
Diante da costela suculenta banhada de molho, voc� come�a a salivar. Depois, seus olhos encontram batatas coradas, que acabaram de sair do forno, e d� at� para sentir o aroma das ervas. A vontade de comer doce invade o est�mago quando o tiramisu se exibe, todo cremoso. Viu uma imagem e sentiu um desejo incontrol�vel de comer? � sinal de que o
food stylist
cumpriu sua miss�o. Ainda pouco conhecido, o profissional trabalha nos bastidores para deixar a comida irresistivelmente apetitosa.
“Comida para comer n�o � a mesma para fotografar. Ela n�o tem que ser gostosa, tem que parecer gostosa”, destaca o chef Juliano Albano, autor do livro “Food styling – O guia definitivo para produ��es de comer com os olhos”, um dos primeiros livros brasileiros sobre o assunto, lan�ado no fim do ano passado. Tudo o que ele aprendeu, em nove anos de carreira, foi estudando materiais de fora do Brasil e desenvolvendo t�cnicas na pr�tica.
Com esse trabalho, Juliano une duas paix�es: gastronomia e artes pl�sticas. O catarinense, de fam�lia �talo-brasileira, cresceu muito pr�ximo da cozinha e com encontros ao redor da mesa. Na faculdade, ele era o aluno que se destacava pela finaliza��o e apresenta��o dos pratos. At� que, em 2012, trabalhando como consultor em um restaurante, precisou orientar a foto de um prato. “Quando me vi naquela situa��o, encontrei tudo de que precisava no food styling e consegui um �timo resultado”, conta.

H� seis anos, Juliano mora em Sorocaba e trabalha exclusivamente com produ��o culin�ria, outro nome para o food styling. Segundo ele, o mercado � bem amplo, j� que envolve todo tipo de demanda para deixar uma comida mais atraente, seja de restaurantes ou empresas que produzem alimentos. Na pandemia, com o crescimento do delivery, a busca por imagens apetitosas aumentou.
O trabalho do food stylist, por tamb�m ser chef, come�a pelo menos um dia antes da sess�o de fotos. Isso ajuda a otimizar o tempo no set e garantir a qualidade do resultado. Carne assada, por exemplo, leva muitas horas de forno, enquanto torta de lim�o exige v�rios preparos. Mas n�o estamos falando de uma s�. No caso da torta, Juliano faz a massa e o creme separados em quantidade suficiente para montar v�rias no dia. “O trabalho de casting � essencial no food styling. Se preciso de uma torta maravilhosa, tenho que fazer 10 para escolher a que ficar melhor”, aponta.

Depois vem a parte da “maquiagem”, que entra para real�ar as cores da comida, dar brilho e faz�-la parecer que acabou de sair do forno ou do fog�o. “Na maioria das vezes, uso recursos gastron�micos, como caramelo e molho shoyu, mas em algumas situa��es tenho que recorrer a verniz e spray de cabelo”, exemplifica. Alfinetes e palitos tamb�m s�o usados para manter o alimento est�tico.
Entre tantos desafios, Juliano diz que pratos com “queijo” vegano s�o os que mais exigem t�cnica. “Queijo vegano n�o tem a mesma fluidez e plasticidade, mas as pessoas querem o visual do queijo n�o vegano, o que envolve processos mais complexos”, comenta. O que ele faz? Mergulha o “queijo” em �gua quente, joga vapor ou ar quente, usa ma�arico. O importante � fazer o outro salivar.
Para o food stylist, o mais interessante do trabalho � lidar com as novidades, envolver-se com alimentos at� ent�o inexplorados e encontrar solu��es para deix�-los visualmente atraentes. Recentemente, Juliano esteve em Belo Horizonte para uma sess�o de fotos de ra��o de cachorro. “Trabalhei para o p�blico que nunca tinha imaginado e isso me empolgou bastante.” Perguntado sobre com qual alimento ainda gostaria de trabalhar, ele respondeu: a pamonha.
Aten��o aos detalhes
Do buf� para o food styling, foi um pulo. Gabriela Gontijo e Bruna Costa, s�cias do Chef Chad, entraram neste novo mercado h� tr�s anos, quando enxergaram a demanda em BH por profissionais que deixam as fotos de comida mais bonitas e apetitosas.
Gabriela leva o seu olhar apurado para a apresenta��o dos pratos e das mesas, a aten��o aos detalhes, enquanto Bruna, como chef, contribui com o seu conhecimento sobre ingredientes e t�cnicas de cozinha. “Ela prepara os pratos e eu fico na ‘maquiagem’ e na composi��o de cena. N�s duas juntas potencializamos o trabalho e o resultado fica mais legal”, aponta Gabriela.

