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Estado de Minas S�O PAULO

USP: homenagem a Kabengele Munanga reacende debate sobre a��es afirmativas

Em discurso, professor criticou a postura conservadora da universidade em rela��o �s cotas �tnico-raciais ao longo das �ltimas d�cadas


23/06/2023 08:40 - atualizado 23/06/2023 12:44
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Kabengele Munanga é um homem negro de cabelos crespos grisalhos. Na imagem, ele olha para um ponto distante, veste uma camisa bege e, ao fundo, está uma parede de ladrilhos vermelhos
Kabengele Munanga � um dos primeiros professores negros da USP (foto: Karime Xavier/Folhapress)
 

As a��es afirmativas da USP (Universidade de S�o Paulo) voltaram a ser alvo de debates e cr�ticas ap�s um imbr�glio ocorrido durante cerim�nia de homenagem ao professor Kabengele Munanga, um dos primeiros docentes negros da institui��o.

 

Em 2 de junho, durante cerim�nia, Munanga recebeu o t�tulo de professor em�rito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ci�ncias Humanas (FFLCH) e, em discurso, criticou a postura conservadora da universidade em rela��o �s cotas �tnico-raciais ao longo das �ltimas d�cadas.

 

"A USP renunciou � sua posi��o de pioneira e vanguarda intelectual para assumir uma postura conservadora, presa ao darwinismo social dominado pelo discurso da defesa do m�rito, da qualidade e da excel�ncia, diante da exclus�o do universo universit�rio de milh�es de jovens de ascend�ncia africana, ind�genas e brancos pobres, oriundos da escola p�blica", afirmou Munanga no evento. "Politicamente, a USP se fechou e se recusou a enfrentar os debates sobre cotas que se desenrolaram nos �ltimos quase 20 anos."

 

A USP implementou em 2017 uma pol�tica de reserva de vagas na gradua��o para candidatos pretos, pardos e ind�genas, tornando-se uma das �ltimas institui��es p�blicas de ensino superior do pa�s a adotar as cotas. A Lei de Cotas, aprovada pelo Congresso Nacional cinco anos antes, � v�lida somente para universidades e institutos federais.

 

Ap�s o pronunciamento do homenageado, a vice-reitora Maria Arminda do Nascimento Arruda quebrou o protocolo e pediu a palavra para exaltar as contribui��es acad�micas de Munanga e defender as pol�ticas de inclus�o e perman�ncia adotadas pela institui��o. "Eu queria chamar aten��o para as transforma��es que a USP tem vivido", afirmou a vice-reitora na ocasi�o. "Hoje a Universidade de S�o Paulo tem 54% dos seus estudantes vindos da escola p�blica. Hoje a Universidade de S�o Paulo despende mais recursos com pol�ticas de perman�ncia do que com a folha de pagamentos de professores. E a Universidade de S�o Paulo pensa que � absolutamente necess�rio ter uma pol�tica inclusiva �tnico-racial, de g�nero, em todos os campos."

 

A interven��o da vice-reitora em um momento solene se tornou alvo de cr�ticas. Em nota publicada em seu site no dia 15, a Associa��o de Docentes da USP (Adusp) descreveu o pronunciamento de Arruda como uma "agressiva fala do trono". "Embora o inesperado pronunciamento da vice-reitora tenha se iniciado e terminado com elogios � contribui��o de Kabengele, seu sentido geral foi o de uma reprimenda �s considera��es cr�ticas do professor em�rito", diz o texto.

 

Em nota enviada � Folha de S.Paulo, a Adusp reiterou suas cr�ticas � vice-reitora e disse que o pronunciamento dela confirma as teses de Munanga sobre a universidade. "O racismo institucional disfar�ado nos discursos na USP n�o � novidade, muito menos surpreende. Por�m, quando endere�ado diretamente a algu�m que est� sendo homenageado, requer que manifestemos publicamente a nossa repulsa a quem o pratica, e nossa solidariedade a quem o sofre", diz a entidade.

