Viaduto Santa Tereza foi passarela e palco, recebendo a multid�o e emprestando seu charme hist�rico a shows de rap realizados sob a pista
A Virada Cultural foi de todo mundo mesmo. At� de S�o Pedro. Depois de exato um m�s de estiagem, Belo Horizonte teve uma pancada de chuva no in�cio da tarde de domingo (20/8). Atrapalhou um pouco, mas n�o arrefeceu os �nimos. A �gua s� caiu com mais for�a � noite, quando a festa j� havia acabado.
Menor, se comparada �s gigantescas edi��es dos primeiros anos, que chegaram a elencar at� 600 atra��es (muitas delas de fora), a Virada de 2023 fez a gente gostar mais da pr�pria cidade. E se reconhecer nela, em um simples caminhar pelo Hipercentro durante a noite na BH que “acendeu” por meio de proje��es nos pr�dios.
Pr�dios do Centro de BH se iluminaram com proje��o de obras de artistas do audiovisual
O grande aproveitamento do Parque Municipal, que se dividiu em seis n�cleos de atra��es, foi um dos pontos de destaque. O nome dado ao principal palco, Gramado, foi tamb�m um convite para que as pessoas estirassem suas cangas e curtissem os shows como quisessem.
Um time de jovens e poderosas cantoras – Augusta Barna, Coral e Clara X Sofia – tornou a noite de s�bado mais pop. “� um palco democr�tico, para todo mundo, que � o que todo artista quer”, comemorou Clara, que se apresentou com Sofia pela terceira vez na Virada.
P�blico ficou � vontade no Parque Municipal
O domingo celebrou a m�sica de raiz – seja a caipira, de Chico Lobo; a de refer�ncia afromineira, caso de Maur�cio Tizumba e Babadan Banda de Rua; o afrobeat, com Funmilayo; ou o jazz tradicional, com a Magn�lia Brass Band.
Outro palco, em frente ao Teatro Chico Nunes (de portas abertas), recebeu nomes celebrados de BH, Juarez Moreira, Affonsinho e Thiago Delegado entre eles. Virada n�o � s� m�sica, e isso ficou claro com as deliciosas sess�es de cinema (com pipoca � vontade e de gra�a) ao ar livre.
A Avenida Assis Chateaubriand, durante o dia de ontem, virou um parque de divers�es sobre rodas. Obrigat�rio em toda edi��o da Virada, o Mundialito de Rolim� do Abacate levou um monte de gente grande a voltar a ser crian�a com os carrinhos de madeira. Grandes blocos de feno foram colocados nas laterais da avenida para dar apoio a motoristas menos experientes – ou mais ousados.
Tinha rolim� para todo tipo, mas nenhum deles bateu a “Kombinha da Vovozinha”, carrinho azul em formato de kombi criado em 2015 pelo grupo de amigos que forma o Clube do Rolim�. Mesmo que o “Mundialito” s� ocorra na Virada, o rolim� acontece toda semana – sempre �s quintas, �s 20h, no Mineir�o.
Carrinhos de rolim� fizeram a festa, com o "feno protetor" cercando a pista da Avenida Assis Chateaubriand
Para sair dali e ganhar os palcos maiores, o ideal foi caminhar pelo Viaduto Santa Tereza, que ganhou exposi��o de carros antigos. J� no Baixo Centro, o p�blico se dividiu entre a Pra�a da Esta��o e a parte de baixo do viaduto, que concentrou as atra��es dedicadas ao hip hop.
A amplid�o da Pra�a da Esta��o permite grandes p�blicos, o que n�o acontece com o viaduto. Foi muita gente tanto no s�bado quanto no domingo para ver pioneiros do hip hop nacional (Tha�de, 40 anos dedicados ao rap, foi um deles) e nomes em ascens�o, como a rapper de BH Mac J�lia, que arrebanhou uma multid�o de f�s.
Na alta madrugada, no entanto, houve brigas, principalmente durante a apresenta��o de Gui Marques, um dos nomes mais populares do funk belo-horizontino.
Tha�de, pioneiro do rap nacional, comemorou seus 40 anos de rap no palco montado no Viaduto Santa Tereza
No domingo, o viaduto estava absolutamente lotado para a final da etapa estadual do Duelo de MC's nacional, que teve 16 participantes. Mesmo com policiamento refor�ado, a apresentadora Colombiana alertou o p�blico para prestar aten��o nos furtos. “Isso aqui � para ser uma festa de uni�o. Aqui � hip hop, um rol� de respeito”, la avisou.
