(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas SUELI VASCONCELOS

Minera��o em Minas Gerais: um cen�rio de desenvolvimento e impactos

A minera��o � respons�vel pelos mais graves desastres ambientais em Minas, ao mesmo tempo em que gera parte substancial das riquezas de mais 50% dos munic�pios


08/01/2022 20:30 - atualizado 08/01/2022 20:58

BR-040 foi totalmente interditada após lama invadir a pista
Lama toma conta da pista na BR-040 (foto: Leandro Couri/EM/D.A. Press)
Durante a manh� deste s�bado (8/01), as redes sociais e o WhatsApp foram invadidos por imagens de lama e destrui��o em um trecho da BR 040, no munic�pio de Nova Lima, nas proximidades de Belo Horizonte. 

O sistema de drenagem da Mina de Pau Branco, da Vallourec, cedeu devido �s fortes chuvas dos �ltimos dias.   

A corrente de lama, o toque da sirene e as trag�dias dos �ltimos anos trouxeram � tona o p�nico de uma nova cat�strofe, causada pela minera��o na regi�o do Quadril�tero Ferr�fero, umas das maiores reservas minerais do mundo. Felizmente, o cen�rio era menos devastador. 

O min�rio de ferro � explorado em Minas Gerais num contexto ecol�gico bastante dif�cil. Alguns dos dep�sitos mais abundantes e que j� foram considerados de melhor qualidade do planeta encontram-se no Quadril�tero Ferr�fero, uma �rea montanhosa, atrativa para os turistas, mas dif�cil para a minera��o em grande escala, de acordo com os analistas.

As chuvas de ver�o podem ser torrenciais (como se observa nos �ltimos dias), com precipita��o anual superior a 1.400 mm, e os mais diversos ecossistemas, que v�o desde as esp�cies da Mata Atl�ntica, ao Cerrado e campos de altitude, s�o encontrados nessa regi�o.

V�rias minas de superf�cie produzem mais de 200 milh�es de toneladas de min�rio por ano, colocando o Brasil entre os maiores produtores mundiais de ferro. Em  Minas Gerais, elas produzem volumes substanciais de material est�ril e rejeitos por tonelada de min�rio extra�da. Isso significa que grandes quantidades de sedimentos s�o removidas e devem ser descartadas e adequadamente controladas.

O Estado de Minas Gerais carrega no nome a import�ncia da atividade na sua economia, desde os tempos coloniais. A tradi��o da minera��o representa mais de 300 anos da hist�ria mineira, desde a descoberta do ouro de aluvi�o, no final do S�culo XVII. O ciclo do ouro transfere o poder pol�tico do Nordeste para o Sudeste e torna o Brasil o maior produtor mundial de ouro, ao longo do s�culo seguinte.  

No S�culo XX, inicia-se o Ciclo do Ferro, com a cria��o de Companhia Vale do Rio Doce – CVRD - (atual Vale), em 1942, durante o governo de Get�lio Vargas, e a explora��o da Mina do Cau�, em Itabira.  A economia mineira torna-se fortemente dependente da explora��o do seu subsolo.

A voca��o miner�ria do estado se consolida durante a Segunda Guerra Mundial, com a demanda dos EUA pelo a�o. Nesta fase, que se estende at� os anos de 1970, havia total desinteresse pelo meio ambiente. As pr�ticas adotadas com os rejeitos eram derivadas da t�cnica de empilhar entulhos em bota-foras, localizados em qualquer local adequado.

Esses dep�sitos livres de res�duos e lama degradaram-se e frequentemente encheram os rios com sedimentos, por quil�metros. A terra ao redor das minas parecia muito vasta para se preocupar. 

Em geral, a atitude dos diretores de minas, a esse respeito, parecia ser deixar que a natureza curasse suas pr�prias feridas, com uma recoloniza��o vegetal prec�ria.  Somente a partir de 1977, com a press�o da popula��o de Belo Horizonte, que via a crista da Serra do Curral ser gradativamente destru�da pelas mineradoras, que o setor come�a a se mobilizar para um processo ambiental mais sustent�vel. 

A Constitui��o Federal de 1988 come�a a regulamentar a pr�tica ambiental. O artigo 225 da Constitui��o estabelece que os exploradores de recursos naturais s�o obrigados a restaurar o meio ambiente degradado, obedecendo a normas t�cnicas exigidas em lei pelo �rg�o p�blico competente. A quest�o ambiental come�a a fazer parte da pauta desta atividade, com a aplica��o das leis que resultou em novos par�metros no processo de explora��o mineral. 

Na virada do s�culo XXI, o setor miner�rio atinge o �pice do seu desenvolvimento, com um ciclo de produ��o quatro vezes maior em rela��o aos anos anteriores, devido �s fortes demandas chinesas e necessidades impostas pela globaliza��o da economia.  