 

Horas ap�s enviar a nota � Folha, a Adusp recuou e informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a diretoria est� reavaliando sua posi��o e que o texto n�o representa a opini�o da entidade.

 

Houve cr�ticas ao pronunciamento da vice-reitora da USP por parte de outras institui��es. Nos �ltimos dias, circulou em grupos de WhatsApp uma nota de rep�dio assinada pela C�mara de Pol�ticas Raciais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) que acusa Arruda de ter constrangido Munanga publicamente. "Com tal conduta, desvela aquela vice-reitora o seu desprezo pela causa antirracista e pela ancestralidade negra", diz a nota.

 

A UFRJ, por meio de sua assessoria de imprensa, confirmou a autenticidade da nota, mas n�o se pronunciou sobre o seu conte�do. Na quinta-feira (22), o colegiado m�ximo da universidade transformou a C�mara de Pol�ticas Raciais em uma Superintend�ncia-Geral de A��es Afirmativas e Diversidade.

 

Por sua vez, a vice-reitora afirmou, tamb�m em nota � Folha, que a sua gest�o vem dando aten��o in�dita � agenda da inclus�o social dos alunos da universidade e cita a cria��o, no ano passado, da Pr�-Reitoria de Inclus�o e Pertencimento, �rg�o dedicado � implementa��o das pol�ticas de a��es afirmativas e com atua��o capilarizada por meio de conselhos em todas as unidades da USP. "Comungando desses valores de solidariedade e inclus�o, participei com muita alegria da cerim�nia de outorga do t�tulo de professor em�rito a Kabengele Munanga, oportunidade em que todos reconhecemos a d�vida da academia com a popula��o negra, e na qual foram comentados os esfor�os recentes envidados pela USP no sentido de repar�-la", diz Arruda.

 

A pol�mica ocorrida durante a homenagem a Munanga reacende o debate sobre a��es afirmativas na USP em um momento de reorganiza��o do movimento pr�-cotas dentro da institui��o. O movimento estudantil e o movimento negro pedem por mais a��es de perman�ncia aos estudantes de baixa renda que v�m ingressando na universidade em maior n�mero desde a ado��o das cotas na gradua��o.

 

Al�m disso, a reitoria � cobrada a estender as cotas �tnico-raciais � p�s-gradua��o e aos concursos de doc�ncia. No m�s passado, a USP aprovou cotas para concursos de professores com mais de tr�s vagas —a medida foi vista como insuficiente, uma vez que a maioria dos concursos contempla apenas uma vaga.

 

H�, ainda, press�o para que a universidade amplie seu programa de a��es afirmativas a fim de incluir outros grupos marginalizados, como transexuais e travestis e pessoas com autismo.

 

Por outro lado, a gest�o de Arruda � elogiada por oferecer 50 bolsas de p�s-doutoramento exclusivas para pessoas negras no valor de R$ 8.479 mensais. A iniciativa, in�dita, � vista como um instrumento para manter os v�nculos de pesquisadores negros com a universidade enquanto n�o conseguem aloca��o em concursos de doc�ncia.

 

Em entrevista � Folha, em fevereiro, Munanga ressaltou a import�ncia das a��es afirmativas no combate ao racismo no Brasil. "As cotas s�o para reduzir um abismo de 400 anos [de escravid�o]. N�o se reduz um abismo de 400 anos em 20 ou 10 anos. Apesar da qualidade da pol�tica, isso vai demorar gera��es", afirmou.

 

Munanga � antrop�logo e professor aposentado da USP. Ele nasceu em Bakwa Kalonji, na atual Rep�blica Democr�tica do Congo, em 1940. Est� no Brasil desde 1975.

 

Ao longo desses anos, ele se debru�ou nos estudos sobre antropologia da �frica e da popula��o afro-brasileira e nas quest�es raciais. O intelectual contribuiu de forma significativa na discuss�o sobre ra�a e para derrubar o mito da democracia racial.

 

Procurado para comentar as repercuss�es da cerim�nia em sua homenagem, Munanga n�o quis se pronunciar.

 

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