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Estado de Minas GASTRONOMIA

Pris�o em S�o Jo�o del-Rei ter� restaurante aberto ao p�blico

A inspira��o para o projeto, in�dito no Brasil, vem da It�lia. De nome Liberdade, restaurante vai qualificar condenados para o mercado de trabalho


01/08/2021 04:00 - atualizado 01/08/2021 13:02

O desenho é assinado pelo arquiteto Gustavo Penna(foto: GPA&A/Divulgação)
O desenho � assinado pelo arquiteto Gustavo Penna (foto: GPA&A/Divulga��o)
Um lugar de conviv�ncia, aprendizado e experi�ncias transformadoras. At� novembro do ano que vem, ser� inaugurado o restaurante Liberdade, que vai funcionar dentro da Associa��o de Prote��o e Assist�ncia aos Condenados (Apac) em S�o Jo�o del-Rei, no Campo das Vertentes.
 
In�dito no Brasil, o espa�o, projetado pelo arquiteto Gustavo Penna, deve entrar no circuito tur�stico da regi�o. N�o v�o faltar motivos para se sentar em uma das mesas, entre eles saborear pratos da gastronomia local, apoiar o projeto de reintegra��o de presos � sociedade e viver uma experi�ncia curiosa.
 
A inspira��o para o projeto vem da It�lia. H� um ano, a psic�loga Cristina Nascimento, uma das idealizadoras do F�rum do Amanh�, que promove encontros uma vez por ano em Tiradentes para discutir solu��es inovadoras para o Brasil, soube de um restaurante dentro de uma pris�o em Mil�o. De nome In Galera (do italiano, Na cadeia), ele � totalmente administrado pelos presos.
 
“Quando soube desta iniciativa, pensei que poderia dar certo na Apac de S�o Jo�o del-Rei. Eles est�o ao lado de Tiradentes, que � um grande polo tur�stico e de gastronomia.”
 
O F�rum do Amanh� se prop�e tamb�m a dar visibilidade a iniciativas inovadoras, e a Apac � uma delas. Todo ano, os organizadores levam convidados para conhecer a institui��o e comer o que os recuperandos cozinham. As pessoas, em geral, ficam emocionadas e interessadas em ajudar o projeto.
 
O plano é usar o máximo de produtos cultivados na horta da Apac para criar uma cozinha sazonal(foto: André Frade/Divulgação)
O plano � usar o m�ximo de produtos cultivados na horta da Apac para criar uma cozinha sazonal (foto: Andr� Frade/Divulga��o)
 
“A Apac � um exemplo de como o Brasil poderia ser diferente, aponta para o futuro que queremos criar. Imagina o que significa ter uma pris�o em que os pr�prios presos t�m a chave, estudam, trabalham e s�o tratados com humanidade. Isso vai na contram�o de tudo o que vemos nas pris�es tradicionais.”
 
Rafael Pires, do restaurante Mia, em Tiradentes, � o chef-executivo do projeto. Ele vai montar e treinar a equipe, al�m de elaborar os card�pios. A cozinha do Liberdade tamb�m ter� tr�s chefs consultores, que v�o dar aulas, ajudar na cria��o de receitas e promover jantares coletivos. S�o eles: Fl�vio Trombino (Xapuri), Caetano Sobrinho (Ca�) e Fred Trindade.
 

Por um Brasil melhor

“� emocionante participar de um projeto deste tamanho, que h� poucos meses era s� uma conversa e agora j� est� pronto e vemos pessoas interessadas em ajudar. Ser cozinheiro � muito bom, mas todo mundo precisa fazer um pouco a mais para tornar o Brasil melhor”, comenta o chef, convencido de que a iniciativa vai virar modelo para o pa�s inteiro.
 
O restaurante vai seguir o lema do Slow Food, que, em resumo, se volta para o alimento bom, limpo e justo para todos. Carlo Petrini, o italiano que fundou o movimento, foi consultado e apoia a iniciativa. Segundo o chef do Liberdade, o plano � usar o m�ximo de produtos cultivados na Apac para criar uma cozinha sazonal. “Queremos elevar ainda mais o n�vel da cozinha mineira, que j� � muito bem falada no Brasil. Diria que � a nova cozinha mineira”, adianta Rafael.
 
