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Estado de Minas PRECONCEITO

Pe�a de teatro � alvo de cr�ticas por ridicularizar asi�ticos

Dirigida no Brasil por Guilherme Weber, a pe�a coloca Dani Barros para interpretar uma personagem coreana. Internautas apontam preconceito nos al�vios c�micos


18/07/2022 17:50 - atualizado 18/07/2022 17:50

Imagem em preto e branco do elenco da peça 'TUDO'
A pe�a 'TUDO' � alvo de cr�ticas ap�s exibi��o no Rio de Janeiro (RJ) (foto: Ariel Cavotti/Reprodu��o)
A pe�a “TUDO”, escrita pelo argentino Rafael Spregelburd e dirigida no Brasil por Guilherme Weber, estreou em abril de 2022 no Festival de Curitiba e circula por algumas das capitais do pa�s. Ap�s uma das exibi��es no Rio de Janeiro (RJ), neste final de semana, o espet�culo foi duramente criticado nas redes sociais por ter ridicularizado pessoas asi�tico-amarelas com a personagem interpretada por Dani Barros.

Com elenco de cinco pessoas – Julia Lemmertz, Vladimir Brichta, Dani Barros, Claudio Mendes e M�rcio Vito –, o objetivo da pe�a, dividida em tr�s atos, � levantar questionamentos sobre o Estado, a Arte e a Religi�o na Am�rica Latina e vem sendo bem aceita pela cr�tica.
 
O apontamento de uma usu�ria do Twitter, no entanto, abriu a discuss�o sobre o al�vio c�mico da pe�a ser uma personagem coreana que n�o possui um nome bem estabelecido e se utiliza de trejeitos e sotaques estereotipados para fazer a plateia rir.

“Me deparei com asi�ticos sendo alvo de piada em pleno 2022. Uma das personagens servia apenas de al�vio c�mico e a gra�a dela era ‘ser’ asi�tica [...] No fim das contas, a personagem era uma branca adotada por fam�lia coreana; durante a pe�a erraram o nome dela; e a personagem n�o acrescenta em absolutamente nada no enredo, est� ali s� para refor�ar todas as piadas ofensivas que n�s, amarelos, sofremos”, comentou Rebeca, que � nipo-brasileira.

Rea��es nas redes sociais


Com o tu�te viralizado, outros internautas resolveram se manifestar a respeito do tema. Muitos, concordaram com a vis�o de Rebeca, mas tamb�m houve quem discordasse, a maioria com o argumento de que o humor tem se degradado com as gera��es mais recentes, ou que a piada n�o foi entendida.

“Problematizaram uma pe�a de teatro e acho isso o m�ximo... espero que essa milit�ncia desprovida de humor ocupe todas as lacunas at� chegar nos grandes ve�culos de comunica��o, j� que foram eles que plantaram essa sementinha l� atr�s nas cabecinhas dos complexados. Inimigos do humor”, afirmou um internauta.

Em resposta a isso, o cineasta Hugo Katsuo comenta que “o fen�meno do uso de racismo recreativo, em pleno 2022, em obras ditas progressistas � uma estrat�gia boa. A plateia ri sem sentir desconforto nenhum, n�o desestabiliza nada (muito pelo contr�rio). E, se algu�m reclama: � uma cr�tica ao racismo, voc� que n�o entendeu”.

Ana Hikari, atriz brasileira de ascend�ncia japonesa, tamb�m comentou sobre a postagem de Rebeca, demonstrando indigna��o pela pe�a reproduzir preconceitos mesmo quando se prop�e a estar em um meio progressista, afirmando que falta debate racial.

“Pessoas amarelas n�o s�o brancas! Parece que nem num ambiente aparentemente progressista, de esquerda, ‘faz o L’ no teatro, � poss�vel confiar que o recorte de ra�a est� sendo feito, n�? � urgente que a gente entenda que o debate racial tamb�m � sobre todas as pessoas n�o-brancas. �, tamb�m, sobre hierarquia entre ra�as que coloca as pessoas brancas no topo, literalmente rindo da gente”, expressou ela em uma postagem.

Alguns usu�rios chegaram a minimizar os coment�rios da artista, pautando uma suposta competi��o entre n�veis de opress�o na luta antirracista. “Meu povo sofre racismo h� 500 anos, a� esses filhos da p*ta v�m no s�culo passado pro Brasil e ainda querem dar esse papo, tomar no c* pra l�, vai”, comenta um deles. Nessa postagem, outros internautas responderam afirmando que coment�rios como esse atrapalham a luta antirracista.

“N�o � s� gente negra que sofre racismo, inclusive existe uma alian�a hist�rica amarela e negra na luta antirracista. Pessoas amarelas foram lidas como perigosas, mortas e perseguidas na m�o da supremacia branca. Racismo � racismo e ningu�m deve sofrer. [...] Pessoas n�o-brancas sofrem na m�o da supremacia branca e devem ser aliadas, n�o competirem numa olimp�ada de sofrimento”, diz Andreza Delgado, apresentadora do podcast Lan�a a Braba.

Representatividade amarela na m�dia


Outro apontamento sobre a personagem de Dani Barros � que, apesar de ser chamada de “a coreana” durante boa parte da pe�a, ela � branca, adotada por uma fam�lia amarela, mas que adota representa��es estereotipadas sobre essa comunidade. Al�m dessa problem�tica, a personagem reproduz um tipo que � visto frequentemente em produ��es que escalam pessoas amarelas.

“Quase n�o vemos amarelos em novelas, por exemplo. Quando t�m, s�o atores que est�o ali apenas para ‘serem amarelos’, nada mais”, afirma Bruna Tukamoto, produtora de conte�do. Ela enfatiza que, na maioria das vezes, personagens amarelos n�o t�m o mesmo n�vel de import�ncia ou desenvolvimento que o restante do elenco.

Hide Haseyama, estudante de teatro, conta que j� teve v�rios problemas de autoestima pela falta de representatividade e que se incomodava com representa��es estereotipadas. “Eu n�o me via daquele jeito, e isso deturpou a maneira com que eu me enxergava. Sou japon�s e n�o sou bom em exatas? O que � isso? Por que eu sou assim? J� cheguei a pensar que era um erro por tudo isso”, comenta.

Em um desabafo, Hide tamb�m comenta que, em 2021, fez um teste para a grava��o de um material publicit�rio e foi aprovado. J� com a grava��o e o teste de COVID-19 agendados, recebeu uma liga��o de sua ag�ncia falando que o diretor n�o o queria no elenco, pois precisava de uma fam�lia brasileira e um “asi�tico” n�o faria sentido no contexto planejado.

Num depoimento semelhante, o ator Carlos Takeshi conta que j� ouviu de um produtor de elenco que “ator japon�s marca muito, chama muito a aten��o”, e que, por isso, n�o s�o contratados com frequ�ncia. “No Brasil, o nipo-brasileiro ainda � visto como o 'japa', o estrangeiro, e essa vis�o tamb�m afeta a presen�a de descendentes de asi�ticos na m�dia”, afirma.

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podcast DiversEM ï¿½ uma produ��o quinzenal dedicada ao debate plural, aberto, com diferentes vozes e que convida o ouvinte para pensar al�m do convencional. Cada epis�dio � uma oportunidade para conhecer novos temas ou se aprofundar em assuntos relevantes, sempre com o olhar �nico e apurado de nossos convidados.

 
*Estagi�ria sob supervis�o do subeditor Eduardo Oliveira  


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