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Estado de Minas ARTES VISUAIS

Inhotim recebe 2 � ato de Museu de Arte Negra, criado por Abdias Nascimento

Exposi��o oferece imers�o no pensamento do pan-africanista, que atuou como poeta, escritor, dramaturgo, curador, artista pl�stico e parlamentar


31/05/2022 04:00 - atualizado 30/05/2022 23:52
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Peça 'A história de Carlitos' é lida por atores negros, pertencentes ao grupo Teatro Experimental do Negro
Leitura de pe�a "A hist�ria de Carlitos", de Henrique Pongetti, por integrantes do Teatro Experimental do Negro (foto: Ipeafro/reprodu��o)
O segundo ato do Museu de Arte Negra, idealizado por Abdias do Nascimento (1914-2011), traz o verde de Ox�ssi, orix� das plantas sagradas, para evocar a perspectiva pan-africanista das artes. Intitulado “Dramas para negros e pr�logos para brancos”, o projeto leva para a Galeria da Mata, em Inhotim, o Teatro Experimental do Negro (TEN). Fotos, textos e outros materiais resgatam a hist�ria da iniciativa disruptiva que marcou a luta antirracista no Brasil e o campo das artes.


A parceria entre Inhotim e o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro) permite que o museu concebido por Abdias do Nascimento tenha um espa�o f�sico para exibir obras que ele produziu ou adquiriu ao longo da vida.

MODERNISMO"BRANCO"

A exposi��o inaugural do Museu de Arte Negra ocorreu em 1968, no MIS – Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, marcando os 18 anos da iniciativa criada durante congresso promovido pelo TEN. Ele resgata a perspectiva africana na base do pensamento modernista brasileiro, que embora propusesse ruptura com o academicismo e cria��es europeias, n�o incorporou � discuss�o a contribui��o das matrizes africanas para as artes.

Quadro A flecha do guerreiro Oxóssi, pintado por Abdias do Nascimento, tem fundo verde, folhas e uma flecha estilizada
Quadro "A flecha do guerreiro Ox�ssi" foi pintado por Abdias do Nascimento em 1971 (foto: Ipeagro/reprodu��o)
O primeiro ato em Inhotim foi guiado pela rela��o entre Abdias e o artista pl�stico Tunga (1952-2016), cujas cria��es t�m destaque em Brumadinho. O segundo ato recebe pinturas de Abdias e obras de artistas com os quais ele dialoga – Anna Bella Geiger, Heitor dos Prazeres, Iara Rosa, Jos� Heitor da Silva, Sebasti�o Janu�rio, Oct�vio Ara�jo e Y�damaria.

Desta vez, Inhotim exibe trabalhos que participaram do concurso Cristo Negro, realizado em 1955, cuja exposi��o foi realizada em 1968.

O novo conjunto permite uma imers�o no pensamento do pan-africanista Abdias do Nascimento, que foi poeta, escritor, dramaturgo, curador, artista pl�stico, professor universit�rio e parlamentar. As obras compreendem o per�odo de 1944 a 1968, ano em que ele se exilou nos Estados Unidos devido � ditadura militar no Brasil. No ano de 1968, come�ou a pintar.

O roteiro da exposi��o termina com a despedida a Abdias rumo aos EUA, logo depois de pintar suas primeiras obras no Rio de Janeiro. Outro destaque do acervo � o casaco de tape�aria presenteado pela artista e escritora Iara Rosa para que o carioca pudesse se agasalhar no inverno estadunidense.

Homens negros na rua e dentro de um bar em pintura de Heitor dos Prazeres
Pintura de Heitor dos Prazeres ressalta a negritude do Brasil (foto: Ipeafro/reprodu��o)

INSPIRA��O DOS ORIX�S

O verde de Ox�ssi soma-se ao amarelo-ouro de Oxum, orix� que marcou a expografia do primeiro ato em Inhotim. Ali�s, os orix�s orientam a exposi��o n�o do ponto de vista religioso, mas da perspectiva de conceber a arte a partir de visada afrocentrada.

“O Museu de Arte Negra � um momento de interlocu��o, consolida��o daquilo que � a express�o negra da ancestralidade e do protagonismo da pessoa negra na arte e na epistemologia de uma cultura brasileira, que, na verdade, pouco reconheceu historicamente esse protagonismo”, afirma Elisa Larkin Nascimento, escritora, curadora e diretora do Ipeafro.

Cenário da peça 'O imperador Jones'
Cen�rio de "O imperador Jones", a primeira pe�a encenada pelo Teatro Experimental do Negro (foto: Ipeafro/reprodu��o)


Durante entrevista coletiva, Elisa destacou que o Teatro Experimental do Negro trouxe para as artes a afirma��o das matrizes da cultura africana na luta antirracista. Ela ressaltou que Abdias propunha “realizar a verdadeira aboli��o da escravatura no Brasil”, j� que a primeira foi incompleta no que tange � garantia de direitos dos negros.

A convite de entidades do movimento negro estadunidense, Abdias do Nascimento foi para os Estados Unidos em 1968. No entanto, com a decreta��o do Ato Institucional nº5 (AI-5) e o endurecimento do regime militar no Brasil, n�o p�de voltar ao pa�s. Companheira de Abdias, Elisa Larkin ressalta que o AI-5 impediu o artista de dar sequ�ncia � cria��o de uma sede f�sica para o museu.