Segundo o Instituto Brasileiro de Minera��o (IBRAM), Minas Gerais representa mais de 50% da produ��o nacional de minerais met�licos como o ferro, o ni�bio (75% da produ��o mundial, com reservas em Arax� estimadas para atender as necessidades mundiais por 400 anos!), o maior produtor mundial de concentrado de t�ntalo, o �nico produtor nacional de zinco e l�tio etc. Os demais min�rios correspondem a 29% do total do pa�s.   

O faturamento miner�rio, no Brasil, em 2020, foi na ordem de R$209 bilh�es, de acordo, com o Minist�rio das Minas e energia (MME). A minera��o representa 4% do Produto Interno Brasileiro (PIB). Em MG, esse percentual � duplicado. 

Em Minas, h� 482 munic�pios (mais de 50% do total), que dependem, quase que exclusivamente, dos tributos e empregos gerados diretamente ou indiretamente pelo setor industrial mineral. Minas n�o vive s� de cafezinho com p�o-de-queijo, tutu, doces de compota etc. A minera��o � a for�a motriz da economia de  parte expressiva do estado. 

No Quadril�tero Ferr�fero esta atividade � caracterizada pela proximidade das �reas exploradas com os n�cleos urbanos. Muitos deles, densamente ocupados. Essa realidade amplia as tens�es com as comunidades locais, ao mesmo tempo em que gera boa parte da riqueza que as sustentam. 

H� tamb�m outra particularidade na regi�o: uma concentra��o expressiva das minas,  potencializando os impactos em um contexto geogr�fico especifico. Esse contexto requer um olhar integrado tanto em termos econ�micos como o da sua seguran�a estrutural. 

A forte demanda das �ltimas d�cadas do min�rio resultou no aumento da escala de produ��o, al�m de grandes press�es nas unidades industriais existentes e nas barragens de conten��o de rejeitos, algumas delas de m�todos construtivos muito questionados recentemente. 

Uma das consequ�ncias desse ciclo de superprodu��o do min�rio e a press�o sobre as barragens foram os tristes acidentes de Mariana (05/11/2015) e de Brumadinho (25/01/2019). O rompimento das barragens de rejeitos do Fund�o (Samarco) e do C�rrego do Feij�o (Vale S.A), respectivamente, ceifaram a vida de centenas de pessoas.  O rompimento da mina do C�rrego do Feij�o � considerado o maior desastre em n�mero de vidas humanas promovido por uma barragem na hist�ria do Brasil e do mundo. 

Al�m das vidas perdidas, os desastres afetaram a vida de comunidades inteiras, como as ribeirinhas, as ind�genas e a de produtores agropecu�rios, que dependem dos cursos d’�gua. A partir da�, foram escancarados os riscos e falhas do atual modelo de explora��o mineral e a fragilidade do sistema de fiscaliza��o em curso. Os danos socioambientais repercutiram mundialmente. 

No Brasil, h� 790 barragens de rejeitos, 185 com caracter�sticas muito similares �quelas que romperam em 2015 e 2019.  

Ap�s esses eventos,  a ind�stria da minera��o passa a enfrentar v�rios desafios. O maior, provavelmente, � aquele que exige conciliar a produtividade com a sustentabilidade ambiental e social. O modelo de minera��o brasileiro, at� ent�o adotado, passou a ser revisado  de modo a  evitar trag�dias das propor��es de Mariana e Brumadinho.

A atividade de minera��o � estrat�gica e fundamental para o desenvolvimento social e econ�mico de todo o mundo. Os pa�ses que det�m as maiores reservas, se administrarem bem os seus recursos e os resultados deles, podem se transformar em grandes baluartes da economia mundial. 

Os minerais met�licos comp�em os principais produtos consumidos no cotidiano mundial e s�o artigos cobi�ados pela grande maioria da popula��o. H� um crescente padr�o de consumo global que n�o observa claramente os padr�es estabelecidos para sua explora��o. 

De modo geral, todos os pa�ses ou regi�es que t�m suas economias subordinadas �s commodities minerais enfrentam os desafios impostos pela ciclicidade dos mercados, os riscos de escassez dos recursos naturais a m�dio-longo prazo (com a necessidade de desenvolver atividades econ�micas que substituam a era p�s-min�rio) e a maior responsabilidade com o meio ambiente e as comunidades locais. Com Minas Gerais n�o ser� diferente. 

Assim como Drummond, muitos mineiros enfrentam sua realidade: “podem ser tristes e orgulhosos,  de ferro;  com 90 por cento de ferro na cal�ada e 80 por cento de ferro nas almas".

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)