
O l�pulo � o “tempero” da cerveja. V�m dele o sabor amargo e o aroma caracter�sticos. Dizem que a planta surgiu na China h� tr�s mil anos antes de Cristo. Quando chegou � Gr�cia, come�ou a ser usado em saladas.
Foi na Alemanha que passou a fazer parte da produ��o de cervejas. “O l�pulo entrou na cerveja por quest�es medicinais. As �guas eram de qualidade muito ruim e, com as suas caracter�sticas antibi�ticas, impedia que as pessoas passassem mal”, relata Thiago Fenelon, cofundador da Mundo Hop.
Pensando nisso, em 1516, o duque da Baviera, Guilherme IV, promulgou a “Lei da Pureza da Cerveja”, determinando que todas as misturas tinham que ter �gua, malte de cevada e l�pulo. Desde ent�o, � raro encontrar um r�tulo sem a planta.

Essa hist�ria come�ou a mudar nos anos 2000, quando o engenheiro agr�nomo Rodrigo Veraldi contrariou a tese de que era imposs�vel o cultivo por aqui e plantou as primeiras mudas na Serra da Mantiqueira. O objetivo era produzir cerveja para o seu restaurante, Entre Vilas, que fica em S�o Bento do Sapuca�, interior de S�o Paulo.
Engenheiro mec�nico, Thiago trabalhava com inova��o em S�o Paulo. “Olhava para a fazenda dos meus av�s e me perguntava o que poderia fazer com mais valor agregado”, conta, referindo-se a uma �rea de mil hectares em Mateus Leme, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, onde o forte s�o gado e madeira.
Em 2018, depois de saber de iniciativas na Serra da Mantiqueira, ele chamou Gabriel Purri, seu amigo de longa data, para um novo desafio.
Em 2018, depois de saber de iniciativas na Serra da Mantiqueira, ele chamou Gabriel Purri, seu amigo de longa data, para um novo desafio.
Os s�cios gostavam de tomar cerveja, mas n�o foi por isso que abriram a Mundo Hop. Viram no l�pulo uma oportunidade de impactar um mercado em ascens�o, com a vantagem de serem vizinhos de BH e Nova Lima, que formam um importante polo cervejeiro.
“Estudamos muito o mercado de cervejas artesanais e vimos que os 1,5% que temos hoje no Brasil eram o mesmo que os Estados Unidos tinham nos anos 1980. De l� para c�, eles conseguiram chegar a cerca de 20%”, aponta Thiago.
“Estudamos muito o mercado de cervejas artesanais e vimos que os 1,5% que temos hoje no Brasil eram o mesmo que os Estados Unidos tinham nos anos 1980. De l� para c�, eles conseguiram chegar a cerca de 20%”, aponta Thiago.

Nesse meio tempo, Thiago e Gabriel tiveram que lidar com a descoberta de doen�as e chegaram a perder praticamente toda a planta��o, mas conseguiram driblar os problemas e fazer com que o campo se tornasse produtivo. A Mundo Hop cultiva hoje sete variedades, que somam 10 mil plantas em quatro hectares.
O l�pulo � uma trepadeira que atinge seis metros de altura. Para guiar o seu crescimento, que, de t�o r�pido, chega a 35 cent�metros por dia, utiliza-se barbante. L�mpadas ficam acesas na planta��o todos os dias, das 17h � meia-noite, para que a planta receba as necess�rias 18 horas de luminosidade.
“O l�pulo n�o � de clima frio, � do ver�o dos pa�ses de climas amenos. Ou seja, gosta de calor”, esclarece Thiago.
“O l�pulo n�o � de clima frio, � do ver�o dos pa�ses de climas amenos. Ou seja, gosta de calor”, esclarece Thiago.
Diferentemente dos outros pa�ses, que trabalham com uma �nica safra, seguindo as condi��es clim�ticas (a planta cresce por quatro meses e fica oito meses hibernando), os mineiros conseguem ter tr�s safras anuais. Isso porque o l�pulo recebe a ilumina��o adequada e nunca hiberna.
Este � o primeiro ano de colheita comercial na Mundo Hop, que come�ou em janeiro, teve uma segunda etapa em maio e vai terminar em setembro. A expectativa � somar 15 mil quilos no fim do ano.
Este � o primeiro ano de colheita comercial na Mundo Hop, que come�ou em janeiro, teve uma segunda etapa em maio e vai terminar em setembro. A expectativa � somar 15 mil quilos no fim do ano.