O protagonismo negro na dramaturgia

O Teatro Experimental do Negro (TEN) foi criado por Abdias do Nascimento em 1944. No “Segundo Ato”, � poss�vel acompanhar sua trajet�ria, que come�a com a encena��o de “O imperador Jones”, de Eugene O'Neill, em 8 de maio de 1945, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Abdias Nascimento está ajoelhado com as mãos no rosto de Lea Garcia, sentada, na peça Sortilégio - Mistério negro
Abdias do Nascimento e Lea Garcia na pe�a "Sortil�gio - Mist�rio negro" (foto: Carlos Moskovics/Ipeafro/Reprodu��o)
Abdias assistira � pe�a em Lima, no Peru, em 1941, e espantou-se com a “blackface” do protagonista, que trazia o rosto pintado de preto, iniciando assim a reflex�o profunda sobre a presen�a do negro na dramaturgia. Isso o motivou lan�ar as bases da dramaturgia que confere protagonismo ao negro, seja na atua��o, dire��o e escrita de textos teatrais.

Com “O Imperador Jones”, estrelada por elenco negro, Abdias estreou no Teatro Municipal no Rio de Janeiro. O primeiro texto dramat�rgico escrito por ele foi “Sortil�gio – Mist�rio negro”, pe�a que conseguiu montar em 1957, ap�s intensa luta com a censura.

O TEN estreou com a pe�a de O'Neill, autor norte-americano e branco, porque n�o havia na dramaturgia brasileira texto de autor negro em que o negro pudesse exercer protagonismo.

Al�m de abrir espa�o para afrodescendentes nas artes c�nicas, o Teatro Experimental do Negro trouxe a perspectiva pan-africanista.

“Propor a integra��o do negro nesta sociedade, como se j� fosse definida de acordo com tradi��es e crit�rios, � diferente da proposta de construir uma sociedade que de forma significativa e verdadeira incorpore e reconhe�a matrizes ocultadas por uma ideia autorizada de cultura como algo monopolizado pelo homem branco. O TEN traz o artista negro para o palco e para a dramaturgia”, completa Elisa Larkin.

''A roda � a primeira forma em que a gente se encontra e cria comunidade, � intuitivo. A partir disso, passei a pensar como os mobili�rios dos espa�os de candombl� s�o feitos''

Jaime Lauriano, artista, sobre ocupa��o na Inhotim Biblioteca


Nova hierarquia do conhecimento

O artista Jaime Lauriano elaborou a proposta de ocupa��o do Inhotim Biblioteca, estabelecendo di�logo com o “Segundo Ato de Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra”. O artista prop�e um ambiente em que a constru��o do conhecimento n�o se d� a partir de hierarquias dos saberes.

“Os livros s�o meios para encontros”, diz Lauriano ao comentar a ocupa��o, que ficar� em cartaz at� novembro de 2023. Os t�tulos v�o de hist�rias em quadrinhos de autores negros e negras, como o pr�prio Abdias, a trabalhos de importantes pensadores negros da di�spora, como Frantz Fanon (1925-1961).

Artista Jaime Lauriano sentado em meio a banquinhos com capas de livros de autores negros na biblioteca de Inhotim
O artista Jaime Lauriano elaborou a primeira proposta de ocupa��o do Inhotim Biblioteca (foto: M�rcia Maria Cruz/EM/D.A Press)

SEM PRATELEIRA 

Os livros n�o foram colocados em prateleiras. Em vez disso, est�o dispostos em mesas circulares. No formato hexagonal, de madeira e baixos, os bancos podem ser usados separadamente ou em conjunto para criar outros mobili�rios.

“Os livros est�o espalhados e bagun�ados nas mesas para que as pessoas possam acess�-los, tenham vontade de ler, peguem e os usem. A nossa felicidade ser� quando os livros estiverem com marcas de dedos e as p�ginas dobradas”, afirma Lauriano.

O mobili�rio se organiza em c�rculos. “Pensamos uma forma de fugir da racionalidade das bibliotecas, esse empreendimento colonial e euroc�ntrico, sobretudo iluminista franc�s, da hierarquiza��o do conhecimento”, diz.

Jaime revisitou tradi��es de matriz africana para pensar novas maneiras de transmiss�o do conhecimento. “A roda � a primeira forma em que a gente se encontra e cria comunidade, � intuitivo. A partir disso, passei a pensar como os mobili�rios dos espa�os de candombl� s�o feitos.” Os m�veis foram inspirados nos bancos de inicia��o de terreiros de candombl�.


“SEGUNDO ATO DE ABDIAS DO NASCIMENTO E O MUSEU DE ARTE NEGRA”

Instituto Inhotim, em Brumadinho. De quarta a sexta-feira, das 9h30 �s 16h30. S�bado, domingo e feriados, das 9h30 �s 17h30. At� 16 de outubro. Inteira: R$ 44. Meia-entrada v�lida para estudantes identificados, maiores de 60 anos e parceiros do Inhotim. Crian�as de at� 5 anos n�o pagam. � venda na plataforma Sympla


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