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Estado de Minas ARTES VISUAIS

Fot�grafo Richard Mosse retrata com c�mera especial cat�strofe na Amaz�nia

Imagens do livro 'Broken spectre' foram feitas com equipamento usado por mineradoras para achar ouro. 'Regi�o de Manaus j� virou savana', alerta Mosse


28/12/2022 04:00 - atualizado 27/12/2022 22:05

Foto de Richard Mosse com câmera especial mostra parte sadia da floresta amazônica, em vermelho, e área desmatada, em preto
O vermelho das fotos de Richard Mosse n�o vem de filtros, mas da tecnologia que detecta riquezas e destrui��o na floresta tropical (foto: Richard Mosse/reprodu��o)
 

 

A Amaz�nia vermelha que se desprende das fotografias de Richard Mosse n�o � produto de um filtro especial na c�mera ou de uma manipula��o de cores em um computador na p�s-produ��o.


O que se v� ali � a realidade mais crua da floresta tropical. � literalmente como madeireiras, mineradoras e fazendeiros veem a regi�o. Trata-se da Amaz�nia vista atrav�s de uma c�mera multiespectral, a mesma usada por essas empresas em busca de recursos naturais, e, agora, por Richard Mosse em seu trabalho “Broken spectre”, que ganha livro bil�ngue, exposi��es pelo mundo e tamb�m um filme.


Como artista, Mosse pretendeu relatar “a enorme cat�strofe que � a mudan�a clim�tica e a prov�vel extin��o da ra�a humana”, diz ele. “Os cientistas nos deram as informa��es, mas a narrativa n�o era percept�vel. Estava al�m da percep��o humana no dia a dia. Mas o aquecimento global est� acontecendo agora, e n�o daqui a 50 anos.”

 

Foto de Richard Mosse, feita com câmera especial na Amazônia, mostra área de floresta em vermelho e rio azul-piscina
�gua tamb�m � riqueza amea�ada na Amaz�nia (foto: Richard Mosse/reprodu��o)
 

Alarme sobre crimes

Assim, o fot�grafo passou os �ltimos quatro anos – justamente os do governo Jair Bolsonaro – em viagens ao Brasil usando uma variedade de t�cnicas que pudessem ajudar a soar o alarme sobre os crimes ambientais na Amaz�nia. A c�mera multiespectral, a que transforma o verde das �rvores em vermelho, v� as cores de modo diferente do olho humano.


“Cientistas se valem de imagens multiespectrais para estudar a floresta. Fazendeiros a usam para ver onde suas planta��es est�o saud�veis e onde est�o morrendo. Mineradoras descobrem onde pode haver ouro ou tungst�nio. Na Amaz�nia, em qualquer cidadezinha na beira da estrada, tem uma lojinha onde um cara aluga drone com essa c�mera para que os propriet�rios ou invasores possam explorar a floresta”, conta ele.


A ideia de usar a pr�pria ferramenta da explora��o como forma de arte n�o � nova na carreira de Mosse, fot�grafo irland�s de 42 anos baseado em Nova York. Um de seus trabalhos recentes foi a crise dos refugiados na Europa. Entre 2014 e 2016, ele fez uma s�rie fotogr�fica chamada “Incoming”, usando c�meras militares capazes de perceber a temperatura de um corpo humano a 30 quil�metros de dist�ncia. O resultado, monocrom�tico, revelava os imigrantes de forma fantasmag�rica e pouco humana.


“� importante encontrar novas maneiras de contar hist�rias”, afirma Mosse. “No caso, usei essa paleta de falsas cores para contar essa hist�ria. A defloresta��o est� acontecendo agora. Segundo Philip Fearnside (bi�logo norte-americano que morou anos na regi�o), fotos de sat�lite indicam que em 10 anos a floresta estar� t�o degradada que passar� de floresta chuvosa a savana. A regi�o de Manaus j� virou savana.”


Outra t�cnica do fot�grafo, no caso das imagens em preto e branco, foi usar um filme descontinuado em 1999 pela Kodak chamado high speed infrared. “Os poucos rolos que ainda existem s�o m�ticos. Ele � muito sens�vel ao calor. Ent�o, fotografar fogueiras com esse equipamento � loucura. Mas, como artista, isso traz uma degrada��o ao material final que ajuda a contar a hist�ria.”

 

Onça em tratamento, com as patas enfaixadas, fotografada por Richard Mosse
Imagens em preto e branco foram feitas com filme hipersens�vel que a Kodak deixou de produzir (foto: Richard Mosse/reprodu��o)
 


H� ainda a leva de fotografias do mundo min�sculo dos insetos e ra�zes, tiradas a partir de outra t�cnica de cientistas que captura imagens em ultravioleta.


O livro “Broken spectre” est� saindo em edi��o bil�ngue, ingl�s/portugu�s, pela Loose Joints, editora baseada em Marselha e em Londres, especializada em livros de arte fotogr�fica.

 

Al�m das 392 p�ginas do livro principal, acompanha um livreto de 48 p�ginas com textos de Txai Suru�, l�der ind�gena brasileira, e Jon Lee Anderson, jornalista americano especializado na Am�rica, entre outros, al�m de legendas para as fotos.