Por dentro das p�talas em um tom verde-claro, existe um pozinho amarelo, a lupulina, que d� as caracter�sticas marcantes da cerveja. No aroma, lembra muito manga, maracuj� e outras frutas amarelas.
As flores colhidas durante o dia ficam a noite secando em uma m�quina que Thiago e Gabriel inventaram. No dia seguinte, elas s�o trituradas e prensadas no processo de peletiza��o, ou seja, transformam-se em pastilhas cil�ndricas, no formato de uma rolha de vinho. Os lotes passam por an�lise qu�mica para avaliar suas caracter�sticas sensoriais e ficam armazenados em uma c�mara fria.
Vencidas as barreiras no campo, o desafio agora � no asfalto com os cervejeiros. “A maior barreira do mercado n�o � quem nunca usou l�pulo brasileiro, mas quem j� usou e fala que n�o � bom. O que produzimos nos dois primeiros anos era ruim mesmo, mas conseguimos qualidade com pesquisas e investimentos no processo de beneficiamento”, aponta Thiago.
Vencidas as barreiras no campo, o desafio agora � no asfalto com os cervejeiros. “A maior barreira do mercado n�o � quem nunca usou l�pulo brasileiro, mas quem j� usou e fala que n�o � bom. O que produzimos nos dois primeiros anos era ruim mesmo, mas conseguimos qualidade com pesquisas e investimentos no processo de beneficiamento”, aponta Thiago.
O que anima � saber que quem testa se impressiona com a diferen�a de trabalhar com l�pulo fresco, colhido no dia anterior. Em geral, os importados chegam ao Brasil dois anos depois da colheita.
Um passo � frente
Mais de 10 cervejarias j� est�o usando o l�pulo da Mundo Hop, entre elas a Capapreta, que rapidamente substituiu os importados pelos mineiros em 95% da sua produ��o. “O Brasil � um potencial agr�cola e tenho certeza de que, em breve, vai figurar entre os cinco maiores produtores de l�pulo do mundo. A gente s� se adiantou a isso. Somos uma cervejaria que sempre gostou de inovar e colhemos bons resultados com essa coragem”, diz o fundador, Lucas Godinho.

“L� na planta��o j� entendi que tinha um insumo muito bom em m�os e que n�o fazia mais sentido comprar de fora se tinha no nosso 'quintal'. Voc� fomenta a economia local, traz caracter�sticas do seu terroir para o copo de cerveja, como acontece com o vinho, e ganha frescor”, analisa.
Em pouco tempo, a cervejaria mudou a receita de seis r�tulos e criou mais um, a Savassi Brew, no estilo brazilian pale ale. “Essa cerveja foi criada para atender o churrasco caseiro do cervejeiro. � leve e f�cil de beber. Faz algum tipo de refer�ncia � pilsen, s� que fica muito mais interessante”, explica, destacando que o l�pulo brasileiro caiu como uma luva em uma cerveja de estilo brasileiro.
Nos bares da cervejaria (Savassi, Buritis e Vila da Serra), � un�nime a percep��o de que as novas receitas transmitem mais frescor.
“O que acontece � que no Brasil consumimos l�pulo plantado h� dois, tr�s anos. Agora a gente tem a possibilidade de colher num dia e fazer cerveja no outro, e o frescor do ingrediente aparece no copo. � igual comprar morango congelado para fazer suco ou pegar uma bandeja com morango colhido na semana”, compara.
O �nico limitador n�o tem a ver com qualidade, mas com variedade. O Brasil ainda produz poucas esp�cies de l�pulo, por isso a Capapreta n�o consegue substituir 100% da produ��o. No caso da English Pale Ale, cerveja no estilo extra special bitter, os l�pulos continuam a vir da Inglaterra.
“Criamos essa cerveja para ser uma r�plica do que os ingleses fazem, ent�o essa receita � intoc�vel, porque tem a caracter�stica dos l�pulos ingleses. N�o consigo substituir”, ressalta.
“Criamos essa cerveja para ser uma r�plica do que os ingleses fazem, ent�o essa receita � intoc�vel, porque tem a caracter�stica dos l�pulos ingleses. N�o consigo substituir”, ressalta.
Fazenda urbana
Jos� Felipe Carneiro est� no ramo cervejeiro desde 1999. Fez hist�ria � frente da W�ls e agora aposta na produ��o de l�pulo. “Faltava algu�m com coragem, loucura e conhecimento suficientes para encarar o desconhecido, e essa pessoa � o Z� Felipe. Para voc� ter uma ideia, a fazenda era um aterro sanit�rio”, conta o empres�rio Jos� Pedro Leite Fontes, s�cio da Fazenda Cervejeira, que fica no Bairro S�o Francisco, Regi�o da Pampulha, em BH, e funciona aos s�bados e domingos.