Duelo de MCs lotou o tradicional espa�o do rap de BH, sob a pista do Viaduto Santa Tereza
Como ponto central da Virada, a Pra�a da Esta��o foi muito diversa. No palco, a noite de s�bado foi dominada por mulheres – do samba de Adriana Ara�jo e do grupo Tutu com Tacac�, liderado pela cantora Ana Lu�sa Cosse, a Gaby Amarantos, a principal estrela da noite.
Tutu com Tacac�: talento mineiro no Palco Sesc, na Pra�a da Esta��o
Ela veio com tudo. E de rosa, a cor do momento, assim como toda a banda. O atraso de 45 minutos n�o tirou ningu�m da plateia. “P�o de queijo com a�a� � bom, viu?”, brincou Gaby, fazendo a conex�o Par�-Minas Gerais. O show foi baseado no disco “Tecnoshow” (2022).
O palco da Pra�a da Esta��o n�o parou durante a Virada. Mas a ressaca chegou – durante a manh� de domingo, o espa�o estava com cara de fim de festa. Plateia m�nima assistiu � apresenta��o do bloco Imp�rio Serr�o: Tudo que N�is Tem � N�is, formado por moradores do Aglomerado da Serra.
Gaby Amarantos: tudo rosa e clima 'Barbie' no show da estrela do Par�
No in�cio da tarde, a chuva prejudicou outra atra��o tradicional, o Campeonato Interdrag de Gaymada – ou simplesmente gaymada. O jogo-performance criado pelo grupo teatral Toda Deseo � vers�o bem mais divertida da boa e velha queimada.
Para muita gente, gaymada � sin�nimo de Virada. Mas n�o. A edi��o de ontem (paralisada por causa da chuva) foi a de n�mero 113. O grupo come�ou a fazer a performance em v�rios lugares de BH – a estreia ocorreu na Pra�a Floriano Peixoto.
Quem quiser participa. Os atores fazem performances durante a partida, e a plateia geralmente acompanha. Parece que � s� brincadeira, mas n�o �.
“Toda arte � pol�tica, pode e deve levantar bandeiras”, afirmou, do palco, Ju Abreu, uma das fundadoras da trupe que est� completando 10 anos.
Chuva atrapalhou, mas Gaymada manteve a tradi��o de sua alegria engajada na Pra�a da Esta��o
A Virada prometeu 24 horas de festa – das 19h de s�bado �s 19h de domingo. Foi al�m. Os Tit�s, que encerraram o evento na Pra�a da Esta��o, subiram ao palco faltando 10 minutos para as 19h. Vazia durante o dia, a pra�a encheu � noite, mas esteve longe de lotar.
“Apocalipse s�”, faixa do mais recente do grupo, “Olho furta-cor” (2022), abriu o show, com Tony Bellotto nos vocais. � a primeira apresenta��o deles em BH desde a passagem, h� pouco mais de tr�s meses, da bem-sucedida turn� “Tit�s encontro – Pra dizer adeus”.
Com apenas tr�s membros da forma��o original (S�rgio Britto e Branco Mello, al�m de Bellotto), o grupo, neste show, n�o quer saber muito de nostalgia, privilegiando novas can��es e m�sicas menos conhecidas. Mesmo assim, foi uma noite de afetos e recome�os.
Tit�s: homenagem para Rita Lee e emo��o de Branco Mello de subir ao palco depois de vencer o c�ncer
'A gente est� muito feliz de estar aqui. Eu, particularmente, estou muito feliz por ter tirado um c�ncer da minha garganta. Estou aqui hoje curado e ainda vou cantar para voc�s'
Branco Mello, m�sico da banda Tit�s
Branco Mello, que retirou metade da laringe em 2021 ap�s o diagn�stico de c�ncer, n�o canta mais com a voz que gravou “Flores”. Isso ficou claro quando ele interpretou “T� cansado”, lado B do �lbum “Cabe�a dinossauro”.
“A gente est� muito feliz de estar aqui. Eu, particularmente, estou muito feliz por ter tirado um c�ncer da minha garganta. Estou aqui hoje curado e ainda vou cantar para voc�s”, disse Branco.
Gisele Regina, de 51 anos, perdeu o show dos Tit�s no Expominas, da turn� 'Encontro'. No domingo, ela estava firme na Pra�a da Esta��o. 'Tit�s � uma lenda', afirmou
A noite ainda reservaria novo momento de impacto, quando Britto anunciou “Caos”, outra do disco recente. “Ela � muito especial, pois foi feita para a gente pela Rita Lee, Roberto de Carvalho e Beto Lee.” Primog�nito do casal, Beto assumiu uma das guitarras dos Tit�s em substitui��o a Paulo Miklos.
*Estagi�rias sob supervis�o da editora-assistente �ngela Faria
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