
E de onde vem esse equil�brio? Faixa marrom de jiu-j�tsu, Oliveira se junta a outros chefs que viram na "arte suave" (� este o significado do nome do termo que d� nome ao esporte) uma v�lvula de escape para o estresse do trabalho na cozinha. "Talvez seja para mim a terapia mais eficiente que exista", afirma.
"A arte marcial tem algo ainda mais especial que � o cuidado consigo e com seu companheiro, advers�rio, algo muito necess�rio para o mundo como o de hoje, t�o disperso, virtual e intang�vel", avalia. Al�m dele, colegas como Alex Atala e Felipe Bronze tamb�m s�o adeptos da modalidade -ambos j� s�o faixa preta, um est�gio al�m da marrom que Rodrigo usa em seu quimono.
Em entrevista, o cozinheiro do premiado restaurante de comida nordestina Mocot� ainda fala sobre seus hobbies e a respeito das condi��es que fazem com que o brasileiro coma cada vez pior. "N�o � por desinforma��o, � mais por vulnerabilidade."
PERGUNTA - Como � estar no MasterChef?
RODRIGO OLIVEIRA - Pode parecer estranho, mas � muito mais f�cil do que eu imaginava. � uma f�rmula muito certeira de excel�ncia. � um formato que vem afinando faz quase dez anos. Tem sido inspirador fazer parte.
Voc� substitui o Henrique Foga�a, de temperamento mais explosivo. Considera-se 'bonzinho', como j� o apontaram nas redes sociais?
R. O. - Essa coisa do r�tulo... Eu nunca me percebi como bonzinho, sempre tive o cuidado, no trabalho e na vida, de ser justo. Mas entendo que em alguns momentos o que a equipe precisa � de um chacoalh�o. A rotina na cozinha j� tem tanta press�o. Nos momentos de caos, o melhor � trabalhar em esfor�o, manter a mente serena para conseguir agir bem e tomar boas decis�es.
Gostaria de permanecer ap�s o retorno de Foga�a?
R. O. - O convite foi destinado a uma �nica temporada de amadores. O Foga�a queria resolver quest�es pessoais, mas j� est� voltando �s grava��es esse m�s para a atra��o com profissionais. Ent�o, acredito que ele estar� 100% e que minha participa��o acabe. Mas tenho �tima rela��o com a Band e me coloco � disposi��o.
Considera a gastronomia brasileira a melhor do mundo?
R. O. - N�o, com certeza n�o. A gente j� viu por meio de alguns rankings que � imposs�vel comparar coisas subjetivas, diversas e complexas como cozinha. Como olhar para pa�ses como Fran�a, It�lia e Jap�o e apontar que uma culin�ria � melhor do que a outra? O que digo � que a cozinha brasileira tem tudo para se tornar uma grande cozinha internacional. Voc� encontra a comida italiana representada em todo o mundo, a francesa tamb�m. E isso vem de um esfor�o pol�tico mesmo.
Acha que chegaremos a este ponto?
R. O. - O Brasil tem hoje talentos e mat�ria-prima para se colocar no mundo como uma grande cozinha. Aproveitar essa onda de valoriza��o e reconhecimento da culin�ria latina pode ser positivo, assim como produtos brasileiros e os chefs daqui. Estamos numa crescente.
Na sua opini�o, o brasileiro come mal?
R. O. - Sim. Temos recortes de classe social, de localiza��o geogr�fica, de ra�a, que apontam para resultados diferentes. Eu digo que, de maneira ampla, d� para comer mal de muitas maneiras. Comer pouco � comer mal, n�o ter alimentos suficientes, ter que pular refei��es por falta de recursos, isso tamb�m � comer mal.
Mas muita gente come mal por op��o...
R. O. - Pois �, quando a pessoa tem escolha, condi��es, um fator decisivo para que ela continue se alimentando de forma incorreta pode ser a educa��o. Importante saber o que faz bem, ler o que est� escrito na g�ndola [do mercado] e n�o ser iludido por marketing.
Qual seria o maior problema da alimenta��o no Brasil?
R. O. - A renda. As pessoas n�o t�m o suficiente para fazer as melhores escolhas, ent�o � mais conveniente e barato dar a uma crian�a um pacote de bolacha do que uma cesta de frutas. O brasileiro come mal, sim, mas n�o por desinforma��o, � mais por vulnerabilidade, um problema mais da sociedade do que do indiv�duo.
Voc� � faixa marrom de jiu-j�tsu. Como a arte marcial ajuda na sua vida profissional?
R. O. - Ajuda em tudo. Os esportes em geral j� t�m essa coisa de colocar voc� para olhar um objetivo. � poss�vel treinar sua disciplina, equilibrar corpo e mente. A arte marcial tem algo ainda mais especial que � o cuidado consigo e com seu companheiro, advers�rio, algo muito necess�rio para o mundo como o de hoje, t�o disperso, virtual e intang�vel. O progresso di�rio � lento e vamos afinando uma t�cnica por anos at� conseguir o movimento perfeito. Talvez seja para mim a terapia mais eficiente que exista.
Com tanto trabalho, como fica sua rotina de treinos?
R. O. - Eu j� treinei em diferentes hor�rios, mas no ritmo do restaurante atualmente treino duas vezes por semana. Queria treinar mais, mas s� consigo por volta das 19h. Saio recarregado. Se Deus quiser, em 2024 pego a faixa preta.
Voc� j� competiu?
R. O. - Sim, duas vezes, adoro competi��o. L� nos prim�rdios, na categoria sem quimono e sem divis�o de peso, lutei com quatro atletas e venci todas. Tamb�m fiz uma etapa de um campeonato paulista ainda na faixa branca e finalizei quatro oponentes. Fui campe�o nas duas vezes. Um aproveitamento de 100%. Competi��o � super legal para te colocar foco. S� que a vida, o trabalho e uma les�o me tiraram dos campeonatos. Quero experimentar de novo.
Voc� e outros dos mais respeitados e premiados chefs do pa�s, como Alex Atala e Felipe Bronze, lutam jiu-j�tsu. � coincid�ncia?
R. O. - Os praticantes t�m um ganho nessa vida da cozinha com tanta press�o. N�o s� o jiu-j�tsu, mas todo esporte que envolva adrenalina. Tem a ver com resist�ncia, meta. Essa paci�ncia, frieza que tenho, podem ser fruto dos treinos. Quando estamos lutando com um advers�rio, voc� n�o consegue pensar em outra coisa a n�o ser sair vivo (risos). Assim como no ciclismo, outra grande terapia que fa�o.