Stephen King acerta de novo com o seu livro "Conto de fadas"
Romance mescla fantasia e suspense para contar a hist�ria de jovem cuja vida pacata sofre reviravolta quando descobre um reino em outro mundo
24/12/2022 04:00
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atualizado 23/12/2022 23:07
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Novo livro do escritor americano Stephen King oferece fantasia e surpresas ao leitor (foto: Shane Leonard/divulga��o)
Stephen King n�o faz absolutamente nenhum esfor�o para ser original em “Conto de fadas”, seu mais recente romance. E, por incr�vel que pare�a, dentro da l�gica que o escritor americano estabelece para a narrativa, a abordagem n�o � sinal de pregui�a ou in�pcia, mas uma tocante profiss�o de f� no poder da fantasia.
� claro que King n�o tirou essa profiss�o de f� do nada. N�o � exagero dizer que, desde pelo menos os anos 1950, alguns dos maiores best-sellers de l�ngua inglesa nasceram da decis�o de recriar os contos de fadas para o p�blico moderno – a lista inclui J.R.R. Tolkien, C.S. Lewis, Ursula K. Le Guin e Neil Gaiman, entre muitos outros.
Ainda que o autor de “It: A Coisa” n�o tenha a mesma sofistica��o liter�ria de alguns dos membros dessa lista, � dif�cil resistir ao arroz com feij�o muito bem temperado de sua trama, ou � voz narrativa peculiar do protagonista, o adolescente Charlie Reade, de 17 anos.
Morador de uma cidadezinha do Meio-Oeste americano, n�o muito longe de Chicago, Charlie leva, de in�cio, uma vida quase completamente prosaica ao lado do pai. Os dois superaram o trauma da morte da m�e do garoto num acidente, alguns anos antes, e Charlie parece prestes a conseguir uma vaga numa universidade de prest�gio.
Essa rotina pacata � alterada quando um vizinho deles, o idoso e recluso Howard Bowditch, sofre fraturas graves nas pernas ao cair da escada em seu quintal. Charlie � o primeiro a socorrer Bowditch e se torna o cuidador do vizinho e de seu bicho de estima��o, a f�mea de pastor alem�o j� velhinha chamada Radar.
Com esse come�o, as expectativas do leitor s�o habilmente manobradas para que ele acredite estar diante de um daqueles dramas a�ucarados que povoam a TV no fim de ano. “Amizade improv�vel entre jovem e idoso faz com que os dois entendam o sentido da vida”, diria a sinopse do filme. Bem, mais ou menos.
Mist�rios da casa sinistra
Ocorre que a fama sinistra da casa do velho entre a vizinhan�a acaba se revelando justificada. Bowditch n�o apenas esconde uma fortuna em pelotas de ouro como tamb�m o barrac�o que cont�m a entrada para um outro mundo, conforme Charlie descobre quando seu novo amigo morre.
Os segredos n�o terminam a�, por�m. Em uma grava��o que fez pouco antes de morrer, Bowditch conta que essa realidade paralela abriga um rel�gio solar capaz de rejuvenescer os seres vivos – foi isso o que permitiu que ele vivesse at� os 120 anos mantendo apar�ncia muito mais jovem.
Para salvar a vida da cadela Radar, a quem ele se afei�oou e que tamb�m est� muito doente, Charlie se disp�e a visitar esse outro mundo.
� nesse ponto que a hist�ria sofre a guinada decisiva – ali�s, de inspira��o plat�nica, que lembra muitos elementos de “As cr�nicas de N�rnia”, de C.S. Lewis. E se todos os contos de fadas que conhecemos na Terra, narrados pelas mais diferentes culturas, n�o passassem, no fundo, de ecos de hist�rias reais que est�o se desenrolando o tempo todo em outro mundo? E se todos f�ssemos essencialmente criaturas feitas de hist�rias, capazes de intuir a verdade essencial por tr�s de cada lenda ou mito?
� mais ou menos isso o que Charlie e Radar descobrem ao adentrar o reino de Empis, regi�o em que belas sereias, an�es malevolentes – como o c�lebre Rumpelstiltskin dos contos dos irm�os Grimm –, gigantes e outras criaturas m�gicas s�o reais.
Aqui, King n�o tem medo de ser ecl�tico em suas refer�ncias. Al�m dos irm�os Grimm e do mundo de N�rnia, “O m�gico de Oz” e as narrativas de horror c�smico de H.P. Lovecraft trazem elementos importantes para retratar a mistura de familiaridade e tremenda estranheza que caracteriza aquele mundo.
O Mal com M mai�sculo que est� contaminando os habitantes de Empis tem os elementos que nos acostumamos a ver no Sauron de “O senhor dos an�is”, no Darth Vader de “Star Wars” ou em qualquer grande monstro da fic��o cient�fica que tende a enxergar os seres humanos como s� mais um tipo de carne a ser consumida.
Pr�ncipe e her�i
Charlie, que � s� um garoto comum de 17 anos, no m�ximo um pouco mais atl�tico do que a m�dia, de repente se v� na posi��o normalmente ocupada pelos pr�ncipes heroicos das antigas hist�rias. E � sua generosidade inicial, a incapacidade de ficar de bra�os cruzados enquanto crueldades e injusti�as acontecem, que devagar o transformam num pr�ncipe de verdade – inclusive fisicamente.
Decerto, � uma vis�o simplista de como a realidade funciona, mas n�o se pode negar o refrig�rio trazido por uma hist�ria t�o isenta de cinismo quanto essa. Como algu�m j� disse, contos de fadas n�o s�o verdadeiros por dizerem que drag�es existem, mas porque dizem que eles podem ser derrotados. (Reinaldo Jos� Lopes – Folhapress)
(foto: Reprodu��o)
"CONTO DE FADAS"
. De Stephen King
. Editora Suma
. 624 p�ginas
. R$ 94,90
. R$ 49,90 (e-book)
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