Um aplicativo de “simula��o de escravid�o” estava dispon�vel na Play Store, da Google, desde abril de 2023 e permaneceu at� o in�cio da tarde desta quarta-feira (24/5). O jogo, de classifica��o indicativa livre, possu�a a��es como “compra e venda de escravos”; “redu��o de custo de comida para escravos”; “puni��es para escravos”; e “recompensa por obedi�ncia”, mas dizia ser disponibilizado para fins de entretenimento e desenvolvedores afirmam “condenar a escravid�o no mundo real”.
Na descri��o do aplicativo, lia-se que � “o melhor simulador de propriet�rios de escravos e com�rcio de escravos”, com a proposta de trocar, vender e comprar pessoas escravizadas visando o lucro e impedindo rebeli�es e fugas. Desenvolvido pela MagnusGames, tamb�m trazia imagens de homens negros trabalhando ao redor de um senhor branco no material de divulga��o. At� o momento em que saiu do ar, jogo teve mais de 1.000 downloads e mais de 60 avalia��es.
Alguns usu�rios que deixaram avalia��o m�xima para o aplicativo comentaram coisas como “�timo jogo para passar o tempo. Mas acho que faltava mais op��es de tortura. Poderiam instalar a op��o de a�oitar o escravo tamb�m. Mas fora isso, o jogo � perfeito!”; “Ensina sobre o passado, pena que escravos n�o est�o mais � venda”; “Muito bom mesmo, retrata bem o que eu gostaria de fazer na vida real”; e “Excelente, d� pra ter uma no��o de como dominar os escravos”.
Uma pessoa deixou tr�s estrelas e disse que “o jogo � bom, por�m deveria trazer mais escravos para o mercado. Altere e bote mais escravos que darei 5 estrelas”.
- N�o foi 1ª, 2ª ou 3ª: 10 vezes em que Vini Jr. foi v�tima de racismo na Espanha
O aplicativo ainda tinha algumas avalia��es negativas, ainda que muito menores em n�mero que as positivas. “Al�m de ser uma afronta � hist�ria da humanidade, o jogo ainda � bem ruim”, escreveu um homem. “� inacredit�vel que esse tipo de conte�do esteja dispon�vel e acess�vel para crian�as”, disse outro.
Redes sociais
Nas redes sociais, o jogo repercutiu negativamente, o que levou o Google a retirar o app da sua Play Store.
“O ‘Simulador de Escravid�o’ est� dispon�vel para download no Google Play e eu n�o duvido mais de nada nesse mundo. Um jogo que simula a escravid�o? Pelo amor de Deus!!!”, publicou um internauta. “Daqui a pouco aparece o pessoal sem no��o pra tentar justificar que ‘se existem jogos de tiro, por que n�o de escravid�o?’”, comentou outro.
“O ‘Simulador de Escravid�o’ est� dispon�vel para download no Google Play e eu n�o duvido mais de nada nesse mundo. Um jogo que simula a escravid�o? Pelo amor de Deus!!!”, publicou um internauta. “Daqui a pouco aparece o pessoal sem no��o pra tentar justificar que ‘se existem jogos de tiro, por que n�o de escravid�o?’”, comentou outro.
A secret�ria Municipal de Ambiente e Clima da cidade do Rio de Janeiro tamb�m demonstrou insatisfa��o com o fato. “Um absurdo!!! O Google mant�m em sua loja de download de aplicativos um jogo chamado ‘Simulador de Escravid�o’, em que o usu�rio simula ser um propriet�rio de escravos para ‘extrair lucros e evitar rebeli�es e fugas’. Isso precisa ser retirado da plataforma, j�!”, escreveu ela em seu perfil no Twitter.
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB) tamb�m usou suas redes sociais para anunciar que, juntamente com a Unegro (Uni�o de Negras e Negros pela Igualdade), entrar� com uma a��o no Minist�rio P�blico para denunciar os desenvolvedores por racismo. “A ‘brincadeira’ consiste em comprar, vender, a�oitar pessoas negras escravizadas. � desumano, nojento, estarrecedor. � criminoso” Levaremos o caso at� �s �ltimas consequ�ncias, de prefer�ncia � pris�o dos respons�veis”, publicou ele.
“A pr�pria exist�ncia de algo t�o bizarro � disposi��o nas plataformas mostra a urg�ncia de regula��o do ambiente digital. O PL 2630 � um passo nesse sentido ao regular parte desse ecossistema, que � mais amplo. A regula��o das plataformas digitais � um imperativo da civiliza��o contra a barb�rie! PL 2630 SIM!”, complementou.
