acomodada. Isso � impressionante", diz.
Segundo Camargo, Elza era uma pessoa muito zelosa, especialmente quando se tratava da imagem da fam�lia. "�s vezes, tenho a sensa��o de que ela est� fazendo quase um testamento para a fam�lia. Sobretudo, em momentos dif�ceis", contou o escritor, na ocasi�o.
Um dos momentos mais dif�ceis das conversas para o livro foi quando narrou a morte de Juninho, como chamava Manoel Francisco dos Santos J�nior, �nico filho que teve com Garrincha. O menino morreu aos 9 anos, em 1986, em um acidente de carro. "Ali, ela foi pro fundo do po�o", lembra Camargo.
Um dos momentos mais dif�ceis das conversas para o livro foi quando narrou a morte de Juninho, como chamava Manoel Francisco dos Santos J�nior, �nico filho que teve com Garrincha. O menino morreu aos 9 anos, em 1986, em um acidente de carro. "Ali, ela foi pro fundo do po�o", lembra Camargo.
Elza narrou com detalhes muitos gr�ficos os obst�culos enfrentados e revelou preferir o isolamento em momentos de crise. "E n�o tem fam�lia, amigo, empres�rio. Quando voc� fala 'Elza sumiu, tem dois anos que n�o grava', � porque estava em um momento de questionamento", explicou o autor.
Elza usava uma met�fora relacionada ao pr�prio reflexo e diz que sumiu porque estava olhando no espelho at� achar a Elza que ela conhece. "Essa vontade � muito impressionante. Quando algu�m fala que tem dificuldade na vida, eu falo: 'vou te contar uma hist�ria da Elza Soares'", avisou Zeca Camargo.
Elza usava uma met�fora relacionada ao pr�prio reflexo e diz que sumiu porque estava olhando no espelho at� achar a Elza que ela conhece. "Essa vontade � muito impressionante. Quando algu�m fala que tem dificuldade na vida, eu falo: 'vou te contar uma hist�ria da Elza Soares'", avisou Zeca Camargo.
Reinven��es
Os momentos tristes da biografia s�o t�o marcantes quanto aqueles nos quais Elza Soares se reinventa. E s�o muitas essas reinven��es. Musicalmente, mas tamb�m como mulher. Logo ap�s a morte de Juninho, ela passou a ser procurada pela gera��o do rock, que despontava na cena da m�sica nacional. Gravou com Cazuza e Lob�o. Branco Melo quis produzir um disco que nunca saiu.
Mas foi em 2000 que passou por sua mais recente reinven��o. Apaixonou-se novamente, coisa que n�o acontecia desde o relacionamento com Garrincha, por um rapaz 47 anos mais novo. Anderson Lug�o, 25, foi parceiro amoroso e musical. Ajudou Elza a produzir "Do c�ccix at� o pesco�o", uma esp�cie de renascimento no qual a cantora deu as m�os � cena que revitalizou a m�sica brasileira.
Mas foi em 2000 que passou por sua mais recente reinven��o. Apaixonou-se novamente, coisa que n�o acontecia desde o relacionamento com Garrincha, por um rapaz 47 anos mais novo. Anderson Lug�o, 25, foi parceiro amoroso e musical. Ajudou Elza a produzir "Do c�ccix at� o pesco�o", uma esp�cie de renascimento no qual a cantora deu as m�os � cena que revitalizou a m�sica brasileira.

O casamento com Lug�o acabou em 2008 e, no mesmo ano, Elza come�ou a namorar Bruno Lucide, 52 anos mais novo. Transgress�o era quase um sobrenome para a artista. �s cr�ticas, ela virava as costas. Ao amor, ela abria a porta. N�o importa a idade. Essa �ltima, ali�s, sempre foi motivo de controv�rsia na vida de Elza, devido a uma s�rie de registros oficiais imprecisos. Mas pouco importa. � como ela explicou ao final do livro: "N�o tenho idade, Zeca, tenho tempo".