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Estado de Minas RESIST�NCIA

As mulheres trans que desafiam preconceito para professar islamismo na Indon�sia

Futuro do �nico centro comunit�rio isl�mico da Indon�sia para mulheres trans est� em risco depois que l�der morreu em fevereiro.


15/05/2023 11:26 - atualizado 16/05/2023 11:41

Centro Islâmico de Al-Fatah em Yogyakarta
Centro Isl�mico de Al-Fatah em Yogyakarta, na Indon�sia, tem cerca de 63 membros, todos transg�neros (foto: BBC)


O futuro do �nico centro comunit�rio isl�mico da Indon�sia para mulheres trans est� em risco depois que sua l�der, Shinta Ratri, morreu em fevereiro — e o governo diz que n�o pode apoi�-lo. H� 63 mulheres trans que frequentam regularmente o centro comunit�rio Al-Fatah, onde elas t�m um espa�o para orar, aprender o Alcor�o (livro sagrado do Isl�), capacitar-se ou simplesmente socializar sem serem julgadas por quem s�o.

 

Rini Kaleng � uma delas. Logo ap�s acordar, ela coloca maquiagem e sua peruca preta favorita antes de pegar sua bolsa e seguir pelas ruas da cidade hist�rica de Yogyakarta. Rini caminha quil�metros e quil�metros, tocando m�sica seu carrinho de som e cantando para ganhar a vida.

 

Aos domingos, sua jornada termina com uma visita ao Al-Fatah para estudar o Alcor�o. "� um lugar seguro onde podemos rezar", diz Rini, que frequenta o local desde 2014. Quando crian�a, ela sempre se sentiu mais confort�vel brincando com meninas do que com meninos. Tamb�m se vestia como menina, brincava com bonecas e se fantasiava de noiva com as amigas.

 

Ap�s ela dizer que � uma mulher trans, os pais e nove irm�os mais velhos aceitaram sua identidade. Agora, ela � reconhecida pelas pessoas na rua, que a veem cantando e dan�ando. "Posso dizer que sou uma celebridade aqui", ri.


Rini Kaleng
Rini Kaleng, frequentadora do centro, � bastante conhecida nas ruas de Yogyakarta (foto: BBC)

 

Rini ouviu pela primeira vez sobre o centro isl�mico para mulheres trans por meio de uma amiga que tamb�m queria estudar religi�o. E descobriu ali toda uma comunidade de mulheres como ela, que compartilhavam a mesma paix�o. Nas mesquitas, Rini diz que costumava receber olhares estranhos quando ia rezar. "N�o �ramos aceitas. Ent�o fui para o centro de Shinta Ratri", diz ela.\

"Muitos centros isl�micos n�o aceitam transg�neros", diz Nur Ayu, zeladora do centro. "Aqui, somos livres... livres para vir como homem ou mulher, como nos sentirmos mais confort�veis." Shinta Ratri foi uma das fundadoras do centro comunit�rio Al-Fatah.

 

Renomada ativista e l�der do centro desde 2014, Shinta colaborou com muitas organiza��es sem fins lucrativos para promover os direitos das pessoas trans na Indon�sia. Em mar�o, ela morreu aos 60 anos de um ataque card�aco, tr�s dias ap�s ser internada no hospital. Sua perda � profundamente sentida pelas frequentadoras do centro.


Shinta Ratri
Shinta Ratri foi uma renomada ativista dos direitos das pessoas trans na Indon�sia, comandando o centro de 2014 at� sua morte em fevereiro de 2023 (foto: BBC)

 

Nur descreve Shinta como uma "luz guia" e uma "irm�" e diz que, sem ela, o centro parece "vazio e desolado". A morte de Shinta tamb�m levantou d�vidas sobre o futuro do centro comunit�rio. O pr�dio � propriedade da fam�lia da falecida l�der — e os parentes pediram ao Al-Fatah para se mudar.

 

"Devemos ser capazes de continuar sem Shinta e ser independentes", diz Nur. YS Albuchory, secret�ria do centro isl�mico, explica que receberam apoio de amigos da comunidade e organiza��es de direitos humanos, tanto local quanto globalmente. Mas a aceita��o da comunidade trans no ambiente religioso da Indon�sia � limitada.

