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Estado de Minas GEOPOL�TICA

A �frica, as mulheres e o crescimento da popula��o mundial

As proje��es demogr�ficas ainda s�o alarmantes. Para modific�-las, as mulheres ter�o que ter mais direitos e autonomia


13/12/2021 06:00 - atualizado 12/12/2021 13:29

Mulher africana com o rosto coberto por um pano e com um bebê no colo
N�ger � o �nico pa�s do mundo onde o indicador de fertilidade ultrapassa 6 filhos por mulher (foto: KAREL PRINSLOO/AFP)
A popula��o mundial continua a crescer, com uma tend�ncia em dobrar seu n�mero a cada 35 anos. � medida que aumenta o n�mero de habitantes no planeta, expande tamb�m a competi��o pelo controle dos seus recursos naturais. Mesmo que seja encorajador o progresso experimentado pela humanidade nas �ltimas d�cadas, essa realidade � muito preocupante. 

Atualmente, no mundo, uma mulher d� � luz 2,5 filhos, em m�dia. Isso corresponde � metade do n�mero de filhos no in�cio dos anos 1950.  Mundialmente, em 40% dos pa�ses, a taxa de fertilidade - o n�mero de filhos nascidos vivos durante a vida de uma mulher - � menor ou igual � taxa de “substitui��o” de 2,1 filhos por mulher, na qual os filhos, simplesmente, substituem seus pais.%u2029

Entretanto, esse padr�o � alterado na �frica. No continente africano, as mulheres d�o � luz a 4,7 filhos cada uma, em m�dia. Esses indicadores apontam que a popula��o africana est� crescendo quase tr�s vezes mais r�pido que o correspondente mundial. 

A taxa de fertilidade permanece alta em quase todos os 54 pa�ses africanos, com exce��o do N�ger, o �nico pa�s do mundo onde o indicador de fertilidade ultrapassa 6 (� de 6,6). Em seguida, v�m Mali, Rep�blica Democr�tica do Congo (RDC), Angola, Chade, Nig�ria, Burundi, Burkina Faso e G�mbia, todos com pelo menos 5 filhos por mulher.

Tradicionalmente, os africanos sempre foram caracterizados por grupos familiares grandes. Isso � explicado por v�rios fatores, tais como: manter elevado o status social; possuir m�o de obra familiar capaz de trabalhar a terra; contrabalan�ar as altas taxas de mortalidade entre crian�as pequenas, entre outros. 

No entanto, felizmente, os beb�s est�o sobrevivendo e se tornando pais, demonstrando uma condi��o de vida um pouco melhor que no passado. Se � um j�bilo a queda da mortalidade infantil, h� uma preocupa��o com os �ndices de crescimento populacional e os meios de atender � demanda que isso implica: educa��o, sa�de e empregos.

Hoje, mais da metade do 1,2 bilh�o de pessoas que habitam este continente � composto por crian�as ou adolescentes, o que pode levar a um ritmo de expans�o que a humanidade nunca conheceu. At� o final do S�culo XXI, segundo proje��es de dem�grafos, o n�mero de habitantes da �frica ter� triplicado ou quadruplicado.%u2029

Os dois bilh�es de habitantes, que sempre foram estimados para a �frica, em 2100, est�o sendo revistos. Todos os modelos demogr�ficos acreditavam que a taxa de fertilidade no continente cairia. N�o h� mais expectativas quanto a isso em curto-m�dio prazo. Os dados da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) indicam que a �frica ter� entre 3 a 6 bilh�es de pessoas, em oito d�cadas. Os n�meros saltam aos olhos e impressionam a todos.

A ONU revisa, frequentemente, para cima, a proje��o m�dia para a popula��o mundial em 2100: de 9,1 bilh�es em 2004, para 11,2 bilh�es, hoje. Parte significativa desse aumento inesperado vem da �frica.%u2029

Os dem�grafos temem que esse r�pido crescimento comprometa o desenvolvimento e a estabilidade do continente. � de conhecimento comum que as terras africanas n�o possuem solos de muita fertilidade e a disponibilidade h�drica � irregular, al�m de sistemas pol�ticos marcados por forte instabilidade, herdada, em parte, de um processo colonial europeu nefasto.

