Lu�sa Matsushita
"Comecei a ficar muito mal, com crises de ansiedade que nunca tive antes. E a� teve um dia que eu percebi que precisava pintar." A descoberta foi estranha, segundo ela. Embora tivesse come�ado uma carreira como designer gr�fica aos 19 anos, se aventurasse nos desenhos e estivesse rodeada de artistas em Nova York, onde morava, a pintura nunca havia feito parte de sua vida at� ent�o. Ela era uma cantora.
"Eu era reconhecida pela minha voz, usava umas roupas crop-top, uns shortinhos, e um dia pensei ‘gente, eu t� no palco pelada e as pessoas acham que eu sou uma cantora pelada. Eu n�o sou isso. Eu sou uma pessoa meio t�mida, eu sou uma pintora’" ela conta, rindo. "Quando percebi isso eu entrei em choque."
Ela, ent�o, avisou as colegas de banda que iria terminar os compromissos do disco e partir para dedicar seu tempo � pintura at� que essa se tornasse sua atividade principal. Depois, se o grupo quisesse, at� toparia voltar para o CSS, mas como um hobby. Uma d�cada depois, e de volta a S�o Paulo, a sensa��o de Matsushita � a de que tudo o que ela queria aconteceu.
Mas muita coisa veio antes. Em 2014 ela exp�s desenhos na Calif�rnia e, no ano seguinte, partiu para uma resid�ncia art�stica na Amaz�nia. Em 2019, trocou sua casa em S�o Paulo por uma bem pequena, que ela construiu no litoral de Santa Catarina, e mergulhou na bioconstru��o, na agro-floresta e no voluntariado.
O espa�o f�sico para as telas era m�nimo, os mosquitos que grudavam na tinta eram muitos, e Matsushita viu na constru��o 3D uma alternativa para continuar produzindo. "Eu fazia obras menores, em papel, mas a constru��o de espa�os acabou sendo minha pr�tica art�stica, uma forma de trabalhar a rela��o das cores com o espa�o. E a minha pintura vem muito disso", diz. "Pintei em maiores ou menores quantidades desde 2014, mas a produ��o nervosa mesmo veio neste ano".
Para a exposi��o "Se N�o For Pra Chorar, Eu Nem Saio de Casa", que estreia nesta semana, a artista buscou inspira��o em detalhes do cotidiano e na sua inf�ncia -algumas obras t�m nomes como "Guarda-Roupa" e "Caminh�o de Melancia", por exemplo.
"A casa onde eu cresci era um lugar que eu achava feio, que n�o me satisfazia. Ent�o eu ficava procurando detalhes de que gostava, tipo um ralo de lat�o no banheiro que eu achava lindo. Hoje em dia eu sei que se n�o fosse essa casa talvez eu n�o tivesse treinado o olhar para o que me agrada, e acho que tudo veio como uma forma de lidar com essa car�ncia de beleza", explica.
Matsushita traduz essa sensa��o em composi��es sint�ticas, de formas precisas, feitas com pinc�is e camadas finas e com um trabalho cuidadoso para atingir as cores que procura. A ideia parece ser criar o bem-estar visual que ela n�o encontrava onde cresceu.
"Eu tento fazer tudo de um jeito funcional, de uma forma que n�o seja um desperd�cio, um luxo. E eu quero que meus trabalhos deem aquela sensa��o de quando voc� est� num lugar e a� chega uma pessoa muito querida e tudo melhora, sabe? Gosto de produzir telas boas de se estar perto", diz.
As obras s�o um contraponto, segundo ela, ao excesso dos tempos em que trabalhava como designer e da verborragia que veio depois nas letras que fez para o CSS, como "Let’s Make Love And Listen to The Death From Above".
"Antes eu n�o conseguia sintetizar, e na pintura eu sinto que n�o coloco esse excesso de inseguran�a", conta. "Acho que as minhas pinturas s�o mais maduras do que eu, mais elegantes do que eu. Elas t�m algo que transcende o que eu posso ser como pessoa. Quase como se fossem uma entidade separada, o que acho �timo."
� uma abrevia��o que hoje ela tamb�m consegue encontrar na m�sica que faz no Tum. "Eu tenho achado mais interessante trabalhar com o espa�o vazio, que fica entre os elementos principais, como quando a gente gosta mais de uma coadjuvante do que de uma atriz principal", diz.
Para o show do CSS no fim do ano, no entanto, o excesso � bem-vindo. "� o Cansei vers�o Primavera, com um tel�o bafo, surpresas, hits, uma cover babadeira. � uma celebra��o bonita, sem a inten��o de voltar, porque todas t�m suas vidas profissionais e eu tamb�m tenho a minha -a que eu sempre quis".
SE N�O FOR PRA CHORAR, EU NEM SAIO DE CASA
Quando Abertura: qui. (31), das 19h �s 21h. Visita��o: at� 21/10, de seg. a sex., das 10h �s 19h e s�b., das 10h �s 17h
Onde Galeria Luisa Strina - r. Padre Jo�o Manuel, 755, Cerqueira C�sar
Pre�o Gr�tis
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