
Enfrentar esse problema � o objetivo de Priscila Siqueira, fundadora e presidente da organiza��o n�o governamental Vale PCD, que come�ou como um coletivo em 2019 e hoje realiza um mapeamento nacional de acessibilidade em locais voltados para o p�blico LGBTQIA . No M�s do Orgulho, a psic�loga de 29 anos conversou com a Ag�ncia Brasil sobre a import�ncia de participar e acessar esses passos, que fazem parte do processo de descobrimento, aceita��o e viv�ncia das identidades e orienta��es sexuais que comp�em a sigla.
"Desde muito jovem, eu frequentava espa�os LGBT, mas nunca via outras pessoas com defici�ncia nesses espa�os. Eu ia em palestras, rodas de conversa, mas eu n�o via interseccionalidade ser debatida. S� via aquela pauta LGBT engessada, e eu n�o me via ali. Era muito dif�cil eu me sentir acolhida". afirma ela, que, mesmo assim, conta que essa conviv�ncia foi importante. "S� me reconheci como mulher bissexual e s� me fortaleci saindo de casa, convivendo com pessoas, conhecendo novas pessoas. E pessoas com defici�ncia, muitas vezes, n�o t�m essa possibilidade, justamente por conta da barreira da acessibilidade, da superprote��o e do capacitismo social".
O resultado disso s�o situa��es desconfort�veis e constrangedoras, em que pessoas com defici�ncia acabam tendo que ser carregadas pela falta de rampas ou plataformas, ou simplesmente n�o conseguem permanecer nos espa�os. Essas experi�ncias fazem com que percam o desejo de sair de casa, conta Priscila, o que � essencial para o orgulho LGBTQIA .
"A acessibilidade � a �ltima coisa a ser pensada em uma festa, em um show e um evento grande. A gente tem tentado mudar essa realidade de alguma forma, mas temos muita dificuldade de estar presente nos espa�os. Acaba que essas pessoas deixam de frequentar os espa�os para n�o passar por esse tipo de coisa. A gente fica de fora e n�o tem como se orgulhar tanto, fica olhando todo mundo vivendo suas vidas e participando ativamente e a gente est� escanteado porque n�o est�o pensando em todas as possibilidades de exist�ncia e todos os corpos".
No Vale PCD, al�m de promover a acessibilidade nos espa�os, o trabalho desenvolvido inclui atendimentos de psicoterapia. Priscila Siqueira alerta que a exclus�o social adoece, e n�o h� oferta de profissionais formados para lidar com a sa�de mental PCD.
"Eu n�o me via como pessoa que poderia exercer minha profiss�o [de psic�loga], porque nao via outras pessoas com defici�ncia exercendo. N�o tive nada sobre sa�de mental PCD na faculdade. A sa�de mental PCD � deixada de lado. Existe uma sa�de mental feita para o homem branco, h�tero, cis, padr�o, sem defici�ncia", afirma ela, que v� algo parecido na discuss�o sobre acessibilidade. "Existe um estere�tipo de PCD. Quando voc� fala em pessoa com defici�ncia, o que vem na mente das pessoas � um homem branco em uma cadeira de rodas. E quando se fala em acessibilidade, o que se pensa � s� uma rampa, mas a gente sabe que n�o � bem isso".
Na equipe da ONG, Priscila, que tem nanismo, re�ne pessoas amputadas, autistas, cadeirantes e com doen�as raras, al�m de outras defici�ncias, para que cada um contribua com suas viv�ncias, tornando a acessibilidade proposta mais ampla. O atendimento �s pessoas que buscam acolhimento mostra quest�es com as quais muitos LGBTQIA podem se identificar, como a dificuldade de ter autoestima diante de uma comunidade que valoriza corpos que seguem um determinado padr�o. A exclus�o dos espa�os de promo��o do orgulho, por�m, faz com que as PCDs tenham um caminho mais longo para conquist�-lo.
"A quest�o afetiva � muito negada, principalmente no meio LGBTQIA . A pessoa sem defici�ncia, muitas vezes, n�o sabe lidar e acha que vai ter que ser cuidadora da pessoa com defici�ncia. E tamb�m h� um apagamento da sexualidade, porque tem muita infantiliza��o do corpo PCD. A gente n�o � visto como pessoas que sentem desejo, e isso impede que a gente se relacione".