Os ideais Malthusianos voltam a assombrar, pois esse cen�rio pode implicar o aumento da competi��o por alimentos, empregos ou a busca pela sobreviv�ncia. Como consequ�ncia, os conflitos poderiam se espalhar por todas as regi�es do continente, lan�ar os jovens, sem grandes expectativas e desesperan�osos, nos bra�os dos grupos terroristas e intensificar a migra��o.  Sabe-se que 37% dos jovens adultos na �frica Subsaariana desejam emigrar para outro pa�s. A principal causa � a falta de empregos.%u2029

Se o mundo quer uma pol�tica para desacelerar o crescimento populacional, preservar a paz e a seguran�a, melhorar o desenvolvimento econ�mico e trabalhar para um meio ambiente sustent�vel, � necess�rio dedicar uma aten��o especial � �frica. 

Para isso, uma das estrat�gias que podem apresentar bons resultados � integrar programas de planejamento aos servi�os de sa�de, junto � emiss�o de declara��es e at� medidas governamentais dizendo que "quanto menor, melhor" em termos de tamanho da fam�lia, mesmo que isso seja considerado culturalmente indelicado e politicamente controverso. 

Nessa busca por um crescimento demogr�fico mais ritmado e menos acelerado, � fundamental o papel representado pelas mulheres. � urgente que elas adquiram direitos mais consolidados e tenham maior poder de decis�o individual. Educar as meninas e mulheres garantindo um status social e legal semelhante ao dos homens. 

As mulheres africanas n�o t�m muito poder de decis�o. Muitas decis�es, que deveriam ser pessoais, s�o delas suprimidas, como escolher a pr�pria contracep��o, dar � luz em boas condi��es, ter acesso � educa��o sexual, fugir do estupro ou da mutila��o genital (comum na Som�lia, pa�s do Chifre da �frica, onde a maioria esmagadora das meninas s�o submetidas a essa pr�tica primitiva). Alguns pa�ses avan�aram nesse aspecto, mas ainda � incipiente para resultados mais efetivos, se desejam uma mudan�a de panorama. 

O que se v� na �frica de hoje j� e inquietante. O progresso econ�mico, os avan�os democr�ticos pol�ticos e sociais s�o lentos, ao contr�rio dos altos n�veis de pobreza e desnutri��o. Tudo pode se agravar com uma popula��o em crescimento desordenado e tornar o horizonte mais nebuloso. 

As dificuldades devem piorar. Seria dif�cil para a �frica garantir boas condi��es de vida para uma popula��o de dois bilh�es de pessoas, quanto mais para seis bilh�es! A hist�ria n�o oferece muitas pistas. 

No planeta somente a �sia superou 4 bilh�es de pessoas, em 2007, mas, comparada � �frica, � 50% maior em �rea e tem n�veis significativamente mais altos de desenvolvimento econ�mico. Ainda assim, com esses pontos fortes, grandes �reas do continente asi�tico enfrentam problemas com as terras agr�colas empobrecidas, os n�veis de �gua em decl�nio, a inseguran�a alimentar e alta polui��o do ar. 

Para piorar, todas as previs�es indicam que as cidades africanas devem crescer. A taxa de urbaniza��o cresce rapidamente e metr�poles gigantes devem proliferar por v�rios pa�ses africanos e, com elas, todos os desafios de um crescimento urbano acelerado e desordenado.  

A �frica pode ser v�tima de sua demografia galopante. Se n�o controlar esse ritmo desenfreado, seu status, �s vezes alardeado como o futuro para�so econ�mico do planeta, permanecer� muito hipot�tico.

Reduzir o crescimento demogr�fico � fundamental para equilibrar as condi��es socioecon�micas e a estabilidade pol�tica regional. Alguns governantes africanos est�o empenhados em buscar solu��es e isso passa, obrigatoriamente, pelo planejamento familiar, que exige uma participa��o ativa das mulheres nesse processo.  

Nenhum pa�s alcan�ou plenamente a igualdade de g�nero. No continente africano, esse desn�vel � ainda mais acentuado. O sucesso das propostas governamentais depende da maior liberdade feminina e severa puni��o � misoginia. Educar as meninas e inserir as mulheres no mercado de trabalho s�o a��es fundamentais. Sem isso, podem cair no vazio todas as iniciativas. 

Quanto mais lenta for a transi��o para a fertilidade controlada, mais longos ser�o os desafios a serem enfrentados. A �frica tem pressa.

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