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Estado de Minas VIZINHAS UNIDAS

Gastronomia do Santo Ant�nio se renova com iniciativas de mulheres

Cinco mulheres, que at� ent�o n�o se conheciam, encabe�am movimento de levar para o Bairro Santo Ant�nio propostas diferentes de gastronomia


03/09/2023 04:00 - atualizado 01/09/2023 10:20
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Juliana Duarte chef Cozinha Santo Antônio
Cozinha Santo Ant�nio: o restaurante de Juliana Duarte leva o nome do bairro (foto: Luisa Macedo/Divulga��o)
Nada foi combinado. Uma chegou primeiro, a outra veio logo depois e, de repente, elas se viram muito pr�ximas. Tanto do ponto de vista geogr�fico quanto pela vontade de levar propostas diferentes para o Santo Ant�nio. A gastronomia de l� se renova com iniciativas encabe�adas por mulheres. Coincidentemente, todas ocupam casas. O grupo aposta nessa uni�o n�o planejada para atrair p�blico para o bairro, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte.

Quando decidiu mudar o Bouquet Garni de lugar, Agnes Farkasv�lgyi focou no Santo Ant�nio. Entre idas e vindas, ela mora no bairro desde os quatro anos (atualmente, est� na casa que o pai, arquiteto, construiu) e tem um carinho enorme pelo lugar. “Esse bairro sempre teve voca��o para coisas interessantes e diferentes, � bo�mio. Se voc� perguntar para a minha gera��o, todo mundo vai falar dos botecos daqui”, aponta a chef, que puxa da mem�ria nomes como Lulu, Lili, Taninha e Via Cristina.

H� tr�s anos, o buf� ocupa uma casa na Rua Paulo Afonso, onde funciona, durante o dia, um restaurante nada convencional. L� n�o tem placa nem gar�om. Voc� tem que tocar a campainha para ser recebido e servido por Agnes, a filha Camilla ou a m�e Lelete. “Queria que as pessoas tivessem a sensa��o de que est�o entrando na minha casa, n�o � � toa que se chama A Casa da Agnes. Muitas acham que moro aqui”, comenta.

O lugar se conecta muito com o momento da carreira de Agnes. Aos 60 anos, ela diz estar muito mais � vontade para ser e fazer o que quiser. “A vinda para essa casa marca um momento muito agrad�vel. Estou mais inteira, sou mais eu. A minha identidade est� muito forte em tudo o que estou fazendo e isso n�o me incomoda mais. Posso fazer o que bem entendo, n�o tenho mais que seguir regras e padr�es. Tenho trabalhado com muito prazer.”

Marina Mendes confeitaria sa marina
'Abro a janela e vejo muitas �rvores e o c�u, os passarinhos cantam todos os dias', descreve a confeiteira Marina Mendes (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Isso, claro, se reflete na cozinha. Por agora, seu desejo � resgatar fragmentos de mem�ria. “� como se estivesse fazendo uma leitura de mim mesma, do que j� fiz e pensei, mas com uma coragem muito maior do que h� 20 anos. N�o tenho medo de errar.” Entre as receitas que exemplificam o que ela fala, est� a l�ngua de boi, que sempre amou, mas nunca tinha se arriscado a servir regularmente.

Uma forma de entender a cozinha de Agnes � pedir o menu degusta��o. Essa op��o n�o est� no card�pio, mas, como � ela mesma quem atende e cozinha, costuma sugerir a sequ�ncia de oito pratos.

Se voc� for l� hoje, vai comer tr�s petiscos que migraram do buf� para o restaurante: dadinho de tapioca com sagu de jabuticaba e shot de tucupi, coxinha preta com provolone e espinafre e camar�o empanado em massa harumaki com molho agridoce. O almo�o se desenrola com pera ao vinho, gorgonzola e nozes; ravi�li de figo com queijo de cabra, manteiga e s�lvia; moqueca de frango e portafoglio de fil� com queijo brie. Por fim, mousse de chocolate com raspas de laranja.

