
"N�o havia alternativa", disse Tse � AFP sobre seu processo, o qual ele abriu com outro homem trans identificado no tribunal como Q, depois de ouvir a decis�o do Tribunal de �ltima Inst�ncia de Hong Kong.
Na identidade dele "diz 'feminino', que � claramente diferente da minha identidade de g�nero real, est� errada. Carregar essa identidade, mesmo que todas as outras informa��es estejam corretas... as pessoas n�o v�o acreditar que sou eu".
Tse enfrenta frequentes rejei��es e humilha��es ao tentar realizar tarefas simples, como se hospedar em um hotel ou ir � academia.
Tudo o que ele queria era uma "vida normal".
- 'Alcance limitado' -
Os adultos trans de Hong Kong s� conseguiam, at� agora, mudar seus documentos caso comprovassem a opera��o de mudan�a de sexo.
O Tribunal de �ltima Inst�ncia determinou em 6 de fevereiro ser inconstitucional exigir de pessoas transg�neros que sejam submetidas a uma cirurgia para alterar seu documento de identidade.
Para Tse e Q, esta condi��o representa "uma carga inaceitavelmente pesada".
Ap�s a senten�a a favor dos dois homens, o Escrit�rio de Seguran�a do governo assegurou que "buscar� aconselhamento jur�dico sobre as a��es seguintes".
Hong Kong n�o possui uma legisla��o de identidade de g�nero, e uma for�a tarefa criada em 2017 pelo governo n�o prop�s uma atualiza��o.
A Human Rights Watch observou que a senten�a � "de alcance limitado".
Ainda assim, a decis�o envia uma "mensagem forte" �s autoridades para "reformar os crit�rios desatualizados de Hong Kong para o reconhecimento de pessoas trans".
Em Hong Kong, algumas pessoas temem que a repress�o de Pequim � oposi��o seja uma amea�a ao progresso das a��es de igualdade LGBTQIA+.
Muitos dos principais ativistas da cidade e seu �nico legislador abertamente gay foram detidos, o que deixou poucos defensores nos centros de poder.
- Sem vida normal -
Uma pesquisa da Universidade Chinesa de Hong Kong encontrou, em 2021, n�veis alarmantes de marginaliza��o social entre os moradores transg�neros da cidade.
Metade dos participantes relatou discrimina��o e 77% afirmaram ter pensado em suic�dio.
Tse estudou em uma escola crist� s� para meninas, que exigia o uso de roupas tradicionais, aconselhava a usarem cabelos compridos e rotulava qualquer coisa que n�o fosse a heterossexualidade como "n�o natural".
Sua fam�lia considerava sua orienta��o sexual como "uma doen�a".
Quando estudava na Universidade de Warnick, no Reino Unido, Tse conseguiu entender sua identidade.
Ao voltar para Hong Kong em 2017, enfrentou problemas com seus documentos por identific�-lo como mulher.
Ele j� foi impedido de usar os vesti�rios de uma academia, e um hostel dividido por g�nero n�o permitiu sua estadia.
"Claramente eu deveria estar no espa�o masculino, mas eles tinham medo de que algo acontecesse, embora nada tenha acontecido", contou.
Tse contou que quando sua identidade causa "tantos problemas di�rios e tratamento desigual", ele n�o � capaz de "viver uma vida normal em Hong Kong, como todo mundo".
- 'Somos pessoas normais' -
Tse passou quase seis anos indo para audi�ncias judiciais e promovendo manifesta��es, enquanto os ju�zes, advogados e a m�dia discutiam os detalhes mais �ntimos da sua vida.
Ele "estava mentalmente preparado para lutar at� o final, mas n�o esperava que demoraria tanto", comentou.
"Me custou tempo, esfor�o, dinheiro e os melhores anos da minha juventude".
Inspirado pela luta, ele lan�ou em 2020 uma ONG para defender os direitos trans em Hong Kong.
Todo mundo precisa saber que "somos pessoas normais", destaca Tse.
"Somos seus amigos e colegas, s� queremos viver, trabalhar, nos casar em Hong Kong", pediu.