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Estado de Minas TRABALHO

Estudo europeu indica racismo em sele��o para emprego


02/05/2023 09:47 - atualizado 02/05/2023 10:46
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Homem negro em frente a um computador em um escritório
(foto: Freepik/Reprodu��o)
A cor da pele pode interferir nas chances de um candidato que concorre a uma vaga de emprego na Europa. O que antes poderia ser uma suspeita foi comprovado por um dos maiores estudos de campo realizados sobre o tema, em processos seletivos reais. Os resultados revelam que descendentes de imigrantes nascidos no continente, a chamada segunda gera��o, est�o sujeitos a discrimina��o racial baseada em caracter�sticas f�sicas.

 

Levando em conta os retornos recebidos na primeira fase de uma sele��o, quando o recrutador, ap�s an�lise do perfil do candidato, demonstra ou n�o interesse em lev�-lo para a etapa sucessiva, foi evidenciado que candidatos de fen�tipos negro, asi�tico/ind�gena e caucasiano de pele escura receberam menor taxa de resposta positiva do que o fen�tipo branco. As compara��es s�o entre candidatos de perfis id�nticos em g�nero, tipo de vaga pretendida e regi�o de origem.

 

Conduzida na Alemanha, Holanda e Espanha, pa�ses onde a foto costuma ser inclu�da no curr�culo, a pesquisa foi realizada a partir da participa��o de candidatos fict�cios na disputa por quase 13 mil vagas de trabalho. O estudo, classificado como o primeiro em larga escala sobre o tema, foi realizado entre 2016 e 2018 e publicado na edi��o de mar�o da revista acad�mica "Socio-Economic Review", da Universidade de Oxford.

 

O experimento foi elaborado, segundo os pesquisadores, para verificar se a discrimina��o em pa�ses da Europa tinha como principal fator aspectos religiosos-culturais, como tradicionalmente vinha sendo considerado, em especial em rela��o a descendentes com origens em pa�ses mu�ulmanos. At� ent�o havia o entendimento, mesmo entre especialistas, que o preconceito europeu era diferente do existente nos EUA, fundamentado na ra�a. Os autores afirmam que o argumento s� se manteve por falta de pesquisa emp�rica na Europa.

 

"Normalmente mensuramos o impacto da ancestralidade �tnica manipulando apenas os nomes dos candidatos. Nesta pesquisa, fomos capazes de manipular tanto o nome do candidato quanto a sua apar�ncia racial", diz � reportagem Javier Polavieja, autor principal da pesquisa e professor de sociologia da Universidade Carlos 3 de Madri, na Espanha. "E o que as evid�ncias indicam � que os empregadores europeus est�o respondendo ao fen�tipo das pessoas, n�o apenas � ascend�ncia �tnica."

 

A busca pela precis�o do experimento � justificada pela diversidade cada vez maior da popula��o europeia, como consequ�ncia de fluxos migrat�rios. Segundo dados de 2021 do Eurostat, instituto de estat�sticas da Uni�o Europeia, 7% da popula��o entre 15 e 74 anos nasceu em pa�ses do bloco tendo um ou os dois genitores estrangeiros. Desses, 57% tinham pelo menos um dos genitores nascido fora da UE.

 

"Os novos europeus s�o um grupo crucial para a Europa. Muita coisa est� em jogo na integra��o deles, incluindo a sustentabilidade do sistema de bem-estar social e da previd�ncia. � importante, para todos, que essas pessoas se deem bem. E � importante verificar como eles est�o integrados no mercado de trabalho", afirma Polavieja.

 

Pelos resultados da pesquisa, a apar�ncia racial interfere na probabilidade de um candidato receber uma resposta positiva do recrutador nos tr�s pa�ses. Esse impacto � significativamente maior na Alemanha e na Holanda. Neles, todos os fen�tipos "vis�veis" s�o penalizados, especialmente o asi�tico/ind�gena e o negro, com probabilidades m�dias de resposta positiva de 44%, em compara��o aos 55% para candidatos id�nticos brancos.

 

Na Espanha, a situa��o � mais complexa. Primeiro, a taxa de resposta positiva para todos os grupos � muito mais baixa do que nos dois pa�ses, fator atribu�do � maior taxa de desemprego. Depois, a diferen�a da probabilidade de discrimina��o entre brancos e n�o-brancos � menor. Enquanto um candidato negro tem probabilidade de resposta positiva de 18%, esse n�mero � de 22% para um branco.

 

"Na Espanha, em geral h� menos discrimina��o direta apenas pela apar�ncia. Mas combina��es particulares de fen�tipo e ancestralidade podem gerar altas taxas de penaliza��es. Isso significa que uma mesma apar�ncia tem efeito diferente a depender do nome ao qual est� associada", explica Polavieja.