Al�m do livro, h� tr�s exposi��es programadas, duas em andamento: a do 180 Studios, em Londres, at� 30 de dezembro, e outra na National Gallery of Victoria, em Melbourne, Austr�lia, at� 23 de abril de 2023. A terceira mostra ser� aberta em 24 de agosto de 2023 na Converge 45 Biennial, em Portland, nos Estados Unidos.

 

Fotógrafo Richard Mosse ao lado de uma câmera
Richard Mosse construiu c�mera especial para filmar a Amaz�nia (foto: Reprodu��o/youtube)

'Nesse western atual, 80% da floresta est� sendo usada para produzir pasto e carne barata. E ela nem alimenta o povo brasileiro, mas sim os Burger Kings da Europa. Politicamente, Bolsonaro e Ricardo Salles est�o vendendo o patrim�nio do pa�s para gente de fora sem que nada retorne aos brasileiros'

Richard Mosse, fot�grafo

 

Filme revela o complexo “faroeste” brasileiro

As exposi��es tamb�m recebem o filme “Broken spectre”, de 74 minutos, que Richard Mosse dirigiu a partir de filmagens feitas nos locais em que fotografava. Para essa obra, ele acompanhou fazendeiros colocando fogo na vegeta��o, mineradores buscando ouro, madeireiros cortando �rvores e at� registrou o funcionamento de um matadouro de bois em Porto Velho, em Rond�nia.


� um filme contemplativo, que alterna imagens em preto e branco com outras de suas c�meras especiais. Na verdade, Mosse teve que criar uma c�mera multiespectral que gravasse v�deo, uma vez que at� ent�o s� existiam aquelas que tiravam fotos. “Constru� a multiespectral capaz de fotografar 24 quadros por segundo e a colocamos no nariz de um helic�ptero.”

A �nica cena do filme em que h� voz � quando a ianomami Adneia faz um violento discurso para a c�mera de Mosse. Sua tribo se envolveu numa escaramu�a com mineradores que terminou em v�rias mortes. Desde ent�o, o conflito � permanente. Ela xinga os pol�ticos, pede ajuda do Ex�rcito, questiona a raz�o de os brancos invadirem suas terras e chama o presidente de “sujo”, entre outras coisas.


Mosse admite que a complexidade social da Amaz�nia hoje n�o permite que se olhe os brancos simplesmente como invasores sem consci�ncia. A partir do momento em que fam�lias foram levadas para a regi�o, h� cinco d�cadas, duas novas gera��es nasceram ali e lutam para sobreviver.


“N�s n�o poder�amos ter feito esse trabalho sem nos aproximarmos dos agricultores, dos mineradores, das pessoas que cortam �rvores. Eles n�o fazem performance para nossas c�meras. Eu fiquei pr�ximo a muitos deles, amigo, e alguns deles s�o muito orgulhosos dos pap�is que desempenham e de como proveem suas fam�lias.”


“A maioria vive sem eletricidade, mas quer ter picapes, aspira a ser grande fazendeiro. Tenho 100% de respeito por todas as pessoas que filmei ou fotografei, inclusive aqueles que cortam �rvores. � uma quest�o cultural e essa ambiguidade � mostrada no filme”, afirma Mosse.

 

Imagem de árovores da floresta amazônica em preto e brnaco
A floresta em preto e branco (foto: Richard Mosse/reprodu��o)
 

Trilha sampleada com plantas e insetos

Nas exibi��es, “Broken Spectre” � projetado em duas telas bem horizontais, uma ao lado outra, e o som da floresta � distribu�do por 20 alto-falantes. H� m�sica tamb�m, do compositor Benjamin Frost. A exemplo de Mosse, Frost utilizou t�cnicas especiais nesse trabalho, sampleando sons de insetos e da vegeta��o para criar sua paleta sonora.


“Quer�amos fazer um western”, diz ele. “O que vemos hoje na Amaz�nia � o que aconteceu nos Estados Unidos na �poca do faroeste, pioneiros conquistando �reas selvagens e destruindo o que havia ali antes. Nos anos 1970, a ditadura brasileira construiu a Transamaz�nica e transferiu pessoas que moravam no sul do pa�s para desenvolver a regi�o. Mas odeio essa palavra, desenvolver, pois a floresta j� estava sendo desenvolvida pelos ind�genas ao seu pr�prio modo”, afirma.

“Nesse western atual, 80% da floresta est� sendo usada para produzir pasto e carne barata. E ela nem alimenta o povo brasileiro, mas sim os Burger Kings da Europa. Politicamente, Bolsonaro e Ricardo Salles est�o vendendo o patrim�nio do pa�s para gente de fora sem que nada retorne aos brasileiros. � muito triste ver isso, que os brasileiros n�o ganham nada com esse 'desenvolvimento'. Os lucros s�o gigantescos e quem ganha � Wall Street, quem ganha s�o os bancos americanos. � muito perturbador”, diz o autor.

“BROKEN SPECTRE”

. De Richard Mosse
. Editora Loose Joints
. 392 p�ginas
. Com livreto de 48 p�ginas
. Pre�o: 49 libras. Taxa de entrega de 29 euros no Brasil
. Informa��es em https://loosejoints.biz/products/broken-spectre


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