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Estado de Minas DIVERSIDADE

Como tornar as cidades mais seguras para mulheres: os planos do urbanismo feminista

A constru��o de espa�os p�blicos seguros para as mulheres est� ganhando cada vez mais for�a no mundo


13/10/2022 16:54 - atualizado 14/10/2022 09:24


Mãe com filho em rua da Cidade do México
(foto: Getty Images)

Qual mulher nunca sentiu medo de caminhar para casa � noite em uma rua mal iluminada ou evitou passar por um parque vazio?

O desenvolvimento de cidades seguras para elas est� ganhando cada vez mais for�a depois de d�cadas de cidades sendo projetadas por e para homens.

Como resposta �s ideias centradas em um conceito antiquado de uso do espa�o, surgiu o urbanismo feminista, que busca inclus�o e prote��o das mulheres no cotidiano.

Mas essa proposta vai al�m de apenas evitar a m� ilumina��o, aumentar a vigil�ncia ou fazer manuten��o: busca investir em estruturas urbanas inclusivas para criar espa�os de conviv�ncia, gerando a chamada "seguran�a passiva". Quanto mais pessoas transitam em um lugar, mais seguro ele se torna.

Urbanismo com perspectiva de g�nero

A quest�o � que todos devem se sentir � vontade no espa�o urbano, em qualquer lugar e a qualquer hora. Essa meta � o que os soci�logos chamam de "democratiza��o do espa�o urbano".

Viena vem utilizando esse conceito h� d�cadas, e agora cada vez mais cidades est�o se juntando a esse movimento.

"O que o planejamento urbano feminista busca � a igualdade efetiva entre homens e mulheres. Trata-se de reduzir qualquer discrimina��o que ainda exista na pr�tica", diz � BBC News Mundo a arquiteta espanhola Alexandra Delgado, do est�dio de arquitetura urbana AD.

"Em �ltima an�lise, um urbanismo feminista � um urbanismo que beneficia a todos n�s, porque nos d� um espa�o p�blico melhor, mais oportunidades iguais, melhor acesso a equipamentos, melhor transporte p�blico... � um urbanismo de oportunidade", acrescenta.

Os prim�rdios remontam � d�cada de 1960, quando feministas das �reas de arquitetura, urbanismo e geografia come�aram a demonstrar que o planejamento urbano n�o � neutro e que � preciso incluir as mulheres nele.


Imagens de Santiago, Rio de Janeiro, Tijuana, Cidade do Panamá, Lima, Guatemala, Buenos Aires e Ciudad Bolívar, ao sul de Bogotá
(foto: Getty Images)

Essa perspectiva oferece uma vis�o ampla das pessoas ao propor que mulheres e homens vivem e vivenciam o espa�o de maneiras distintas. Essa vis�o ganhou for�a devido ao aumento da popula��o das cidades.

Hoje, pouco mais da metade da popula��o mundial vive em cidades, segundo dados da ONU. Al�m disso, at� 2050, esse n�mero dever� aumentar para 68%. At� 2030, espera-se que o mundo tenha 43 megacidades com mais de 10 milh�es de pessoas, a maioria delas no Hemisf�rio Sul.

'Cidades seguras' da ONU

"Quando mulheres e garotas n�o conseguem andar em paz pelas ruas da cidade, fazer compras nos mercados, andar no transporte p�blico ou simplesmente usar banheiros p�blicos, isso tem um tremendo impacto em suas vidas. Tanto a amea�a quanto a experi�ncia de viol�ncia afetam seu acesso a atividades sociais, educa��o, emprego e oportunidades de lideran�a", afirma uma iniciativa internacional conhecida como Cidades Seguras e Espa�os P�blicos Seguros, da ONU Mulheres.

Desde 2011, esta Iniciativa Global fornece apoio a governos, organiza��es de direitos das mulheres, organiza��es n�o governamentais (ONGs), setor privado e outros parceiros com o objetivo de criar espa�os p�blicos seguros com e para mulheres e meninas em ambientes urbanos e rurais.

"Trata-se de ter um espa�o p�blico bem iluminado, cuidado, com �reas verdes, com equipamentos. S�o essas coisas que d�o seguran�a di�ria", explica Delgado sobre o programa da ONU que promove, entre outras coisas, o investimento na seguran�a dos espa�os p�blicos.

Experi�ncia na Espanha

Na Espanha, uma lei para a igualdade entre homens e mulheres inclui um ponto espec�fico sobre planejamento urbano.

Na pr�tica, isso significa que qualquer projeto de desenvolvimento urbano precisa necessariamente incluir um relat�rio de impacto de g�nero no qual seja sempre explicitado a seguran�a dos pedestres e a seguran�a dos espa�os diurnos e noturnos.

Isso se traduz em maior ilumina��o das ruas, aus�ncia de �reas escuras e manejo da vegeta��o dos parques.


Centro de Cornella de Llobregat, na Catalunha
Pa�ses como a Espanha enxergam a necessidade de renovar seu desenho urbano para tornar os espa�os p�blicos inclusivos, seguros e adequados �s necessidades de mulheres e homens (foto: Getty Images)

"Isso � t�o importante que alguns planos urban�sticos foram cancelados por n�o ter [relat�rio de impacto de g�nero]", diz a arquiteta espanhola. "Se n�o houver boa ilumina��o, por exemplo, os projetos n�o passam nas avalia��es do relat�rio de impacto de g�nero."

"Normalmente [o relat�rio] se traduz em uma melhoria do espa�o p�blico, sua ilumina��o e acesso ao transporte. Existem algumas quest�es, especialmente no espa�o p�blico, em que o plano precisa explicar por que n�o causa desigualdade nas mulheres, devido ao seu design. � um urbanismo que n�o prejudica ningu�m, mas que beneficia a todos n�s", diz.