Agnes usa no couvert a mini ciabatta de Luiza Longarai, da padaria artesanal Madame du Bl�. Tamb�m j� fez um ch� inspirado em “Alice no pa�s das maravilhas” com Marina Mendes, da confeitaria S� Marina. E tem se aproximado cada vez mais de suas vizinhas. “Sempre achei muito antip�tica a rivalidade de cozinheiros, chefs e donos de buf�s. A gente tem que pensar no coletivo e se ajudar.”

Clientes � vontade

Juliana Duarte j� conhecia Agnes. Fez aulas de cozinha com ela por 10 anos. Mas n�o passou de coincid�ncia a abertura do restaurante Cozinha Santo Ant�nio dias depois de A Casa da Agnes ser inaugurado, pouco antes da pandemia. Assim como a professora, ela tem uma rela��o antiga com o bairro. Estudou hist�ria na Fafich, que ficava na Rua Carangola, e passou a maior parte da vida de casada no bairro, onde j� teve um escrit�rio de pesquisa em hist�ria.

Maria Luiza Alves da Caixa Afeto
Maria Luiza Alves, da Caixa Afeto, recebe o p�blico no quintal de casa, que tem uma vista de tirar o f�lego da cidade, emoldurada pela Serra do Curral (foto: Gustavo Romanelli/Divulga��o)
Por muito tempo, a chef ficou “namorando” o ponto, muito pr�ximo da sua casa, onde existiu o Salsa Parrilla, conhecido como bar da Taninha. Para a gera��o de Juliana, foi um lugar ic�nico, ponto de encontro dos amigos.

Quando viu a placa de aluga-se, sentiu o impulso que faltava para migrar da hist�ria para a gastronomia e abrir o restaurante. “J� tinha olhado outros lugares, mas queria que fosse no Santo Ant�nio. Tenho muito carinho pelo bairro, acho aqui muito especial e tem hist�ria com a gastronomia.”

A casa se encaixava muito bem no projeto de Juliana. “Sempre pensei em um lugar aconchegante, para se sentir � vontade, que n�o precisasse se arrumar para ir. Como se fosse a nossa casa. E � muito legal ver como esse conceito reverbera nas pessoas. Muitas falam que se sentem � vontade aqui”, conta a chef, que quis levar o Santo Ant�nio para o nome da sua cozinha. Diz que ali � um restaurante do bairro, pensado para que toda a comunidade se sinta parte daquele peda�o. Uma imagem do santo vigia a porta.

Aberto para o almo�o (apenas �s quintas funciona de noite), o restaurante levou vida para uma esquina que estava esquecida, onde se cruzam as ruas Santo Ant�nio do Monte e S�o Domingos do Prata. Mais que isso, j� se tornou refer�ncia para se localizar no bairro. Al�m das mesas na cal�ada, o plano � instalar uma varanda urbana.

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“Aqui j� foi ponto de muitos bares e esse movimento est� sendo retomado, mas de um jeito diferente. N�o s�o lugares de agita��o noturna, mas com uma proposta especial. � muito importante recuperarmos o sentimento de pertencimento e a alegria de estar no Santo Ant�nio.”

L� � um lugar para tomar caipirinha e comer torresmo ou ent�o experimentar o famoso pat� de campagne. O card�pio mistura tradi��o e vanguarda, assim como o bairro, na vis�o de Juliana. “Embora tenha uma aura de interior, o Santo Ant�nio sempre foi um lugar que abriu a minha cabe�a para o mundo. Por causa da Fafich, era um ambiente muito f�rtil na d�cada de 1980, de muita liberdade, efervesc�ncia cultural e discuss�es intelectuais”, relembra.