Cozinha e salão do restaurante Liberdade serão integrados(foto: GPA&A/Divulgação)
Cozinha e sal�o do restaurante Liberdade ser�o integrados (foto: GPA&A/Divulga��o)
 
Para abastecer o restaurante, a horta ser� ampliada e os recuperandos passar�o a trabalhar com animais de corte, inicialmente menores, como galinha, pato, cordeiro e porco.
 
O chef enxerga que a miss�o do Liberdade vai de uma ponta a outra: incentiva a produ��o de alimentos, ensina recuperandos a trabalhar em uma cozinha profissional e ajuda a reinseri-los no mercado de trabalho e tamb�m na sociedade. “O nosso objetivo � dar treinamento para eles sa�rem com uma profiss�o, de cozinheiro a gar�om. Temos dificuldade de conseguir funcion�rios e l� est� cheio de bons profissionais, que acabam n�o tendo chance.”
 
Os testes na cozinha j� come�aram. No Dia das M�es, Rafael preparou com a equipe respons�vel pela comida (cinco da cozinha e tr�s da padaria) um almo�o especial para as m�es dos recuperandos em regime fechado. Por causa da pandemia, eles ficaram mais de um ano sem receber visitas.
 
O card�pio, criado pelos quatro chefs envolvidos com o projeto, tinha como prato principal frango a passarinho com farofa de feij�o-andu, arroz caldoso com verduras e legumes da Apac e conserva de repolho roxo. No dia, eles conseguiram colher ora-pro-n�bis, couve e cenoura. De sobremesa, o bolo man� pelado, com mandioca da horta, coco e queijo. O Projeto Fartura ajudou doando ingredientes.
 

Cozinha entusiasmada

O servi�o na cozinha come�ou �s 7h e as marmitas sa�ram para entrega a partir das 11h30. No total, a equipe preparou 220 refei��es para m�es que moram em S�o Jo�o del Rei e recuperandos. “Todos que trabalham na cozinha ficaram entusiasmados, querendo conversar e aprender. Levei v�rios temperos, como p�prica defumada e pimenta-do-reino, e eles ficaram curiosos para conhecer. Acharam supersimples o processo de conserva do repolho e gostaram do sabor”, conta.
 
No domingo de Dias das Mães, a equipe preparou 220 refeições(foto: André Frade/Divulgação)
No domingo de Dias das M�es, a equipe preparou 220 refei��es (foto: Andr� Frade/Divulga��o)
 
A experi�ncia de cozinhar com os recuperandos, segundo Rafael, � �nica. Ver a felicidade deles de ter uma segunda chance e o interesse em seguir uma profiss�o. “Mudando a vida de um, estamos mudando a vida de v�rias pessoas. Isso vira uma rea��o em cadeia.” Dois j� contaram para o chef que t�m vontade de estudar gastronomia para, no dia em que sair da Apac, poder trabalhar em restaurante.
 
Para o presidente da Apac de S�o Jo�o del-Rei, Ant�nio Fazatto, o Liberdade refor�a a miss�o da institui��o de qualificar os recuperandos para que saiam de l� com uma profiss�o e nunca mais se envolvam em crimes. “A nossa oficina de gastronomia � a nossa pr�pria cozinha. Com o projeto, eles v�o aprender a fazer uma comida sofisticada e se tornar grandes chefs. Aqui na nossa regi�o tem muito restaurante e poucos profissionais qualificados”, aponta.
 
Dos 400 recuperandos, 80 fazem cursos superiores e um entrou para um mestrado a dist�ncia na Universidade de S�o Paulo (Usp).
 
Hoje na cozinha e na padaria trabalham, em m�dia, 17 recuperandos, em dois turnos. A cada tr�s dias de trabalho, subtrai-se um dia da pena. O plano � que o restaurante tenha uma equipe de 40 a 50 pessoas, divididos entre horta, a�ougue, cozinha, sal�o, administra��o e limpeza. “No in�cio, vou estar mais presente e quero ir todo dia um pouco. Mas o meu objetivo � treinar um subchef para que o restaurante seja totalmente independente”, pontua Rafael.
 
O lucro com a opera��o do restaurante ser� revertido para a pr�pria Apac e os recuperandos decidir�o juntos a destina��o do dinheiro.
 

Uma grande varanda

O arquiteto Gustavo Penna mergulhou de cabe�a no projeto ao receber o convite. “Este � o tipo de trabalho em que acredito para assuntos que s�o desprezados, colocados na sala lateral das nossas preocupa��o. A maioria das pessoas quer esquecer que existem presos, mas temos que tomar como fundamental dar ao recuperando a possibilidade de pagar suas d�vidas com a sociedade, reconstruir a sua vida e n�o ser um lixo social.”
 