%uD83D%uDEA8URGENTE! DEN�NCIA CHOCANTE! A Play Store, loja de aplicativos do Android, tem um "jogo" chamado SIMULADOR DE ESCRAVID�O, no qual a "brincadeira" consiste em comprar, vender, a�oitar pessoas negras escravizadas. � desumano, nojento, estarrecedor. � CRIMINOSO! %uD83D%uDC47%uD83C%uDFFF
%u2014 Orlando Silva (@orlandosilva) May 24, 2023
A @unegrobrasil... pic.twitter.com/QHi8oaaSOi
Em nota, a Google confirma a remo��o do jogo de sua plataforma e afirma que n�o permite "apps que promovam viol�ncia ou incitem �dio contra indiv�duos ou grupos com base em ra�a ou origem �tnica". Confira na �ntegra:
"O aplicativo mencionado foi removido do Google Play. Temos um conjunto robusto de pol�ticas que visam manter os usu�rios seguros e que devem ser seguidas por todos os desenvolvedores. N�o permitimos apps que promovam viol�ncia ou incitem �dio contra indiv�duos ou grupos com base em ra�a ou origem �tnica, ou que retratem ou promovam viol�ncia gratuita ou outras atividades perigosas. Qualquer pessoa que acredite ter encontrado um aplicativo que esteja em desacordo com as nossas regras pode fazer uma den�ncia. Quando identificamos uma viola��o de pol�tica, tomamos as a��es devidas."
A reportagem procurou os desenvolvedores da MagnusGames para poss�veis posicionamentos quanto ao intuito da cria��o do jogo, mas ainda n�o obteve retorno.
O que � racismo?
O artigo 5º da Constitui��o Federal prev� que “Todos s�o iguais perante a lei, sem distin��o de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no pa�s a inviolabilidade do direito � vida, � liberdade, � igualdade, � seguran�a e � propriedade.”
Desse modo, recusar ou impedir acesso a estabelecimentos, recusar atendimento, impedir ascens�o profissional, praticar atos de viol�ncia, segrega��o ou qualquer outra atitude que inferiorize ou discrimine um cidad�o motivada pelo preconceito de ra�a, de etnia ou de cor � enquadrado no crime de racismo pela Lei 7.716, de 1989.
Desse modo, recusar ou impedir acesso a estabelecimentos, recusar atendimento, impedir ascens�o profissional, praticar atos de viol�ncia, segrega��o ou qualquer outra atitude que inferiorize ou discrimine um cidad�o motivada pelo preconceito de ra�a, de etnia ou de cor � enquadrado no crime de racismo pela Lei 7.716, de 1989.
Qual a diferen�a entre racismo e inj�ria racial?
Apesar de ambos os crimes serem motivados por preconceito de ra�a, de etnia ou de cor, eles diferem no modo como � direcionado � v�tima. Enquanto o crime de racismo � direcionado � coletividade de um grupo ou ra�a, a inj�ria racial, descrita no artigo 140 do C�digo Penal Brasileiro, � direcionada a um indiv�duo espec�fico e classificada como ofensa � honra do mesmo.
Leia tamb�m: O que � whitewashing?
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Penas previstas por racismo no Brasil
A Lei 7.716 prev� que o crime de racismo � inafian��vel e imprescrit�vel, ou seja, n�o prescreve e pode ser julgado independentemente do tempo transcorrido. As penas variam de um a cinco anos de pris�o, podendo ou n�o ser acompanhado de multa.
Penas previstas por inj�ria racial no Brasil
O C�digo Penal prev� que inj�ria racial � um crime onde cabe o pagamento de fian�a e prescreve em oito anos. Prevista no artigo 140, par�grafo 3, informa que a pena pode variar de um a tr�s anos de pris�o e multa.
Como denunciar racismo?
Caso seja v�tima de racismo, procure o posto policial mais pr�ximo e registre ocorr�ncia.
Caso testemunhe um ato racista, presencialmente ou em publica��es, sites e redes sociais, procure o Minist�rio P�blico e fa�a uma den�ncia.
Ou�a e acompanhe as edi��es do podcast DiversEM
O podcast DiversEM � uma produ��o quinzenal dedicada ao debate plural, aberto, com diferentes vozes e que convida o ouvinte para pensar al�m do convencional. Cada epis�dio � uma oportunidade para conhecer novos temas ou se aprofundar em assuntos relevantes, sempre com o olhar �nico e apurado de nossos convidados.