Agnes Farkasvölgyi a casa da agnes
'Queria que as pessoas tivessem a sensa��o de que est�o entrando na minha casa', comenta a chef Agnes Farkasv�lgyi (foto: Marcos Vieira /EM/D. A Press)
Como historiadora, ele n�o poderia dar as costas para o passado. Serve com bife de chorizo a farofa de torresmo do Via Cristina, que tanto amava. O �nico homem que trabalha na cozinha veio l� do extinto bar. Por outro lado, est� sempre olhando para frente, rompendo com o esperado, o que justifica a ideia de regar a costelinha com um molho intenso de chocolate e laranja. Tamb�m � inesperada a mistura de bacalhau com feij�o, ab�bora e angu.

Um ano antes, chegava ao Santo Ant�nio a Madame du Bl�, padaria artesanal comandada por Luiza Longarai. Moradora do bairro desde 2015, ela tomou a decis�o de sair do emprego em uma multinacional para abrir um neg�cio, e tinha que ser perto de casa. Luiza n�o aguentava mais dirigir 40 quil�metros para ir ao trabalho. Hoje ela caminha poucos quarteir�es.

“Me sinto muito acolhida aqui. Acho legal ainda ter carros de som vendendo frutas e ovos, � coisa de interior. Al�m disso, � um bairro que me permite andar a p�, n�o preciso de carro”, comenta.

Da Rua Conselheiro Quintiliano Silva, a padaria se mudou para uma casa na Rua Sagarana. O cliente toca a campainha, passa pelo jardim da entrada e se depara com o balc�o onde ficam os p�es de fermenta��o natural, prontos para retirada. Os croissants est�o sempre no topo da lista dos mais desejados.

A partir deste m�s, o espa�o tamb�m vai funcionar com uma cafeteria de autosservi�o, com apenas duas mesas. A proposta � se sentar para tomar um caf� espresso com itens da vitrine.

“O p�blico que mora no bairro sentia falta de uma padaria que n�o fosse convencional. At� onde sei, fui a primeira a trabalhar com p�es especiais”, aponta.

Receber em casa

Entre as mulheres que encabe�am o novo movimento gastron�mico do Santo Ant�nio, h� quem more e trabalhe na mesma casa. Uma delas � Maria Luiza Alves, da cafeteria e confeitaria Caixa Afeto, que serve caf� da manh� aos fins de semana.

Luiza Longarai Luiza Longarai
Ao atravessar o jardim da entrada da Madame du Bl�, os clientes encontram o balc�o com p�es de fermenta��o natural criados por Luiza Longarai (foto: Madame du Bl�/Divulga��o)
“Precisava de uma cozinha de produ��o e estava procurando especificamente no bairro, por conta de todo mundo falar da sua hist�ria e de ser um lugar especial. O Santo Ant�nio tem ar de interior, mesmo com muitos pr�dios, e uma rede de vizinhos maravilhosa. Com isso, fui construindo la�os”, destaca.

H� um ano, a Caixa Afeto abriu suas portas para o p�blico. Ao atravessar um corredor, voc� chega ao quintal a c�u aberto (l� n�o funciona em �poca de chuva) e se senta entre goiabeiras (plantadas pelo antigo dono da casa), p� de amora, pitanga e um jardim com muito verde. L� tem uma vista de tirar o f�lego da cidade, emoldurada pela Serra do Curral.

“O meu av� tem 94 anos e � do interior. Quando ele veio aqui, olhou pra mim e disse: '�, minha filha, nem parece BH', porque est� acostumado com o caos. Aqui tem uma paz e uma tranquilidade que n�o encontramos em qualquer lugar.”

Maria Luiza fala, com muito orgulho, que 95% dos itens do card�pio s�o de produ��o pr�pria, inclusive o cappuccino. “Amo cappuccino, mas todos que tomava na rua n�o me agradavam, ent�o fui fazendo a mistura at� acertar a medida”, conta. Eles dissolvem em leite quente a mistura de caf�, a��car mascavo, leite em p� e cacau e batem no mixer para que a bebida fique coberta por espuma.

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N�o deixe de comer o p�o de queijo (receita que veio de Guanh�es), vendido em por��o com cinco unidades ou individual recheado com pernil e requeij�o de raspa. Finalize seu caf� da manh� com os biscoitos amanteigados, que s�o campe�es de venda (muitos comem l� e levam para casa). Maria Luiza desenvolveu a pr�pria receita e criou os sabores de chocolate, lim�o, goiabada e chocolate ruby com pistache, todos s�o gla�ados no chocolate. Devido � alta procura, tem fornada toda semana.

