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Estado de Minas IGREJA E PRECONCEITO

Fiel acusa pastor da Assembleia de Deus de racismo

Adolescente teve a imagem dele retirada de uma campanha da igreja e alega que foi por causa do cabelo black power


25/10/2022 04:30 - atualizado 25/10/2022 08:17

Pastor Samuel Freire da Costa
Pastor Samuel Freire da Costa, ao centro da imagem (foto: Reprodu��o/Youtube)
O pastor Samuel Freire da Costa, filho de um dos mais influentes l�deres evang�licos do Brasil, est� sendo acusado de racismo por um adolescente que teve sua foto descartada de uma campanha da igreja.

Seu cabelo black power teria motivado o veto, conforme o pr�prio pastor disse em um em v�deo gravado por uma irm� do jovem e apresentado � Justi�a em uma a��o por danos morais contra o pastor e a igreja, que acabou extinta por quest�es t�cnicas.

Samuel � filho de Jos� Wellington Bezerra da Costa, que presidiu a CGADB (Conven��o Geral das Assembleias de Deus do Brasil) quase que ininterruptamente entre 1988 e 2016. Hoje o comando est� com outro filho seu, irm�o de Samuel.

O pastor Paulo Morais, do departamento jur�dico da igreja, parte da Assembleia de Deus Minist�rio Bel�m, diz que "os usos e costumes quanto a tamanho e tipo de cabelo masculino n�o t�m qualquer rela��o ou discrimina��o com grupos sociais, ra�as ou etnias". Trata-se apenas, afirma, "de pr�ticas adotadas pelas Assembleias de Deus em toda a sua hist�ria".

O jovem tinha quase 16 anos quando, segundo a a��o, participou de uma campanha da Assembleia de Deus Bel�m, em S�o Mateus, na zona leste de S�o Paulo. A imagem foi anexada ao processo: ele e mais uma adolescente seguram um bal�o infl�vel dourado na forma do n�mero tr�s, indicando quantos dias faltavam para o come�o do projeto "Creio S�o Mateus".

Para ele, diz a pe�a, "participar da campanha era uma vit�ria" porque, teria visto ali "a oportunidade de demonstrar aos jovens negros que eles tinham um lugar dentro da igreja, lugar que ele acreditava possuir".

Teria sido informado pelo l�der dos jovens da igreja, contudo, que a foto n�o seria usada. No dia do seu anivers�rio de 16 anos, de acordo com seus advogados, ele procurou o pastor Samuel para entender a situa��o. A conversa, a qual a Folha teve acesso, foi gravada por sua irm� em outubro de 2021. A reportagem n�o ir� revelar o nome do adolescente porque ele tem menos de 18 anos.

Nas imagens, o jovem chora e conta que demorou para se aceitar. Afirma que uma colega, no baile de formatura, disse que seu cabelo era "duro".

O fiel diz ao pastor que, por ser branco, ele nunca passaria por algo assim, "de vir aqui me justificar por causa do meu cabelo". Afirma tamb�m que n�o se sentia inclu�do na Assembleia de Deus e acrescenta que por muito tempo odiou seu penteado. A vida toda escutou que "cabelo bom � cabelo liso".

Samuel lhe diz que seu corte de cabelo desvia dos padr�es da igreja e cita uma passagem b�blica que pede obedi�ncia aos pastores. "N�s temos o nosso padr�o. Se voc� quer ficar, repito, � muito bem-vindo e amamos voc�. Mas n�o vem com esse neg�cio de inclus�o, de afro, isso � coisa do c�o, isso � coisa do inimigo. Pessoas com pele muito mais escura e com o cabelo muito pior que o seu, e est�o aqui cultuando ao mesmo Deus. T� bem? T� certo? Deus aben�oe."

A m�e do adolescente fez um boletim de ocorr�ncia na �poca, catalogado como discrimina��o por preconceito racial. O documento registra a acusa��o da fam�lia contra Samuel, em epis�dio narrado assim: "Ao ser questionado, o l�der do grupo (que segue ordens da igreja) disse que seu cabelo (black power, afro) estava grande e deveria ser cortado para ser exposto nas fotos, pois n�o se encaixa nos padr�es da igreja (que s�o baixos, curtos e penteados)".

A igreja rebate: "Em raz�o da incompreens�o por parte [do adolescente] e familiares, h� um inqu�rito policial perante a 49ª Delegacia de Pol�cia de S�o Mateus, onde todos foram ouvidos. O relat�rio da autoridade policial � conclusivo: 'Em nenhum momento [Samuel] quis ofender o jovem, at� elogiou seus trabalhos feitos na �rea infantil, por ach�-lo muito inteligente'".

O delegado Leandro Resende, titular do 49° DP, afirmou que o inqu�rito j� foi finalizado e agora o caso aguarda um posicionamento do Minist�rio P�blico.

Por causa do epis�dio, a fam�lia do adolescente entrou com a a��o contra o pastor e a igreja que ele representa na qual pediam R$ 50 mil por danos morais.

O adolescente pediu para ser beneficiado pela Justi�a gratuita, para que n�o pague o custo do processo. A a��o foi ent�o extinta porque o juiz indeferiu um pedido de mais prazo para os advogados comprovarem que a fam�lia do fiel n�o pode bancar com os custos processuais, uma quest�o processual t�cnica.

Os advogados dizem que v�o entrar com a a��o de novo, assim que esse problema t�cnico for superado.

No processo, os advogados Andrea Yamasaki e Pedro Mingatti dizem que "o cabelo afro � uma ferramenta pol�tica de luta contra a hipervaloriza��o da est�tica branca". Seu cliente, continuam, "sofreu por diversos anos com esse sentimento de menosprezo, at� que atingisse o entendimento de que o simples ato de manter o seu cabelo natural era uma forma silenciosa de combater o racismo que sempre o cercou".

H� tr�s frentes judiciais no caso: c�vel, criminal e administrativa, junto � Secretaria de Justi�a de S�o Paulo, a partir de uma lei que penaliza discrimina��o racial.

A �rea jur�dica da Assembleia de Deus afirma que "est� acompanhando inqu�rito bem como aguarda a manifesta��o do Minist�rio P�blico".

A reportagem conversou com um irm�o do jovem. A fam�lia continua indo � Assembleia, mas agora evita a sede, onde o confronto com Samuel aconteceu.

Segundo o irm�o, o adolescente ficou abalado com o caso, chorando muito. A m�e deles � fiel da denomina��o h� cerca de tr�s d�cadas, afirma.

Morais, do departamento jur�dico da igreja, diz que o pastor Samuel atendeu o adolescente ap�s um culto e "o orientou quanto aos usos e costumes praticados pela institui��o".

O l�der evang�lico "n�o foi compreendido", afirma. Ele tamb�m frisa que o adolescente que processa Samuel e a institui��o "continua frequentando normalmente a igreja em S�o Mateus".

"A Assembleia de Deus Minist�rio Bel�m trata com respeito todos os frequentadores, membros e fi�is em seus cultos e reuni�es e declara estar perplexa com o registro do boletim de ocorr�ncia e a a��o indenizat�ria."


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