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Estado de Minas S�O GON�ALO

Elo� Rodrigues, uma brasileira rumo ao 'Miss Universo' trans na Tail�ndia

Apesar da aparente vida de 'glamour', ela admite: ainda � dif�cil se permitir sonhar no Brasil sendo uma mulher trans e negra


12/06/2022 10:31 - atualizado 12/06/2022 12:50

Eloá Rodrigues está no meio da rua, com roupa de gala e a faixa de miss; uma moto passa com dois jovens que olha para ela
Elo� Rodrigues clicada em rua no Rio de Janeiro, perto de sua casa (foto: Carl de Souza/AFP )

"Um ponto fora da curva". Assim se define Elo� Rodrigues, 29 anos, moradora de Jardim Catarina, comunidade do munic�pio de S�o Gon�alo, que vai representar o Brasil no concurso Miss International Queen, o "Miss Universo" trans, em 25 de junho na Tail�ndia.

Apesar da aparente vida de "glamour" que a coroa lhe confere e do apoio da fam�lia, ela admite: ainda � dif�cil se permitir sonhar no Brasil sendo uma mulher trans e negra.

Na cozinha da casa em que mora com a tia e duas irm�s, Elo� conversa enquanto prepara o almo�o. Falta pouco tempo para o concurso, mas o clima descontra�do com a fam�lia a faz se esquecer do nervosismo para o grande dia �s v�speras da viagem, neste domingo (12/6).

"� importante apoiar o sonho dela", afirma sua tia Ivone, que criou Elo� junto com a av�. "Ela faz de tudo para chegar aonde quer. Se n�o der certo, vai ter nosso apoio tamb�m quando voltar".

Essa cena familiar aparentemente comum � algo raro para pessoas como Elo�, principalmente no Brasil, pa�s que mais mata pessoas transexuais no mundo, segundo dados do relat�rio de 2021 da Transgender Europe (TE).

De acordo com a Associa��o Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em 2018 80% dos transexuais mortos no Brasil eram negros.

"Acho que o maior medo das pessoas trans e travestis que conhe�o � morrer", afirma.

"Isso j� foi uma realidade na minha vida", confessa, referindo-se ao medo da viol�ncia no in�cio da transi��o. "Mas hoje n�o � mais. Claro que n�o ocupo um lugar de privil�gio, porque continuo sendo uma mulher trans e preta, mas tenho a possibilidade de correr atr�s dos meus sonhos", acrescenta.

Falta de reconhecimento

Elo� come�ou a carreira de modelo junto com sua transi��o, ainda na adolesc�ncia. Ao contr�rio de muitas pessoas trans e travestis, teve apoio familiar desde o in�cio, o que considera ter sido crucial para chegar at� aqui. Vencedora do Miss Beleza T 2020, equivalente ao 'Miss Brasil' para pessoas trans e travestis para representar seu pa�s contra outras 23 candidatas do mundo inteiro no concurso que foi adiado por dois anos devido � pandemia.

Mesmo com o peso do t�tulo nacional, os desafios de reconhecimento ainda s�o grandes.

"Muita gente n�o entende a relev�ncia que isso tem para pessoas com uma realidade como a minha, n�o s� pessoas LGBTQIA+, mas tamb�m quem mora na minha comunidade", lamenta, enquanto se maquia com agilidade em seu quarto.

Com dificuldade para conseguir patroc�nio, quase todos os custos saem de seu bolso.

Como pr�mio do concurso nacional, ganhou as passagens de ida e volta para a Tail�ndia, a inscri��o no Miss International Queen e o traje t�pico. Mas ainda precisa arcar com quase 30 'looks' para os dias de "confinamento", quando participar� de uma s�rie de eventos e viagens com outras candidatas.

"As pessoas nas redes sociais n�o querem saber, elas querem a miss preparada, porque eu tive dois anos para me preparar. Mas foram dois anos de muito sufoco", confessa.

Nestes dois anos como miss Brasil trans, Elo� enfrentou dificuldades para encontrar parcerias com marcas ou receber cach�s. "Muitas pessoas e marcas n�o acreditam de fato no projeto ou n�o querem atrelar sua imagem a uma pessoa como eu", aponta.

"N�o foi f�cil, mas � poss�vel"

Apesar das dificuldades, desistir n�o � mais uma op��o. Estudante de Ci�ncias Sociais na Universidade Federal Fluminense, modelo e atriz, Elo� trabalhou no almoxarifado de uma empresa de �nibus. Hoje, representa muito mais do que um sonho para pessoas que se identificam com ela - ela simboliza a possibilidade de escolha.

"Quero mostrar que n�o foi f�cil chegar at� aqui, mas que � poss�vel", afirma. "Que as pessoas olhem para mim e pensem: 'nossa, ela conseguiu, ent�o eu tamb�m posso!".

Se ganhar o concurso, pretende usar o pr�mio de THB 450.000, al�m do trof�u e de parcerias VIPs, para ajudar a fam�lia e realizar um de seus maiores desejos pessoais: ser m�e.

"�bvio que quero muito a coroa, mas meu foco principal � que, quando as pessoas lembrarem do Miss International Queen 2022, lembrem que a representante brasileira deu muito orgulho", conta, com um sorriso tranquilo.

"Se eu voltar de l� com essa certeza, j� ganhei tudo".


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