A Casa do Morro

Marina Mendes voltou da Fran�a querendo muito morar em casa. Passando de carro pela Rua Santo Ant�nio do Monte, ela viu uma placa de “vende-se” numa de esquina e se apaixonou. Lembrava muito os vilarejos franceses. “Quanto mais andava pelo bairro, mais ficava encantada. Comecei a ver que o Santo Ant�nio tinha muita vida, pulsava”, comenta a confeiteira, que deu ao lugar o nome de Casa do Morro, justamente por estar em um quarteir�o inclinado. 

costelinha com molho de chocolate cozinha santo antonio
Assim como o bairro, o card�pio do Cozinha Santo Ant�nio mistura tradi��o e vanguarda, que est�o representadas pela costelinha com molho de chocolate (foto: Luisa Macedo/Divulga��o)
Al�m de ser moradia, a casa abriga o ateli� S� Marina, que mistura Brasil e Fran�a com uma “p�tisserie tupiniquim”. A cozinha foi montada em um c�modo ao lado, com entrada independente.

“Abro a janela e vejo muitas �rvores e o c�u, os passarinhos cantam todos os dias. � muito interessante porque estamos no meio da cidade, mas aqui tem uma atmosfera diferente. Ainda ouvimos de brinde aulas de m�sica ao lado, de violino a flauta. Temos uma trilha sonora particular”, brinca Marina.

Por enquanto, o ateli� funciona apenas para retirada de encomendas. Em breve, a confeiteira vai abrir a casa para a primeira noite de experi�ncias com cria��es exclusivas (a ideia � usar produtos que trouxe de viagem recente � Bahia). Futuramente, ela pensa em abrir uma loja com porta para a Rua Cristina, onde as pessoas v�o poder se sentar para comer uma “bijoux”, como ela se refere aos doces (significa joia em franc�s) e tomar um caf�.

Para quem ainda n�o conhece o seu trabalho, ela sugere come�ar pela torta de cupua�u. “Ela � uma das p�tisseries mais simples, mas tem a minha alma. A constru��o � totalmente francesa, com rigor no preparo, mas tem um sabor brasileiro. � a minha menina dos olhos”, justifica.

Depois, a nov�ssima paris-brest de caipirinha, com massa choux, creme de avel�, geleia de caipirinha, curd de lim�o tahiti, bolo embebido em caipirinha, chantili de lim�o e gla�agem com chocolate branco e am�ndoas.

Servi�o

A Casa da Agnes (@acasadaagnes)
Rua Paulo Afonso, 833
(31)98738-7066

Cozinha Santo Ant�nio (@cozinha_santoantonio)
Rua S�o Domingos do Prata, 453
(31) 98218-6427

Madame du Bl� (@madame.du.ble)
Rua Sagarana, 33
(31) 99909-7555

Caixa Afeto (@caixa.afeto)
Rua Santo Ant�nio do Monte, 495
(31) 99489-0147

S� Marina (@samarina.br)
Rua Santo Ant�nio do Monte, 466
(31) 98430-6874

Farofa de torresmo (Cozinha Santo Ant�nio)

Ingredientes
1k de barriga de porco; 30ml de cacha�a; banha para fritar; sal a gosto; 250g de farinha de mandioca amarela e fininha; manteiga sem d� nem piedade; sal a gosto

Modo de fazer
Corte a barriga em cubos de 2cmx2cm. Tempere com sal, alho e pimenta. Jogue a cacha�a na pele. Deixe dormir em uma travessa aberta na geladeira com a pele para cima. Aque�a a banha e frite por imers�o os peda�os de barriga at� pururucar. Aque�a a manteiga e envolva bem a farinha de mandioca. Corte miudinho os torresmos. Adicione � farofa na hora de servir.

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