Livro premonit�rio de Jos� Jobim sobre Hitler, lan�ado em 1934, � reeditado
Rep�rter que vivia na Europa relatou atrocidades nazistas, mas Hitler foi blindado delas por propinas pagas por Goebbels a jornais e ag�ncias noticiosas
Livro do jornalista Jos� Jobim mostra como Hitler e aliados minaram a democracia alem� para instalar o nazismo (foto: AP)
Uma boa pergunta consistiria em saber se a perf�dia moral do nazismo j� era conhecida quando Adolf Hitler chegou ao poder ou se, ao contr�rio, foi preciso esperar que historiadores e ju�zes do Tribunal de Nuremberg reunissem as informa��es que at� hoje nos chocam de modo superlativo.
E a boa resposta seria a seguinte: a monstruosidade do nazismo j� era plenamente exercida quando, no in�cio de 1933, Hitler foi nomeado para a chefia do governo alem�o. Tanto que o bom jornalismo relatava em detalhes os horrores que aconteciam.
Um dos rep�rteres competentes daquela �poca foi Jos� Jobim, que em 1934 reuniu reportagens no livro “Hitler e seus comediantes na tragicom�dia: O despertar da Alemanha”, h� pouco reeditado pela Topbooks.
Assassinato
O autor, paulista de Ibitinga, prestou em seguida concurso para o Itamaraty. Durante a carreira de diplomata foi embaixador na Col�mbia, na Arg�lia, no Vaticano e no Equador. Foi assassinado em 1979, por reunir material para um livro sobre a corrup��o na constru��o da usina de Itaipu.
Jornalista e diplomata, Jos� Jobim foi assassinado em 1979 por reunir material sobre corrup��o na Usina de Itaipu (foto: Memorial Jos� Jobim/reprodu��o)
A causa verdadeira de sua morte foi relatada apenas anos depois, pela Comiss�o Especial sobre Mortos e Desaparecidos do regime militar.
Mas voltemos � Alemanha, onde crimes semelhantes eram recorrentes. Jobim teve acesso f�cil, em 1933, a informa��es sobre a administra��o nazista. E por que n�o foi tamb�m esse, ent�o, o comportamento de toda a m�dia a brasileira?
O correspondente nos conta que Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda do Terceiro Reich, distribu�a propina a jornais, ag�ncias de not�cia e jornalistas para que falassem bem de Hitler e escondessem as safadezas que ele cometia.
Por exemplo, o inc�ndio do Reichstag, o Parlamento, em Berlim, em 28 de fevereiro de 1933. O fogo foi atribu�do mentirosamente a um ex-comunista holand�s, Marinus van der Lubbe. Mas quem o acendeu foi o comando que entrou de madrugada no pr�dio, por meio de uma passagem subterr�nea que sa�a dos aposentos de Hermann Goering – viciado em coca�na, diz Jobim –, um dos homens de confian�a de Hitler.
Vejamos o contexto. Naquele m�s de fevereiro, a Alemanha ainda era formalmente uma democracia e se preparava para elei��es em que os comunistas poderiam ultrapassar em n�mero de deputados a bancada dos nazistas. O inc�ndio foi o pretexto para prender deputados comunistas, proibir seus jornais, vetar ao partido o acesso �s emissoras de r�dio e criminalizar sua exist�ncia.
Para tanto, e mais uma vez, a operacionalidade suja foi entregue �s Sturmabteilung, as SA, mil�cia armada do Partido Nacional-Socialista que seria depois respons�vel pelo exterm�nio de judeus e opositores nos campos de concentra��o.
“Livro Pardo”
As SA tamb�m exerciam o poder ilimitado de pol�cia. Jobim cita o “Livro Pardo”, esp�cie de comp�ndio de viola��es alem�s dos direitos humanos que aponta 60 mil casos de tortura nos meses iniciais da consolida��o do nazismo.
O jornalismo p�e em evid�ncia curiosidades que nos anos seguintes historiadores considerariam menos relevantes. Jobim, que trabalhava para v�rios jornais, informa, por exemplo, que brochuras com textos da oposi��o circulavam com capas em que apareciam uma catedral g�tica alem� ou o rosto de atrizes de cinema. Entre os dados mundanos, o primeiro congresso do Partido Nazista j� no poder transportou delegados em 340 trens especiais e nele foram consumidos 500 mil quilos de salsichas.
Mas o nazismo foi um suic�dio da intelig�ncia alem�. O f�sico Albert Einstein precisou se exilar por ser judeu, e viu seus livros queimados na Universidade de Berlim.
O V�lkischer Beobachter, jornal que o pr�prio Hitler dirigia, informou em maio de 1933 que 600 mil toneladas de livros e revistas haviam sido confiscados e parte deles queimada – entre as v�timas, romances de Thomas Mann, Nobel de Literatura.
Grandes professores foram demitidos e tinham seus passaportes confiscados, para n�o poderem lecionar ou pesquisar em pa�ses estrangeiros.
Em meio a 10 mil bibliotecas particulares, foram queimados manuscritos antigos do Instituto de Pesquisas Sexuais Magnus Hirschfeld, na �poca singular em toda a Europa, acusado pelo governo de “colecionar material pornogr�fico”.
Mulher ariana
Jobim ainda menciona o lado tosco da idealiza��o da mulher como m�e ariana, desestimulada a voltar ao mercado de trabalho, para onde a gera��o anterior se encaminhou em raz�o do deslocamento dos homens para as trincheiras da Primeira Guerra.
A mulher sob o nazismo pertence essencialmente ao lar, onde cuida moralmente dos filhos, que o Estado tamb�m escolariza por meio do ensino ideol�gico do totalitarismo.
H� o exemplo esquisito de um garoto de 10 anos, filho de imigrantes uruguaios e que se chamava Jos�. Na escola, o garoto contou ao jornalista que colegas que se comportavam mal eram cercados e amea�ados: “Voc� n�o passa de um judeu”.
(foto: Topbooks/reprodu��o
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“HITLER E SEUS COMEDIANTES NA TRAGICOM�DIA: O DESPERTAR DA ALEMANHA”
.De Jos� Jobim
.Topbooks
.158 p�gs.
.R$ 69,90
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