Intelectuais reagiram ao artigo "Neorracismo identit�rio", publicado na Folha de S.Paulo, no domingo (16/01) pelo antrop�logo Antonio Ris�rio. No texto, Ris�rio desenvolve argumento da exist�ncia de "racismo negro" para afirmarr que negros cometem racismo contra brancos. O artigo foi refutado nas redes sociais. "Ris�rio merece o mesmo tratamento que os defensores da cloroquina", falou o escritor Itamar Vieira J�nior quando questionado plo DiversEM. O
Ris�rio traz para explicar o argumento casos de racismo cometidos por negros que, segundo ele, foram ignorados pela imprensa norte-americana. No entanto, Ris�rio traz exemplos sem qualquer contextualiza��o, e dessa forma o texto apresenta informa��es question�veis quanto a veracidade dos fatos.
Ao DiverEM, o escritor Itamar Vieira J�nior frisou que se trata de uma falsa pol�mica a proposi��o de Ris�rio sobre "racismo negro". "Ris�rio faz parte de um levante negacionista, revisionista da hist�ria, que bem conhecemos", afirma.
Autor do best-seller "Torto Arado" (Todavia) e tamb�m pesquisador no campo da geografia, Itamar destaca que as pesquisas pret�ritas de Ris�rio sobre mesti�agem ca�ram em desuso e que o artigo, portanto, reflete essa desatualiza��o. "Para ele � mais f�cil persistir no erro, do que pensar sobre algo novo. Dessa forma ataca violentamente, transformando exce��es em regras, e a 'pol�mica' est� dada", pondera.
Itamar destaca que o artigo acaba gerando debate "pelo contorcionismo ret�rico descabido". "Uma minoria cr� naquela tese. Mas a falsa pol�mica rende cliques. � a mesma l�gica dos algoritmos das redes sociais", completa.
N�o � a primeira vez que um texto inspirado no pensamento de Ris�rio gera desacordo e severas cr�tiicas de intelectuais e ativistas. Leandro Narloch escreveu "Luxo e riqueza das 'sinh�s pretas' precisam inspirar o movimento negro", publicado em 29 de setembro de 2021.
Trata-se de um argumento que refor�a a argumenta��o apresentada no livro "As Sinh�s pretas da Bahia: suas escravas, suas joias" (Topbooks). No entanto, o argumento foi refutado por historiadores, que fazem obje��es ao argumento de Ris�rio, que traria exce��es para, de alguma forma, atenuar o horror da escravid�o.
Posi��o contra as cotas raciais
A historiadora Lilia Schwarcz tamb�m considerou que a pol�mica ataca pol�ticas p�blicas que garantiram mais acessos da popula��o negra ao ensino superior, por exemplo. "Esse tipo de pol�mica parece visar desfazer de conquistas importantes como a s pol�ticas de cotas e de afirma��o positiva que, nesse an complemttam 10 anos e v�o passar por avalia��o", diz.
Lilia destaca que o artigo de Ris�rio deixa transparecer preconceitos. "Mas o certo � que o artigo de hoje, sob um veludo humanista, rep�e preconceitos da nossa branquitude (a minha e a dele) e nao traz dados da realidade", escreveu.
O antrop�logo, ge�grafo e poeta Alex Ratts apontou, em seu perfil nas redes sociais, que Antonio Ris�rio j� teve boas rela��es com os movimentos negros nos anos de 1980, quando esteve � frente do Centro de Refer�ncia Negro-Mesti�a (Cerne). No entanto, a partir dos anos 2000, o antrop�logo passou a integrar grupo de personalidades contr�rias �s cotas raciais, passando a atacar a intelectualidade negra.
"Desde ent�o, vem requentando suas opini�es de forma desproporcional � dimens�o da quest�o racial, sem diferenciar processos hist�ricos, assim como os racismos, as ideias de ra�a, arregimentando um �dio indeterminado contra negros e negando, inclusive, parte do que escreveu.