Artista monta exposi��o a partir de foto de beb� descartada em ca�amba

O artista pl�stico Marco Tulio Resende n�o pode ver uma ca�amba na rua. Adora mexer e guardar coisas que os outros jogaram fora. H� 15 anos, numa dessas incurs�es, se deparou com uma pilha de descartes de uma gr�fica. Eram centenas de reprodu��es da imagem de uma crian�a chorando. Tal material foi conservado, como outros tantos, em seu ateli� no Bairro Sion. 

“Hiato”, exposi��o que ser� aberta neste s�bado (19/11), na galeria da Escola Guignard, � fruto desta expedi��o de Resende aos seus guardados. A mostra re�ne 180 imagens criadas pelo artista a partir da fotografia da crian�a reproduzida. S�o interfer�ncias em desenho e pintura, quase todas de pequena dimens�o (25cm x 20cm). H� seis imagens maiores, de 90cm x 60cm, produzidas a partir de impress�o digital.

“Esta exposi��o tem um car�ter diferente, pois veio em quest�o da pandemia. No in�cio (da crise sanit�ria), quando todo mundo estava arrumando arm�rio, encontrei a pilha. Achei que faria colagens a partir do material, mas, quando vi a imagem da crian�a chorando, percebi que era um reflexo dos tempos que est�vamos vivendo. Solid�o, desespero, falta de perspectiva. E isso n�o era s� em rela��o � COVID, mas tamb�m no sentido pol�tico, filos�fico, art�stico. Parece que a humanidade havia dado uma parada para pensar”, afirma Resende.

O material foi produzido entre 2020 e 2021. O artista trabalhou com as 300 reprodu��es que havia coletado – um n�mero menor est� sendo exposto porque a dimens�o da galeria n�o comporta todo o trabalho. Aposentado da Guignard desde 2019 – graduado na escola em 1974, atuou como professor da institui��o durante 37 anos –, Resende viu que o trabalho tinha que ser mostrado neste momento. “Se o assunto esfriar, ele n�o teria mais tanto impacto.”

A curadoria de “Hiato” � de Augusto Fonseca, que destaca no texto da apresenta��o da mostra “a for�a gr�fica estabelecida pelo artista, na qual, disposto a procurar uma sa�da para a fragilidade que a base do suporte e do momento ofereceram, realizou um invent�rio de novas possibilidades”.

Em 50 anos de carreira, Resende nunca foi de utilizar muita cor. “Como a impress�o da imagem era em um preto e branco meio esverdeado, trabalhei pretos, brancos e cinzas, tanto na tinta acr�lica quanto com carv�o e grafite. Mantive a unidade para fazer um bloco s�. Acho que ele funciona como um grande trabalho.” 

Resende comenta que al�m da quest�o pontual, do mal-estar geral no mundo, “Hiato” tamb�m se relaciona com sua obra, pois trata da mem�ria. “Trabalho n�o s� a mem�ria afetiva, mas tamb�m aquela que nos faz quem somos, a maneira como percebemos o mundo. Todos temos muitos ‘eus’: o temporal, da �poca EM que vivemos; o DNA; a heran�a familiar. Tudo influencia muito a gente”, afirma.

Individual de Marco Tulio Resende. Abertura neste s�bado (19/11), das 11h �s 14h, na galeria da Escola Guignard – Rua Asc�nio Burlamaque, 540, Mangabeiras. Entrada franca. At� 16 de dezembro