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Estado de Minas EU N�O VOU SUCUMBIR!

'Ela n�o se quebrou. A hist�ria dela � a nossa', diz fundadora da Criola

Ativistas, artistas e acad�micas destacam legado de Elza Soares para dar visibilidade � mulher negra, alvo maior do racismo no Brasil


20/01/2022 18:56 - atualizado 21/01/2022 16:52

Elza Soares tampa o rosto com as mãos
(foto: Carl DE SOUZA / AFP)
A cantora Elza Soares, que morreu nesta quinta-feira (20/01) aos 91 anos, foi e seguir� como espelho. "Refer�ncia para as mulheres negras. Todas n�s, para as que se movimentam, para as que n�o se movimentam", define Jurema Werneck, ativista feminista, m�dica, comunic�loga e co-fundadora da organiza��o n�o governamental Criola, entidade voltada para a defesa dos direitos das mulheres negras.
 
Elza tamb�m foi orgulho de ser favela, jazzista, ou melhor, a voz de Deus - Deusa como cantou -, amplificou a voz de quem n�o tinha. Foi on�a, como nos mostram os versos do poeta. Agora, volta para o orun, como ancestral. 
 
"A sociedade racista brasileira n�o queria reconhecer a exist�ncia das mulheres negras. A hist�ria dela � a nossa. Quem n�o viveu? Muitas gera��es depois dela viveram trag�dias. Nos identificamos na trag�dia. Era nossa hist�ria", diz Jurema.
 
Um cap�tulo dessa hist�ria � marcado pela viol�ncia, a pobreza e a fome,  sofrimento causado pelo racismo e machismo no Brasil. No entanto, ela n�o se intimidou. Elza n�o ficou na trag�dia. "Ela n�o se quebrou diante das for�as de aniquilamento. Ent�o esse tamb�m � um exemplo da gente. Ela mostrava que tem jeito de n�o quebrar".
 
E ela foi genial. "Existe uma parte da Elza que � s� dela, a parte da g�nia, talentos�ssima. Estava acima de n�s mulheres negras,  n�o s� n�s. Estava  acima de tudo. Era �nica".

Aos 91 anos, Elza cantava 'eu n�o vou sucumbir" e nada a fez perder altivez, nem o momento em que foi hostilizada publicamente no Brasil, tendo que ir para outro pa�s, nem mesmo o problema na coluna. "Foram 91 anos de ela sendo pot�ncia, novidade e inova��o". 
 
J�lia Tizumba interpretou Elza no musical que recebeu o nome da cantora . "Meu cora��o fica muito dividido. Um lado muito saudoso, de saber que n�o vamos mais conviver com essa mestra neste plano. Por outro lado, feliz de saber que ela fez a passagem em paz, sem dor, amparada como ela merecia". J�lia atuou no musical de 2018 a 2020, viajando o Brasil para contar a hist�ria de Elza. "Mais do que uma escola art�stica, � uma escola de vida, supera��o, resist�ncia e positividade."  J�lia lembrou que Elza j� se apresentou nos festejos do Tambor Mineiro, evento organizado por Maur�cio Tizumba.
 
Elza Soares como destaque de carro-alegórico
Elza na Marqu�s de Sapuca� no desfile que a homenageou (foto: CARL DE SOUZA / AFP)
 

Orgulho de ser favela 

Elza estampou o orgulho de ser da favela. "Ela representa a pot�ncia da favela. Ela nunca deixou a favela. Em 2020, ela foi homenageada pela Mocidade com o samba "Deusa da Vila Vint�m". Embora n�o tenha nascido na Vila Vint�m, no Rio de Janeiro, assumiu a identidade do lugar.  Da favela saiu e n�o poderia deixar de inovar no samba, m�sica que nasce nos morros. Foi uma das primeiras mulheres que inovou como int�rprete, posi��o que era monop�lio dos homens.

Voz na esfera p�blica

Elza ocupou a esfera p�blica por d�cadas, tornando-se refer�ncia para milhares de mulheres. "Elza foi presen�a p�blica. A gente fala de representatividade. Ela foi representatividade n�o s� no sentido das fotos, can��es ou do jeito maravilhoso como dan�ava. Ela foi representatividade inteira. Ela dizia. Existe essa gente. Ao mesmo tempo que ela cantava e dan�ava, a presen�a dela p�blica era uma narrativa, um discurso", pontua Jurema.

Elza ancestral

Na cosmogonia africana, os mais velhos seguem para o orun, um mundo espiritual de onde seguem como refer�ncia, como aponta a poeta e cientista pol�tica J�lia Elisa.
 
"No momento em que uma de nossas grandes pretas velhas fazem a passagem, algo me fisga em cheio com uma dose de agonia e gratid�o, em rela��o ao tempo. O tempo de Elza bate como um marco do tempo de todas n�s. Um suspiro comprido acontece, algo convoca, com ternura e tenacidade, em propor��es equivalentes, a botar sentido no nosso destino", diz J�lia.
 
J�lia lembra que  Elza segue debandando a fartura num mundo de escassez. "Honrar essa terra batida, de p�s n�o mais descal�os, e tra�ar, com coragem, a continuidade da teia deste imenso legado, improv�vel e intransfer�vel", completa a poeta.

Elza on�a

O poeta e multiartista Ricardo Aleixo escreveu dois poemas para Elza, num dele a compara a uma on�a. "Que tua Voz, que te ajudou a escapar do “planeta fome”, nos ajude a reensolarar a estrada at� algum poss�vel futuro para este pa�s-pesadelo onde mais temos morrido que vivido. Somos Elza: on�aremos."

 

O poeta dimensiona o tamanho dela: "� imensa. No m�nimo, tem o tamanho do Brasil que � tamb�m africano", diz. Ele destaca que a voz de Elza n�o s� era uma express�o vocal, mas uma forma de intepretar o mundo - "voz pensadora"

 

O som do grave da voz de Elza era a voz de Deus. Ali�s, ela ensinou que Deus � mulher. "Exemplo de mulher negra de garra e f�.  Lutou sempre para a garantia  dos direitos da classe art�stica. Rompeu os preconceitos de mulher negra. Assumiu a sua vida com dignidade", afirma  Jacira Silva do Coletivo de Mulheres Negras Baob�.
 

Rainha On�a

Por Ricardo Aleixo
 
Sou Elza.
Sou on�a.
 
Canto 
sem pedir
licen�a.
 
Sou on�a.
Sou Elza.
 
Eu on�o
desde 
nascen�a 
 


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