A dupla � frente da C. C. Food Stylist trabalha com um objetivo em comum: levar sabor e aroma para a imagem, al�m de ressaltar as qualidades dos ingredientes, que podem ser sucul�ncia, croc�ncia ou frescor. “Toda a cena tem que criar um momento prazeroso e gerar desejo. Que as pessoas vejam a imagem e queiram viver toda aquela experi�ncia.”
O trabalho de Bruna n�o � o mesmo de quando ela est� cozinhando para o buf�. Como a preocupa��o � com a beleza, e n�o com o sabor, os alimentos nem sempre est�o adequados para consumo. “Usamos truques que n�o s�o comest�veis e uma carne pode estar crua por dentro e bonita por fora. A l�gica � totalmente diferente.” Nem tempero tem.
Vamos usar como exemplo o cl�ssico peru de Natal, que aparece todo fim de ano em v�rias propagandas. Se ele for preparado normalmente, vai ficar enrugado e com apar�ncia ressecada. Ent�o, o que a dupla faz: assa por pouco tempo, s� para tirar o aspecto de cru, e usa caramelo (ou outra subst�ncia) para dar aquele brilho que abre o apetite. Al�m disso, puxa, repuxa, grampeia para a pele ficar bem lisinha, preenche com ma�� ou cebola para ajustar o formato e cola as asas para elas n�o ficarem soltas.abertas.

As folhas e ervas passam pela �gua gelada para que o verde fique real�ado, o que ajuda a transmitir frescor. No caso do hamb�rguer, pode ser necess�rio colar um alface no outro para garantir as as bordas perfeitas. Quando o centro das aten��es � uma bebida gelada, utiliza-se glicerina ou desodorante no copo para dar aquele aspecto esfuma�ado. De todos os alimentos, Gabriela considera a carne crua o mais desafiador. “� muito t�nue a linha entre uma cena apetitosa e um filme de terror.”
A montagem do cen�rio tamb�m � essencial para tornar a comida atrativa. Gabriela compara seu trabalho ao do stylist de moda. “Para gerar desejo de consumo, voc� n�o considera s� a roupa. Tem que pensar na maquiagem, cabelo, acess�rios, tudo o que vai engrandecer o produto. Da mesma forma a comida: precisamos que todo o ambiente fa�a com que o alimento fique ainda mais bonito.”
Isso inclui a escolha desde a lou�a at� algum ingrediente ou objeto que vai compor a cena. Em geral, a identidade do trabalho da C.C. Food Stylist passa por mesas grandes e fartas.
Mais natural poss�vel
A paix�o pela comida uniu Izadora Delforge e Luiza Bongir, que criaram h� quatro anos a produtora de conte�do gastron�mico Taioba Brava. A dupla segue uma linha diferente do convencional: � a favor de fotos mais naturais, menos produzidas e com menos retoques. “Enxergo isso como o futuro do food styling. Queremos acostumar as pessoas a verem a comida mais real poss�vel, e n�o como um peda�o de pl�stico”, defende Izadora.
Izadora � a fundadora da Feira Fresca e tem uma rela��o muito pr�xima com produtos org�nicos, agroecol�gicos e artesanais. Quando se juntou a Luiza, que � fot�grafa, entendeu que precisava valorizar como food stylist o trabalho de pequenos produtores locais e mostrar que existe uma forma mais natural e saud�vel de se relacionar com a alimenta��o. “Queremos, atrav�s da fotografia, levar para as pessoas um mundo extremamente rico e saboroso. Fazer com que se interessem pelo universo da cozinha e da terra.”