 

O estado n�o tem sido ativamente hostil e permitiu sua exist�ncia, dizem as frequentadoras, mas n�o fornece apoio direto. Waryono Abdul Ghafur, diretor de centros isl�micos do Minist�rio da Religi�o da Indon�sia, diz estar ciente da situa��o do centro. Argumenta, no entanto, que as autoridades n�o podem apoiar o centro, pois ele n�o � considerado um centro isl�mico leg�timo, segundo os regulamentos do estado.

 

Em um contexto mais amplo, o estado "apoia todas as atividades positivas", disse ele em entrevista por telefone � BBC News. "As pessoas querem orar, por que elas deveriam ser recusadas?", diz. Mas a realidade � que a sociedade "ainda rejeita o status social e religioso das pessoas transg�nero", continua ele. O Minist�rio da Religi�o nunca esteve em contato direto com o Al-Fatah ou facilitou qualquer uma de suas atividades, segundo as organizadoras.


YS Albuchory
YS Albuchory, secret�ria do centro isl�mico, supervisiona os programas realizados no local (foto: BBC)

Ora��o

Rully Mallay, outra l�der do centro, diz que o Al-Fatah � grato por "qualquer forma de legalidade que nos � concedida". Ela tem esperan�a de que um dia a comunidade transg�nero ser� mais aceita em um pa�s t�o diverso quanto a Indon�sia. Essa esperan�a motiva ela e seus amigos a manter o centro funcionando.

 

"O Isl� deve ser capaz de fornecer espa�o para que qualquer pessoa possa adorar livremente segundo os caminhos da religi�o", insiste Rully.

 

"Acho que a prote��o do estado � muito boa. E estamos otimistas de que, no futuro, o pa�s nos apreciar�, como parte de Bhineka Tunggal Ika [Unidade na Diversidade, o lema do pa�s]."


Rosidah (à direita) ensina duas alunas trans a ler o Alcorão
Rosidah (� direita) ensina duas alunas trans a ler o Alcor�o (foto: BBC)

 

O desafio agora � encontrar um novo local — e o dinheiro para financi�-lo. E precisa estar em um bairro amig�vel. Os atuais vizinhos em Yogyakarta foram receptivos. Uma delas � Rosidah, membro da comunidade local que n�o � uma mulher trans. Ela soube do centro quando integrantes lhe pediram informa��es. Agora, ela d� aulas l� h� mais de um ano.

 

"Estava ocupada, mas como estava muito curiosa, fui visitar", diz ela. Em seguida, Shinta Ratri perguntou se ela lecionaria no centro regularmente como volunt�ria. Rosidah concordou ap�s sua fam�lia concordar. "Tinha um pouco de receio delas, confesso, mas depois que vim para c�, depois de ensinar aqui, vi que essas pessoas s�o muito descontra�das, principalmente Shinta.

 

Estavam sempre muito pacientes, nunca estavam zangadas, apenas sorridentes", lembra ela. Teguh Ridho � outro volunt�rio que ensina Iqra no centro, um n�vel b�sico para a leitura dos textos sagrados. Ele ficou surpreso com a determina��o das alunas em vir de longe para as aulas. "Embora tenhamos apenas uma hora para aprender o Alcor�o, elas vieram de longe."

Mas o come�o n�o foi f�cil. Albuchory relembra um incidente em 2016, quando um grupo extremista isl�mico invadiu o centro e fez amea�as. "Eles disseram que para onde quer que nos mud�ssemos, iriam nos perseguir, a menos que demonstr�ssemos arrependimento e volt�ssemos a ser homens."

 

Foi Shinta Ratri quem lutou para o centro permanecer aberto com a ajuda de v�rias organiza��es sem fins lucrativos — at� que finalmente receberam garantias de seguran�a da pol�cia local. Albuchory diz que as vidas das mulheres trans que frequentam o centro melhoraram, ao assumirem responsabilidades morais informadas por ensinamentos religiosos.

 

"Depois de entrar na escola e voltar a conhecer a Deus, a vida fica um pouco mais organizada. E a comunidade vira uma segunda fam�lia", conta. Por isso, ela espera que o centro comunit�rio continue a oferecer aulas de religi�o e orienta��o para mulheres trans como ela, que desejam se aproximar de Deus. "Ainda preciso de Deus. N�o posso continuar sem orar. Tenho certeza de que outros amigos transg�neros t�m suas pr�prias motiva��es."

 


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