
Os dreadlocks mostram a for�a da m�dica Jurema Werneck, uma voz firme contra as viola��es dos direitos humanos no Brasil nos tempos atuais. Ativista do movimento de mulheres negras brasileiro e direitos humanos, ela � a atual diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil e prestou depoimento � CPI da COVID nesta quinta-feira (24/06).
M�dica, ela apresentou um estudo aos senadores em que fica demonstrado que que cerca de 120 mil vidas poderiam ter sido poupadas em 2020, primeiro ano de pandemia, se o governo brasileiro tivesse adotado de forma mais assertiva as medidas preventivas, como distanciamento social, restri��o a aglomera��es e fechamento de escolas e do com�rcio.
Mas quem � essa mulher negra que denuncia as injusti�as contra a popula��o negra brasileira, os assassinatos de moradores de favelas no Rio de Janeiro ou as mortes decorrentes da neglig�ncia no enfrentamento � COVID-19 no Brasil?
“Eu sou aquela menina negra que nasceu no Morro dos Cabritos, em Copacabana, uma favela que ainda est� l�, que, nos �ltimos anos, passaram a chamar de Tabajaras Morro dos Cabritos", se apresenta no podcast Bem Viver Criola.
Jurema Werneck fundou em 1992 a organiza��o n�o governamental Criola. A organiza��o desenvolve a��es na defesa e promo��o dos direitos das mulheres negras. A entidade produz estudos e pesquisas sobre as condi��es de vida das mulheres negras e tamb�m faz o monitoramento de pol�ticas p�blicas. Em 22 de junho, a organiza��o publicou nota exigindo a responsabiliza��o dos investigados da CPI
Voz da luta antirracista
O acesso � universidade mudou a trajet�ria de Jurema Werneck. Ela se formou em medicina pela pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense em 1986. Mas at� a forma��o superior enfrentou os problemas de uma fam�lia negra no Rio de Janeiro. No entanto, foi o valor dado por sua fam�lia � educa��o formal que possibilitou que ela se tornasse uma das principais vozes da luta antirracista no Brasil.
"Nasci numa fam�lia extensa vinculada por la�os de sangue, de religi�o, de vizinhan�a e proximidade. Mas uma fam�lia que encontrou todos os desafios poss�veis, uma fam�lia negra grande, espalhada por favelas do Rio de Janeiro, experimentando a desgra�a, a trag�dia, a injusti�a a falta a todo tempo, mas uma fam�lia que tinha confian�a na supera��o, uma confian�a que cada gera��o ia agir para supera��o do quadro nem s� para gente, mas pela mudan�a"
Jurema Werneck - diretora executiva da Anistia Internacional Brasil
"Nasci numa fam�lia extensa vinculada por la�os de sangue, de religi�o, de vizinhan�a e proximidade. Mas uma fam�lia que encontrou todos os desafios poss�veis, uma fam�lia negra grande, espalhada por favelas do Rio de Janeiro, experimentando a desgra�a, a trag�dia, a injusti�a a falta a todo tempo, mas uma fam�lia que tinha confian�a na supera��o, uma confian�a que cada gera��o ia agir para supera��o do quadro nem s� para gente, mas pela mudan�a. Sou descendente das pessoas que apostaram na mudan�a”, disse no podcast Bem Viver Criola, no qual Jurema apontou como o racismo afeta a sa�de mental das pessoas.
Mas, desde que iniciou os estudos, ela n�o parou mais como demonstra o curr�culo acad�mico. Jurema possui mestrado em Engenharia de Produ��o pela Coordena��o dos Programas de P�s-gradua��o de Engenharia/COPPE/UFRJ (2000) e doutorado em Comunica��o e Cultura pela Escola de Comunica��o da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2007). Mas, no podcast, ela lembra que n�o foi f�cil o acesso ao ensino superior.
"Tive que estudar at� o limite do poss�vel, esticando esse poss�vel na dire��o do imposs�vel. Adolescente negra cursar universidade era imposs�vel”, afirmou.
Participa��o na CPI da COVID
Na CPI da COVID-19, Jurema denunciou o negacionismo que embasou o enfrentamento � pandemia nas a��es do governo federal. “O estudo revelou o tamanho do desastre provocado por pol�ticas equivocadas, incompletas, limitadas e intermitentes no Brasil: s�o 120 mil vidas que poderiam ter continuado, caso as autoridades tivessem seguido a ci�ncia e gerido a pandemia com responsabilidade”, afirmou.
Al�m de denunciar a neglig�ncia do governo federal, ela pontuou como a pandemia afeta de modo desigual os brasileiros. Ela destacou que mais uma vez, em decorr�ncia das hist�ricas desigualdades sociais, os negros est�o entre os mais afetados pela doen�a.
“Os n�meros tamb�m trazem mais uma evid�ncia das desigualdades que estruturam a sociedade brasileira, mas que foram reveladas e aprofundadas durante a pandemia. As pessoas negras s�o as mais afetadas pela falta de leitos, t�m menos acesso a testes diagn�sticos e sofrem um risco 17% maior de vir a �bito na rede p�blica”, completa.