A dupla busca exaltar as caracter�sticas naturais dos alimentos, sem muita interven��o. A imperfei��o, inclusive, � bem-vinda e va- lorizada. “Se os biscoitos s�o artesanais, em vez de tentar buscar um padr�o e fugir do real, por que n�o mostr�-los como s�o, imperfeitos?”, questiona Izadora. Para ela, n�o faz sentido usar corantes com cores mais chamativas (e artificiais) para mostrar uma cenoura ou beterraba, que vem de uma produ��o totalmente natural, sem transg�nicos ou agrot�xicos.
Por isso, quando fotografam alimentos in natura, usam poucos truques para deix�-los atraentes. No m�ximo, um �leo para n�o ficar opaco e real�ar as cores originais. “As verduras e legumes t�m uma textura interessante, as pr�prias ranhuras, as cores s�o exuberantes. S� temos que encontrar um jeito de mostr�-los para emocionar as pessoas.”
Em geral, os fundos s�o neutros. Quando a foto � ambientada, h� poucos elementos na foto. Intencionalmente, elas chegam a um resultado mais minimalista. Izadora acredita que, assim, consegue colocar todo o foco no alimento.
Pensando em gerar imagens bem pr�ximas da realidade, a dupla sempre privilegia a luz natural. “A nossa inten��o � sempre trazer a fotografia para mais perto daquela realidade onde a comida � produzida e consumida.” Mesmo que isso signifique trabalhar com pouca luz. Como exemplo, Izadora cita o Restaurante Tragaluz, em Tiradentes, que tem um clima caracter�stico de penumbra e luz de velas. A quase escurid�o est� presente na cena, mas os pratos s�o iluminados pela claridade de um fim de tarde.
Bife Wellington com molho de jabuticaba (Chef Chad)
Ingredientes
500g de massa folhada; 500g de fil�-mignon; 150g de presunto parma fatiado; 200g de cogumelo-de-paris cortado em cubinhos; 1 cebola cortada em cubinhos; 2 dentes de alho picadinhos; 3 colheres de mostarda dijon; 4 colheres de geleia de jabuticaba; 100ml de vinho tinto; 1 colher de manteiga; 1 gema batida; 3 colheres de azeite; pimenta-do-reino e sal a gosto.
Modo de fazer
Em uma frigideira, refogue o alho com azeite at� ficar bem dourado. Adicione metade da cebola. Refogue por alguns minutos e adicione os cogumelos. Cozinhe por 5 minutos. Tempere com sal e pimenta-do-reino. Com a ajuda de uma peneira, retire o excesso de l�quido do cogumelo. Reserve. Tempere o fil�-mignon com sal e pimenta-do-reino e grelhe por 4 minutos cada lado at� ficar bem dourado. Passe mostarda dijon por todo o fil�. Reserve. Na mesma frigideira, adicione a manteiga e a cebola. Refogue bem e, em seguida, junte o vinho tinto e a geleia de jabuticaba. Deixe reduzir, acerte o sal e reserve. Abra a massa folhada (20cm aproximadamente). Distribua fatias de presunto de parma e os cogumelos. Coloque o fil� j� grelhado no meio e enrole delicadamente a massa folhada, fazendo um pacote. Pincele com a gema e deixe no freezer por cerca de 30 minutos. Em seguida, leve ao forno pr�-aquecido a 2000C por 15 minutos ou at� ficar bem dourado. Sirva com o molho de jabuticaba quente.