 

Por exemplo, a apar�ncia de um candidato caucasiano de pele escura n�o tem impacto na decis�o do empregador se a foto estiver associada a um nome europeu. Mas, se estiver associada um nome marroquino, isso gera alto �ndice de discrimina��o na Espanha.

 

Os autores concluem: recrutadores alem�es e holandeses s�o mais claramente "feno-racistas", mais sens�veis � apar�ncia, do que espanh�is, descritos como "etno-racistas". Na Alemanha e na Holanda, para todas as regi�es de origem, existe uma hierarquia de cor. Brancos t�m mais chance de respostas positivas que caucasianos de pele escura, que t�m mais chances que asi�ticos/ind�genas, os quais t�m mais respostas positivas do que negros. Na Espanha, n�o funciona assim.

 

"� chocante que, no s�culo 21, o fato de ter uma pele mais clara ou mais escura desempenhe um papel", afirma o professor. "Para n�s, o efeito mais importante desse estudo � despertar a consci�ncia. Os europeus, ao menos a classe m�dia europeia, tendem a acreditar que somos imunes a esse tipo de racismo. E os resultados da pesquisa mostram que, definitivamente, n�o somos."

 

A descoberta de dois padr�es de discrimina��o na Europa � alvo de estudos futuros, mas os autores especulam que a explica��o passa pelas diferen�as nos legados coloniais, com mais miscigena��o no caso dos espanh�is, e nas experi�ncias dos regimes autorit�rios do s�culo 20, com o papel da ra�a tendo sido mais fundamental no nazismo do que no fascimo espanhol.

 

O estudo foi baseado no envio de curr�culos fict�cios para 12.783 vagas de trabalho em seis categorias –cozinheiro, cabeleireiro, vendedor de loja, recepcionista, contador e profissional de TI. Todos os candidatos eram novos europeus entre 22 e 26 anos, nascidos no continente de genitores vindos de mais 40 pa�ses. Assim que a primeira resposta era recebida, o teste chegava ao fim, para n�o prejudicar os processos seletivos.

 

Questionado se a remo��o do retrato no curr�culo poderia diminuir o efeito do racismo nos processos seletivos, o pesquisador respondeu que, nos tr�s pa�ses do experimento, os curr�culos sem foto foram os mais penalizados em termos de resposta positiva, independentemente do grupo de ancestralidade. "N�o acho que banir a foto do curr�culo reduziria os n�veis gerais de preconceito. Nos EUA, a foto n�o � anexada e h� altos �ndices de discrimina��o baseados no nome."

 

PRINCIPAIS PONTOS

O ESTUDO

Grupo de pesquisadores criou curr�culos fict�cios para processos seletivos de 12.783 vagas de emprego na Alemanha, na Holanda e na Espanha, entre 2016 e 2018, com fotografias de pessoas reais anexadas aos curr�culos, como � o costume nesses pa�ses.

 

A INTEN��O

Verificar se europeus filhos de genitores imigrantes, a chamada segunda gera��o, sofrem discrimina��o de acordo com a cor da pele e/ou de acordo com aspectos religiosos-culturais ligados � regi�o de ascend�ncia.

 

A METODOLOGIA

Os curr�culos concorreram em seis categorias: cozinheiro, cabeleireiro, vendedor de loja, recepcionista, contador e profissional de TI. Os candidatos eram novos europeus cujos genitores tinham nascido em mais de 40 pa�ses. Assim que a primeira resposta era recebida, o teste chegava ao fim, para n�o prejudicar os processos seletivos.

 

CONCLUS�ES

A apar�ncia racial sozinha, sem informa��es sobre regi�o de origem, interfere na probabilidade de um candidato receber uma resposta positiva do recrutador nos tr�s pa�ses. Esse impacto � significativamente maior na Alemanha e na Holanda.

 

ALEMANHA E HOLANDA

Neles, todos os fen�tipos "vis�veis" s�o penalizados, especialmente o asi�tico/ind�gena e o negro, com probabilidades m�dias de resposta positiva de 44%, em compara��o aos 55% para candidatos id�nticos brancos. Os caucasianos de pele escura registraram 47%.

 

ESPANHA

A apar�ncia racial tem impacto menos direto quando isolada. A diferen�a entre respostas positivas de brancos e n�o-brancos � menor do que na Alemanha e Holanda: um candidato negro tem probabilidade de resposta positiva de 18%, ante 22% para um branco. Mas, a depender do nome ao qual a foto chega associada, a chance de discrimina��o aumenta. Um caucasiano de pele morena tem sua chance de resposta positiva diminu�da de 20% para 14,5% quando sua foto � ligada a um nome do Oriente M�dio ou do noroeste da �frica.


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