O trabalho come�ou pela escolha do nome Liberdade. “Como gosto de palavras, se o nome n�o me inspira, n�o consigo pensar, � como se estivesse claudicando.” Gustavo desenhou a logotipo com a letra L invertida e uma asa em cima e o designer Gustavo Greco criou a identidade visual.
 
O público poderá se sentar no balcão e acompanhar de perto o trabalho no fogão(foto: GPA&A/Divulgação)
O p�blico poder� se sentar no balc�o e acompanhar de perto o trabalho no fog�o (foto: GPA&A/Divulga��o)
 
O restaurante vai ficar entre as alas feminina e masculina da Apac, onde tem bastante verde e uma capela ao lado. Ser� totalmente aberto, como uma grande varanda. “Varanda � o espa�o mais democr�tico que existe na nossa arquitetura aut�ctone, onde escravo se encontrava com senhor, um espa�o de transi��o entre interior e exterior”, aponta.
 
Segundo o arquiteto, a constru��o ser� simples e sem muitos elementos. Piso de pedra, paredes brancas e teto de esteira, com fendas que simbolizam novas perspectivas para a liberdade. Pain�is de esteira de bambu v�o ajudar a controlar o sol e o vento. “O restaurante n�o tem nenhum elemento sofisticado, n�o tem glamour, mas tem uma chamin� que liberta as pessoas, � por onde sai a esperan�a.”
 
Cozinha e sal�o ser�o integrados. No fundo, um grande balc�o que emoldura o fog�o. “O fog�o ser� altar, rei, onde se celebram todos os sabores, cheiros, o fazer coletivo, o compartilhar, onde se faz a retomada de valores e de contato com mundo.” As pessoas v�o poder se sentar no balc�o e acompanhar de perto o trabalho dos recuperandos na cozinha.
 

Resposta positiva

A fase agora � de levantar os custos do projeto e buscar parceiros e investidores para iniciar a obra. “Ainda n�o temos n�meros, mas j� sabemos, de antem�o, que o custo vai ser bem menor que o de uma constru��o convencional. Vamos usar o tijolo ecol�gico que a Apac faz, receber doa��es e os pr�prios recuperandos v�o trabalhar na obra”, explica Cristina Nascimento, do F�rum do Amanh�.
 
A psic�loga acrescenta que a resposta ao projeto tem sido muito positiva e entusiasmada. Os recuperandos se sentem motivados, v�rias empresas querem ajudar e o p�blico est� curioso com a experi�ncia. “N�o h� quem n�o se emocione e se motive. Fizemos, inclusive, uma pesquisa informal em Tiradentes e as pessoas dizem que iriam, sim, a um restaurante dentro da pris�o.”
 
Chef-executivo do projeto, Rafael Pires já começou os testes na cozinha(foto: André Frade/Divulgação)
Chef-executivo do projeto, Rafael Pires j� come�ou os testes na cozinha (foto: Andr� Frade/Divulga��o)
 
At� o restaurante ser inaugurado, a ideia � fazer outras a��es de delivery para ajustar, aos poucos, o funcionamento da cozinha. O Fartura j� planeja levar para dentro da Apac, na pr�xima edi��o do festival de gastronomia, o seu projeto social Fartura de amor, que produz e distribui marmitas.
 
O chef Rafael Pires tamb�m pensa em criar produtos congelados, como palitinho de mandioca com queijo minas artesanal, para vender em bares, restaurantes e casas de eventos. Este seria o primeiro passo para, futuramente, a Apac abrir o seu pr�prio buf�.
 

Man� pelado (Rafael Pires)

Ingredientes
x�caras de mandioca ralada; 2 x�caras de parmes�o ralado; 3 x�caras de leite; 1 x�cara de a��car; 5 ovos; 2 colheres de sopa de manteiga; 1 x�cara de coco ralado; 1 colher de sopa de fermento

Modo de fazer
Bata os ovos. Despeje os ovos batidos em uma vasilha e adicione os demais ingredientes, exceto o fermento, que deve ser colocado por �ltimo. Mexa para misturar bem. Despeje a massa em uma forma untada com manteiga e leve ao forno m�dio por 50 minutos ou at� que doure.

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