O p�blico tem a chance de tomar chopes com l�pulo fresco, conhecer a planta��o e acompanhar a colheita. “A cerveja � uma das bebidas mais queridas do Brasil e � gratificante ver a alegria das pessoas colocando p�talas das flores de l�pulo no copo delas.”
Para acompanhar os chopes, nada melhor do que churrasco. Comandada pelo chef Crist�v�o Laru�a (Caravela, Turi e Capit�o Leit�o), a cozinha da Fazenda Cervejeira � toda baseada em fogo e brasa.
“Temos o fogo de ch�o com costela, como se faz no Sul do Brasil, Argentina e Uruguai. � impactante quando o cliente entra e se depara com o varal de carnes”, descreve. Al�m da costela, galeto e leit�o. Da parrilla, saem cortes como flat iron e picanha.
Leia mais: Gelo na cerveja? Inven��o de mineiro resfria instantaneamente a bebida
“Temos o fogo de ch�o com costela, como se faz no Sul do Brasil, Argentina e Uruguai. � impactante quando o cliente entra e se depara com o varal de carnes”, descreve. Al�m da costela, galeto e leit�o. Da parrilla, saem cortes como flat iron e picanha.
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No meio da planta��o de l�pulo, voc� pode comer o famoso american barbecue, de origem texana. Entre as op��es, peito bovino, cupim e costelinha de porco. Crist�v�o j� est� desenhando novidades para o m�s que vem. O projeto � abrir mais uma cozinha para explorar o l�pulo como ingrediente da comida. “A ideia � trazer a cerveja para dentro do prato”, adianta.
Al�m da planta��o em Carmo da Cachoeira (MG), de onde vem o maior volume de produ��o, os s�cios est�o replicando pelo pa�s o modelo de fazenda com restaurante. No m�s que vem, ser� inaugurada a Fazenda Cervejeira em Ouro Preto. A unidade em Macei� (AL) est� prevista para dezembro e a de Domingos Martins (ES) at� janeiro. Segundo Jos� Pedro, o plano � lan�ar franquias no ano que vem.
Ceviche de til�pia com chips de batata-doce roxa para harmonizar a cerveja Savassi Brew (Daniella Mira – chef dos bares da Cervejaria Capapreta)
Ingredientes
150g de fil� de til�pia; 35g de cebola roxa cortada em fatias bem finas; suco de ½ lim�o taiti; suco de 1 lim�o siciliano; 2 colheres de sopa de azeite; 3g de raspas de gengibre; 1g de pimenta dedo-de-mo�a sem semente picada; 15g de aipo fatiado bem fininho; 20g de piment�o vermelho picado; 50g de manga tommy em cubinhos; sal e pimenta-do-reino a gosto; 10g de cheiro verde picado; 3g de coentro picado
Modo de fazer
Pique a til�pia em cubos. Tire toda a semente do piment�o vermelho e da pimenta dedo-de-mo�a e pique em cubos bem pequenos. Pique a cebola roxa bem fininha, o aipo em fatias e a manga em cubos e reserve. Em um bowl, fa�a uma mistura com os lim�es espremidos, o sal, as raspas de gengibre e o azeite. Acrescente a til�pia picada. Deixe marinar por uns cinco minutos. Adicione os demais ingredientes � mistura da til�pia marinada. Sirva o ceviche com chips de batata-doce roxa.