Brotos: pequenos no tamanho, gigantes em sabor e nutrientes
'Os microverdes t�m pot�ncia demais para ficar s� na decora��o, temos que comer no dia a dia', defende Anamar Aguiar, fundadora da Horta Viva
Anamar Aguiar, da Horta Viva, cultiva 11 variedades de microverdes, popularmente conhecidos como brotos (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press)
Eles t�m muita participa��o na beleza e no frescor dos pratos de restaurantes. Voc� j� deve ter visto aquela cena do chef usando uma pin�a para posicionar pequenos verdes em cima da comida. Por que n�o levar os brotos para a cozinha de casa? A produtora Anamar Aguiar, da Horta Viva, exalta o sabor e a concentra��o de nutrientes (40 vezes mais que as plantas adultas). “Os microverdes t�m pot�ncia demais para ficar s� na decora��o, temos que comer no dia a dia”, defende.
Antes de seguir com a hist�ria, Anamar ensina que o mais correto � falar microverde. Broto diz respeito � planta em um est�gio anterior, que ainda est� “fechada”. Quando faz fotoss�ntese e surge a primeira folha, passa a ser chamada de microverde. Mas ela mesma reconhece que todo mundo fala broto (e n�o v� problema nisso). Ent�o, pedimos licen�a para usar os dois nomes.
Anamar � artista pl�stica e chef de cozinha. Conta que sempre gostou de tachos e panelas e, por muitos anos, deu aulas de gastronomia. Quando o seu marido se envolveu com a hidroponia (sistema de cultivo em que as plantas crescem na �gua), era ela quem cuidava diariamente da estufa. Em um curso de agroecologia, conheceu os microverdes, que tamb�m s�o cultivados em �gua.
“Foi a� que comecei a pesquisar os microverdes e fiz um laborat�rio em casa, usando meus conhecimentos de hidroponia. J� fazia mudas de r�cula e agri�o, adorava cuidar do ber��rio, ent�o conhecia de germina��o das sementes”, explica a produtora, que j� era vegetariana e comia org�nicos.
Um dia, sentada no jardim de casa, Anamar viu que dava para montar a estufa no pr�prio quintal. L� tinha o que precisava: muita luz e sombra. Normalmente, os microverdes s�o cultivados em quartos escuros com l�mpadas. Mas ela n�o quis assim.
“Acho um absurdo fazer o cultivo de microverdes no escuro em uma cidade iluminada como BH, n�o � sustent�vel. Al�m disso, acredito que a planta tamb�m precisa de descanso, de uma noite para dormir e transpirar. Planta que fica o tempo todo iluminada n�o cresce saud�vel, fica estressada.” S�o palavras de quem respeita o tempo da natureza. Tanto que, no inverno, tudo � mais lento.
Sandu�che aberto de homus, coalhada, cebola roxa e mel: como os brotos podem enriquecer um lanche simples (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press)
O cultivo de brotos parte de uma semente org�nica, totalmente livre de agrot�xicos, o que faz diferen�a para um alimento vivo, que comemos cru. O momento da semeadura � o mais especial para Anamar. “Semear � uma del�cia. Gosto dessa conex�o com a terra, acho prazeroso, n�o me canso e esse � um momento important�ssimo para a planta para nascer com vigor e alegria e sem pragas”, justifica.
Na hora de semear, ela ouve m�sica, canta e dan�a. Faz “a maior festa”. M�stica e intuitiva, Anamar acredita que esse � o ambiente ideal para que os microverdes cres�am lindos e saud�veis. A sua playlist tem muito de m�sica cl�ssica, mas de vez em quando aparece um Zeca Baleiro e ritmos para treinar percuss�o (ela faz curso de agog� e zabumba). “Fico ali com minhas m�sicas e meus bot�es”.
Passado o per�odo de germina��o, as plantas v�o para a banca, onde tomam sol e fazem fotoss�ntese. Depois de alguns dias (em geral, de dois a sete), est�o prontas para o consumo.
Atualmente, a Horta Verde cultiva 11 variedades (beterraba, br�colis, r�cula, agri�o, coentro, cenoura, trevo, repolho roxo, mostarda, rabanete e amaranto). Todas as folhinhas s�o verdes, o que diferencia s�o as cores dos caules. Por ter a base vermelha, o de beterraba � o mais vendido, seguido por r�cula e agri�o. Em julho, j� devem entrar na lista duas ervas arom�ticas, manjeric�o e ceref�lio, que v�o inaugurar uma nova categoria de brotos.
“Tive que compreender cada semente, como ela quer brotar, com quem gosta de ficar, com mais ou menos ilumina��o. Coentro adora ficar perto do agri�o, eles t�m uma qu�mica que funciona. J� a beterraba reina sozinha”, descreve.
Colheita no escuro
Quando tem entrega, Anamar entra na estufa �s 5h, ainda no escuro, para fazer a colheita. Pede licen�a para os microverdes, cumprimenta com um “bom dia”. Enquanto espera que as got�culas de �gua (resultado da transpira��o durante a noite) se dissipem, segue sua conversa, diz como est�o lindas, elogia o brilho e o frescor, agradece pelo esfor�o de cada plantinha.
“Fico igual a uma borboleta. Vou de banca em banca escolhendo os brotos, olho as cores, a beleza, a� vem a art�stica pl�stica. N�o misturo repolho com br�colis, porque eles t�m o mesmo paladar, a� a gastronomia fala mais alto.”
�s 6h, ela mesma sai para as entregas. J� pensou em contratar um motorista, mas a� se questiona: ser� que ele vai andar devagarinho? “Minha alma de cozinheira n�o gosta de ingrediente feio, ent�o sou eu quem transporto. Quero que chegue muito fresco e bonito.”
Seus produtos s�o entregues em lojas no Mercado Central, Mercado Novo e Mercado Distrital do Cruzeiro, uma distribuidora que atende restaurantes de BH e uma loja de produtos org�nicos. Ela tamb�m vende diretamente para chefs.
Os brotos s�o plantados em uma placa de substrato e transportados em uma pequena caixa. Duram at� 10 dias na geladeira. Voc� colhe na hora, lava para tirar a terra que fica na raiz e pode usar como preferir. Anamar refor�a que eles s�o altamente ricos em nutri��o e sabor, ent�o podem complementar qualquer refei��o, do caf� da manh� ao jantar. Lembre-se de adicionar s� na finaliza��o para n�o oxidar.
Experimente os verdinhos com frutas, saladas, tapioca, omelete, sucos, caldos, sandu�ches, massas e at� sobremesas. A produtora est� sempre fazendo testes na cozinha e tem suas combina��es favoritas. Ela recomenda levar frescor ao suco verde com cenoura, diz que n�o tem erro salpicar coentro no guacamole, ama pitaia com rabanete e ensina a comer banana-da-terra cozida com mel e mostarda.