Capas de Elifas Andreato s�o obras-primas das artes gr�ficas no Brasil
Ilustra��es ic�nicas deram identidade a LPs de Paulinho da Viola, Chico Buaque e Clara Nunes, al�m de livros de Roberto Drummond e Murilo Rubi�o
Elifas Andreato ficou famoso pelas capas de disco que criou, mas tamb�m chamou a aten��o com trabalhos para o teatro e para a imprensa
(foto: Daniel Alves/CB/D.A Press/12/4/07)
O ilustrador Elifas Andreato, de 76 anos, morreu na madrugada de ter�a-feira (29/3), em S�o Paulo, v�tima de complica��es decorrentes de um infarto.
Um dos nomes mais importantes das artes gr�ficas do Brasil, ele criou capas antol�gicas da MPB. A marca registrada de LPs de Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Chico Buarque, Clara Nunes, Elis Regina, Adorniran Barbosa, Clementina de Jesus, Vinicius de Moraes e Toquinho n�o era apenas a m�sica, mas tamb�m as imagens ic�nicas que os apresentavam ao p�blico.
Ao longo de cinco d�cadas de carreira, Andreato assinou tamb�m v�rias capas de livros, como “O pirot�cnico Zacarias”, de Murilo Rubi�o, “A morte de DJ em Paris”, de Roberto Drummond, e “A legi�o estrangeira”, de Clarice Lispector, lan�ados pela Editora �tica.
O horror da tortura e da ditadura, no tra�o de Elifas Andreato (foto: Elifas Andreato/reprodu��o)
DITADURA
A obra de Elifas Andreato foi marco de resist�ncia durante a ditadura militar, por meio de cartazes de pe�as de teatro, ilustra��es e cerca de 400 capas de LPs e CDs.
Paranaense de Rol�ndia, ele se mudou para S�o Paulo nos anos 1960. Autodidata, fez charges e ilustra��es para publica��es sindicais, trabalhou em diversas revistas da Editora Abril e desenvolveu sua pr�pria linguagem, valorizando a cultura popular brasileira. Era irm�o do ator e diretor de teatro Elias Andreato.
Ilustra��o de Elifas Andreato remete ao universo fant�stico do autor Murilo Rubi�o (foto: Elifas Andreato/reprodu��o)
O jornalista Jo�o Rocha Rodrigues, genro de Elifas, destaca a profunda rela��o entre a vida pessoal do sogro e sua trajet�ria profissional. “Isso fica muito evidente no afeto que est� presente na obra dele. � o afeto que ele tinha pela vida, pelos amigos, pela fam�lia”, comenta.
“Os �ltimos 50 anos de hist�ria da cultura do Brasil foram ilustrados pela obra do Elifas em capas de disco, cartazes de teatro, capas de livro, shows que ele dirigiu, projetos que concebeu, programas de TV com os quais se envolveu. Essa obra conta a hist�ria da cultura do pa�s”, afirma Rodrigues.
Chico Buarque na capa de "Vida", disco lan�ado em 1980 (foto: Elifas Andreato/reprodu��o)
Elifas n�o foi ligado apenas � MPB dos anos 1970/1980. O genro ressalta que ele transitou tamb�m junto �s novas gera��es. Criou, por exemplo, a capa de “Espiral de ilus�o”, CD do rapper Criolo lan�ado em 2017.
“Aquele que melhor ilustrou a alma brasileira foi agora para junto das estrelas e de l� seguir� nos inspirando. Porque a vida tem que ser bonita, sim, e � pra isso que a arte existe! Obrigado mestre, que a terra lhe seja leve!”, despediu-se Emicida, por meio das redes sociais.
Capa do LP Nervos de a�o, de Paulinho da Viola, est� entre as obras mais famosas de Elifas Adreato
(foto: Elifas Andreato/reprodu��o)
POL�TICA E FUTEBOL
LP ''Luz das estrelas'', de Elis (foto: Elifas Andreato/reprodu��o)
“Elifas transitou dentro da sua gera��o, mas tamb�m por muitos campos art�sticos e sociais”, refor�a Jo�o Rocha Rodrigues. “Tem o Elifas engajado na milit�ncia pol�tica, o Elifas engajado no futebol.” Torcedor do Corinthians, o artista gr�fico recebeu homenagens jornalista Juca Kfouri e de Adilson Monteiro Alves, um dos fundadores da Democracia Corinthiana.
Jo�o Rocha Rodrigues lan�ou recentemente o livro “Vai, DJ! – O intrigante caso dos discos perdidos”. A protagonista n�o tem recursos para comprar vinis, mas descobre antigos LPs em casa. Gra�as a eles, depara-se com a hist�ria do pa�s por meio dos tra�os de Elifas Andreato.
Clementina de Jesus: s�mbolo maior da cultura afro-brasileira (foto: Elifas Andreato/reprodu��o)
O artista gr�fico tinha dois filhos, Laura e Bento, e quatro netos. “Ele vai, mas deixa a sua presen�a muito clara em seus ideais e em suas batalhas. Ele vai, mas deixa muita coisa para todos n�s, n�o s� a fam�lia, mas todo o Brasil”, afirma Rodrigues.
“Tudo o que ele tocava com as suas m�os virava coisa colorida, at� a dor que ele sentia era motivo de tinta que sorria”, postou Elias Andreato, irm�o de Elifas, nas redes sociais.
“Sua travessura era zombar da pobreza e de toda a tristeza que ele via. Se o quarto era apertado, ele criava castelos long�nquos. Se a fome era tamanha, ele pintava frutos madurinhos”, lembrou o ator..
* Estagi�rio sob supervis�o da editora-assistente �ngela Faria