
Folhapress
Morreu nesta segunda-feira (17/10) o artista pl�stico Angelo Venosa, de 68 anos, um dos escultores mais expressivos nas artes visuais do Brasil.
O trabalho de Venosa se tornou conhecido a partir da d�cada de 1980, quando passou a realizar obras tridimensionais. Ele foi um dos escultores mais respeitados do per�odo, associando materiais org�nicos e industrializados. O artista morreu em decorr�ncia de Esclerose Lateral Amiotr�fica (ELA), uma doen�a degenerativa.
Ainda no come�o da carreira, o artista paulistano tinha uma preocupa��o construtiva, com esculturas com sustenta��o interna, como v�rtebras de um corpo. Em estruturas gigantes de madeira, ele evocava uma esp�cie de esqueleto encalhado, ou monstros marinhos suspensos no teto, tudo com um tom fant�stico.
Talento da "Gera��o 80"
Venosa foi para o Rio de Janeiro ainda nos anos 1970, e passou a estudar na Escola de Artes Visuais do Parque Lage na d�cada seguinte. Ele fez parte da conhecida "Gera��o 80", que buscou a retomada da pintura no pa�s. Nessa cena art�stica, ele foi um dos raros autores a se dedicar a uma investiga��o espec�fica da escultura.
Foi nos anos 1990 que Venosa expandiu sua pesquisa, trabalhando tamb�m com outros materiais – m�rmore, cera, chumbo, couro, fibras de vidro e at� dentes de animais. Suas esculturas ganharam formas de estruturas anat�micas, e alargaram o vocabul�rio de formas vegetais e animais com que o artista trabalhava at� ent�o.
"� como construir uma silhueta, um esqueleto que depois ganha corpo", disse Venosa, em 2013. "Tem uma coisa meio esquisita, h�brida, um galho que vira coisa constru�da."
Uma das mostras mais amplas do artista no Brasil aconteceu entre 2012 e 2013, com trabalhos que mostravam essa virada de figuras animalescas que foram perdendo suas estruturas, at� beirarem a abstra��o.

A exposi��o come�ou no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em comemora��o aos 30 anos de carreira de Venosa. Em 2013, suas obras foram para a Esta��o Pinacoteca, em S�o Paulo.
O Museu de Arte Contempor�nea da Universidade de S�o Paulo, o MAC, tamb�m mostrou trabalhos mais recentes do artista na inaugura��o de "Clareira", programa��o permanente no espa�o t�rreo da institui��o.
Os exosqueletos gigantes, ora com uma pel�cula clara e fina, ora com um pigmento denso e sombrio, atravessavam a pr�pria estrutura do museu. Alguma das estruturas que come�avam no ambiente interno ganhavam continuidade do lado de l� do vidro que separa o pr�dio, como se penetrasse o edif�cio.
Impressora 3D
O trabalho de Venosa tamb�m foi permeado por tecnologias mais recentes – ele se dizia apaixonado por novos recursos. Em exposi��o na galeria Nara Roesler, realizada em 2016, parte das esculturas do artista foi feita com uma impressora 3D.
Ele, ali�s, usava computadores para auxiliar na constru��o de suas obras desde 1988, e come�ou a trabalhar com a modelagem 3D ainda em 2009.
"Utilizo (a impressora) de forma mais tosca, � a impress�o sujeita aos dessabores da t�cnica", disse ele, em 2016. Na mesma ocasi�o, afirmou que a tecnologia n�o era seu foco, apesar da proximidade com esses recursos. "A arte �s vezes tem um excesso de sentido e eu quero menos sentido, busco uma certa opacidade. Acho que estou atr�s de algo que n�o existe", afirmou.
Venosa tamb�m se destacou em grandes exposi��es, como a Bienal de S�o Paulo de 1987 e a Bienal de Veneza de 1993. O artista tamb�m fez parte da Bienal do Mercosul e de mostra sobre arte brasileira do s�culo 20 em Paris, no final dos anos 1980.
Recentemente, a Funda��o Museu Reina Sof�a, em Madri, na Espanha, recebeu 20 obras de arte de artistas brasileiros doadas pela Cole��o Patricia Phelps de Cisneros, com trabalhos de Venosa, Nuno Ramos e Ros�ngela Renn�.
O artista negou que suas obras fa�am refer�ncias a coisas reais, mesmo que lembrem essas estruturas fant�sticas de uma fauna e uma flora pr�prias. "Fiz os trabalhos sem pensar em nada", disse ele. "� uma liberdade imagin�ria."