Ângela Lago sentada ao ar livre

�ngela Lago posou para as lentes do Estado de Minas em 2014, quando passou a viver em Biribiri, distrito de Diamantina

T�lio Santos/EM/D.A.Press


Mergulhar na obra da mineira �ngela Lago (1945-2017) � ser convidado a fazer infer�ncias, dedu��es e questionamentos a respeito dos mais diversos assuntos. Uma das mais importantes ilustradoras e autoras de livros infantis do pa�s, ela foi precursora da ideia de que as ilustra��es deveriam acrescentar informa��es que completassem o que o texto escrito dizia, e n�o apenas repetir o que j� foi dito.

"A �ngela n�o subestimava o leitor”, afirma a tamb�m ilustradora Marilda Castanha. As duas foram contempor�neas na Editora Miguilim, no final da d�cada de 1980 e in�cio dos anos 1980. 
“Ela sempre me dizia para n�o suavizar meus desenhos nem ‘adocic�-los’. E, de fato, eu reparava que ela n�o fazia isso nas obras dela. Era uma forma de instigar o leitor a fazer as dedu��es e questionamentos dele”, diz.

A proximidade entre as duas fez com que Marilda fosse a convidada para a terceira edi��o deste ano do “Letra em Cena. Como ler”, em homenagem a �ngela Lago, que ser� realizada nesta ter�a-feira (13/6), no Caf� do Centro Cultural Unimed-BH Minas. 

Marilda vai conversar com o curador do programa, o jornalista Jos� Eduardo Gon�alves, e com o p�blico sobre a trajet�ria de �ngela. Na ocasi�o, tamb�m ser� realizada leitura dramatizada de textos da homenageada pela atriz Juliana Daher.

Marilda Castanha encara a câmera

Admiradora de �ngela Lago, a ilustradora Marilda Castanha foi sua contempor�nea na editora Miguilim

Arquivo pessoal

'�ngela dizia que o melhor escritor para crian�as era (Lu�s da) C�mara Cascudo. Nunca entendi muito bem aquilo, porque ele era um historiador e pesquisador denso, nunca produziu nada para o p�blico infantil. S� depois entendi que o que �ngela queria dizer � que as hist�rias populares e de folclore s�o as mais instigantes para o p�blico infantil'

Marilda Castanha, ilustradora



Natural de Belo Horizonte, �ngela era formada em servi�o social e n�o tinha pretens�es de se tornar escritora. Antes de publicar seu primeiro livro, fez especializa��o em psicopedagogia infantil nos EUA, mudou-se para a Venezuela, onde deu aulas na Escola de Servi�o Social da cidade de Puerto Ordaz, e, em seguida, partiu para a Esc�cia para estudar artes gr�ficas.

Somente quando voltou ao Brasil, a partir da segunda metade da d�cada de 1970, que �ngela ensaiou os primeiros passos na literatura, publicando poemas no “Suplemento Liter�rio de Minas Gerais”, � �poca editado por Murilo Rubi�o (1916-1991).

“O fio do riso”, seu primeiro livro, saiu em 1980. Baseado no mito de Orfeu e Eur�dice, ele conta a hist�ria de Nina, uma menina que, por se sentir entediada, telefona para um n�mero aleat�rio. Do outro lado da linha, quem atende � a fada Plimpinar, que prop�e a Nina uma viagem a um reino encantado. A �nica condi��o imposta � que a garota n�o ria do que encontrar pelo caminho. Assim como Orfeu, Nina n�o consegue cumprir o combinado e acaba sofrendo as consequ�ncias disso.

“Os detalhes s�o algo com que �ngela sempre teve cuidado”, comenta Marilda. “Ela tinha toda uma aten��o e preocupa��o com a arquitetura da p�gina, com o que vinha depois. Por isso, toda rasura, risco e rabisco eram aproveitados. Nada era desperdi�ado”.
 

Embora tenha ficado em segundo lugar no Pr�mio Jabuti (2010), com "Marginal � esquerda", foi com a adapta��o do livro b�blico “C�ntico dos c�nticos” que �ngela alcan�ou maior popularidade, em 1992.

Inspirada em desenhos e xilogravuras do holand�s Maurits Cornelis Escher (1898-1972), a vers�o que a brasileira fez de “C�ntico dos c�nticos” n�o conta com nenhum texto escrito e, al�m disso, pode ser lida de tr�s para a frente ou vice-versa, afinal, o encontro entre o casal ocorre nas p�ginas centrais.

“Esse livro b�blico era o que mais havia tocado �ngela em sua adolesc�ncia. Desde essa �poca, ela sonhava em traduzi-los em imagens”, lembra Marilda, acrescentando que a obra, al�m de falar sobre o amor de um casal, traz detalhes t�picos de cidades do Oriente M�dio no intuito de contextualizar a obra.
 
Menino carregando presente é cercado por pessoas acusadoras, como monstros, em ilustração de Angela Lago, feita para o livro Cena de rua

Detalhe da ilustra��o de Angela Lago criada para o livro 'Cena de rua'

Angela Lago/reprodu��o
 

Refer�ncias aos cl�ssicos da literatura e das artes pl�sticas s�o uma constante nas obras de �ngela Lago. No entanto, todas essas alus�es serviam para contar hist�rias que tivessem ra�zes populares.

"Em diversas ocasi�es, a �ngela dizia que o melhor escritor para crian�as era (Lu�s da) C�mara Cascudo. Nunca entendi muito bem aquilo, porque ele era um historiador e pesquisador denso, nunca produziu nada para o p�blico infantil. S� depois entendi que o que �ngela queria dizer � que as hist�rias populares e de folclore s�o as mais instigantes para o p�blico infantil”, comenta Marilda.

“� interessante porque, se voc� mergulhar na obra dela, vai perceber que s�o justamente hist�rias populares, mas com v�rias refer�ncias cl�ssicas e eruditas. Fica claro que ela era uma grande leitora”, observa.

LETRA EM CENA. COMO LER ANGELA LAGO

Com Marilda Castanha. Leitura de textos por Juliana Daher. Nesta ter�a-feira (13/6), �s 19h, no Caf� do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Entrada franca, mediante retirada de ingressos no site do Sympla. Informa��es: (31) 3516-1360.