Na opini�o da arquiteta espanhola, embora n�o tenha passado tempo suficiente para se dizer que esse urbanismo melhorou a seguran�a das mulheres nas cidades, ele "pelo menos tornou vis�veis alguns problemas nos quais voc� nem pensava antes".

"S� o fato de questionar: voc� est� pensando em seguran�a nos espa�os p�blicos? Est� pensando em seguran�a � noite? � algo positivo. Nesse sentido, est� indo na dire��o certa", diz ela.

Viena: uma cidade para mulheres

No in�cio da d�cada de 1990, Viena desenvolveu o maior projeto habitacional da Europa at� hoje constru�do por e para mulheres.

"A facilita��o das tarefas dom�sticas e familiares, a promo��o do bairro e um ambiente em que moradores possam caminhar com seguran�a foram os objetivos centrais do projeto modelo Frauen-Werk-Stadt I", disseram � BBC News Mundo arquitetos do Escrit�rio de Planejamento de Viena.


Edifício do bairro feminino de Viena
A Frauen-Werk-Stadt I, na Donaufelder Strasse 95-97, no 21� distrito de Viena, � o maior exemplo de habita��o e planejamento urbano adaptados �s mulheres na Europa (foto: Cortes�a de la Oficina de Urbanismo de Viena)

O projeto de 357 moradias liderado pela arquiteta Franziska Ullmann tamb�m teve o objetivo de promover a participa��o de mulheres no desenvolvimento urbano e principalmente no projeto de expans�o urbana.

Conclu�do em 1997, este projeto tornou-se refer�ncia para os est�dios de arquitetura de todo o mundo.

"� muito interessante como refer�ncia por causa de quest�es pr�ticas como, por exemplo, como existem liga��es visuais interior-exterior, entre o apartamento, a escada, o p�tio, o jardim, as pra�as, as ruas. Isso � vigil�ncia passiva", diz Delgado.

O bairro para mulheres tamb�m possui um t�rreo aberto e as garagens possuem estrutura aberta com ilumina��o natural, abaixo dos apartamentos, com acesso direto pelas escadas, para aumentar a seguran�a.

'Caminhos seguros' do M�xico

Na Am�rica Latina, a viol�ncia contra mulheres e meninas marca o cotidiano de muitas cidades. Segundo dados da ONU, no M�xico sete em cada dez mulheres enfrentaram algum tipo de viol�ncia em 2020.

De acordo com um censo de 2017 na �rea Metropolitana do Vale do M�xico, 61,4% das viagens feitas a p� na Cidade do M�xico s�o realizadas por mulheres.

Mas, em 2018, a Pesquisa Nacional de Vitimiza��o e Percep��o da Seguran�a P�blica (ENVIPE) revelou que apenas 14,3% das mulheres maiores de 18 anos disseram que se sentem seguras na rua. E 17 mil mulheres em cada 100 mil habitantes foram v�timas de roubo ou assalto na rua ou no transporte p�blico.

Entre as medidas implementadas para combater isso em lugares como a Cidade do M�xico, destaca-se o programa Caminhos Seguros, criado em 2019 para melhorar as �reas com maior incid�ncia de crimes contra as mulheres, incentivar o uso do espa�o p�blico e prevenir crimes.


Ato de mulheres
No M�xico, mais de 2 mil mulheres foram mortas at� agora este ano (foto: Getty Images)

A a��o promoveu aumento da ilumina��o p�blica com tecnologia LED, limpeza e reabilita��o de �reas verdes, instala��o de totens com c�maras de vigil�ncia e bot�es de emerg�ncia.

"O programa prop�e um desenho universal com uma perspectiva feminista para criar rotas seguras usando elementos que aliviam a viol�ncia e s�o integrados a uma imagem urbana que aumenta a percep��o de seguran�a", disse o Minist�rio de Obras e Servi�os da Cidade do M�xico, respons�vel pelo programa.

De 2019 at� hoje, foram criados 510 km de caminhos seguros. At� o final de 2022, a meta � chegar a 710 km. Atualmente existem mais de 65 mil c�meras de vigil�ncia e 11 mil bot�es de alerta.

Segundo as autoridades mexicanas, os crimes contra as mulheres em espa�os p�blicos diminu�ram 28,8% nesses locais desde 2019.

'S�o medidas superficiais'

No entanto, embora especialistas indique que este � o caminho certo, ainda h� muito a ser feito no combate � viol�ncia contra a mulher nas cidades.

"O conceito de arquitetura de g�nero no M�xico e todos os conceitos relacionados s�o superficiais, s�o apenas maquiagem. Sem d�vida eles funcionam, a maquiagem sempre funciona, mas s� tapa buracos, n�o resolve o problema", disse � BBC News Mundo arquiteta mexicana Tatiana Bilbao.

"Essas medidas s�o superficiais por v�rios motivos. O primeiro � porque realmente n�o h� uma pol�tica de defesa dos direitos das mulheres em profundidade. A vida das mulheres n�o � protegida no M�xico", critica.

"Por mais que se tenha pensado em ilumina��o p�blica, espa�os livres e outras medidas, isso n�o � suficiente. Mulheres s�o mortas na rua em plena luz do dia."

No entanto, Bilbao reconhece que todo esfor�o ajuda. Para ela, existem estrat�gias de planejamento urbano que funcionam melhor, como a cria��o de espa�os onde o trabalho de cuidado � socializado.

"Os becos existem, mas se voc� come�ar do zero tem que pensar em como fazer espa�os que possam ser muito mais seguros socialmente, porque eles t�m gente, porque s�o abertos... do que colocar luz em um beco escuro. Se houver becos escuros, algo deve ser feito contra eles, sem d�vida. Acho que tudo avan�a em paralelo."

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63245544


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