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Estado de Minas PRECONCEITO

Secret�ria do MEC fala sobre racismo institucional nas escolas do pa�s

Zara Figueiredo lidera a discuss�o � frente da Secadi Secretaria de Educa��o Continuada, Alfabetiza��o de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclus�o


25/07/2023 09:35 - atualizado 25/07/2023 15:12
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Imagem da secretária do Ministério da Educação
"As crian�as est�o todos os dias na escola, em coletivo, e isso faz com que escola seja o primeiro lugar de um racismo institucional. E o Estado n�o tem feito um movimento de lidar com isso", diz (foto: Reprodu��o/Redes Sociais)

Enquanto o debate sobre uma revis�o da Lei de Cotas nas universidades est� parado no Congresso, o MEC (Minist�rio da Educa��o) planeja a implementa��o de a��es afirmativas tamb�m na educa��o b�sica. N�o em forma de reserva de vagas, como no ensino superior, mas sim de aloca��o de recursos para o combate �s desigualdades.

 

A professora Zara Figueiredo, 52, lidera a discuss�o na pasta. Ela est� � frente da Secadi (Secretaria de Educa��o Continuada, Alfabetiza��o de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclus�o), �rea que havia sido extinta no governo Jair Bolsonaro (PL) e foi recriada no atual governo Lula (PT).

 

Figueiredo � uma das duas secret�rias negras no alto escal�o do MEC, ao lado de Katia Schweickardt, que responde pela Secretaria de Educa��o B�sica. Para ela, a escola ainda representa para crian�as negras um primeiro contato com o racismo institucionalizado.

 

"As crian�as est�o todos os dias na escola, em coletivo, e isso faz com que escola seja o primeiro lugar de um racismo institucional. E o Estado n�o tem feito um movimento de lidar com isso", diz.

 

Ela aponta que o Brasil fez um esfor�o nas �ltimas d�cadas para universalizar o ensino fundamental, mas, apesar disso, o pa�s segue com desigualdades de aprendizado — meninos e meninas negras ainda apresentam piores dados de evas�o, por exemplo.

 

"Os negros sempre foram os que mais reprovavam e evadiam. E, sem qualquer mal-estar, ningu�m questionava porque exatamente s� esse grupo evadia. Isso foi naturalizado porque n�o se questiona em momento nenhum que isso � a estruturalidade do racismo", diz ela.

 

"Quando a gente come�a a ter dados de aprendizagem, v� que o problema � muito mais grave e os negros n�o aprendem. E isso tamb�m est� naturalizado."

 

Segundo ela, a secretaria trabalha atualmente em um projeto de um censo da equidade. "Se voc� n�o sabe quem s�o e onde est�o [quem mais necessita], at� a pol�tica de forma��o de professor e a territorializa��o para determinados grupos fica comprometida", diz.

 

Segundo ela, a a��o afirmativa na educa��o b�sica deve considerar a proporcionalidade na distribui��o dos bens. O Estado precisa, diz, fazer os esfor�os para essa distribui��o.

 

Filha de pai lavrador e m�e merendeira, ambos analfabetos, Figueiredo conta que somente aos 28 anos saiu da sua cidade natal, no interior de Minas Gerais, para estudar ou mesmo ir ao cinema. S� ent�o viu o mar.

 

"Foi tudo muito tardio. As pessoas brancas n�o fazem essa trajet�ria nesse tempo, isso n�o � casual. E eu n�o sou a �nica, um monte de gente como eu fez essa trajet�ria ou nem chegou a esse ponto. Essa � uma quest�o quando voc� � negra", diz.

 

"E as experi�ncias pelas quais as meninas, sobretudo as negras, passam s�o muito duras. Isso significa que abuso sexual est� posto todo tempo, ent�o voc� cresce nesse mundo", completa.

 

"Fui salva pela escola, mas a escola tamb�m foi minha dana��o. Estudei numa escola que n�o era para mim. Ent�o me chamavam de cabelo duro, Bombril, pixaim, isso � muito ruim para uma crian�a. O que me salvou foi que a minha m�e era merendeira da escola, ent�o era um mal-estar maior voc� jogar a filha da merendeira fora tamb�m. Mas todas as minhas colegas a escola p�blica jogou fora. Quando volto � minha cidade, vejo minhas amigas de idade com uma vida bastante sofrida. Isso � resultado dessa escola p�blica que n�o conseguiu lidar com essa estruturalidade".

 

Segundo ela, a escola tamb�m enfrenta algo comum na sociedade, que � a intersec��o entre g�nero e ra�a.

 

"A escola precisa ainda lidar com a quest�o racial", diz ela, ressaltando que o combate passa pela forma��o de professores. "Relatos de creche das pesquisas etnogr�ficas mostram que a forma como um professor reage a uma queda de um aluno branco e negro � muito diferente. A forma como voc� � repreendido � muito dura. Isso � muito institucionalizado".

 

A secret�ria tamb�m chama a aten��o para os estere�tipos raciais dentro da escola com rela��o a aprendizado e disciplina. "Voc� clareia o aluno, escurece o aluno. Se uma aluna tira 9 ou 10 e voc� pergunta para a professora qual a cor da estudante, ela vai dizer que � branca. H� uma concep��o impl�cita que diz 'ela � boa demais para ser negra'", diz. "A literatura mostra ainda que o professor empretece ou clareia o aluno a partir da indisciplina".

 

Na entrevista � reportagem, Figueiredo diz que, como as discuss�es de ra�a e g�nero na educa��o s�o graves e urgentes, a conversa acaba ficando muito angustiante. Mas ela guarda um otimismo quando fala das novas gera��es.

 

"Esses dias fui a um evento em Recife, tinha um monte de meninas negras e eu pensei: quanto essas meninas sabem muito mais que eu, que n�o tinha coragem de abrir a boca na escola", diz.

 

"A gente pensa dez vezes antes de falar uma coisa que voc� [branco] levanta a m�o e fala, [porque] voc� tem o privil�gio de falar bobagem. Ent�o eu olhava para elas l� no Recife, todas cheias de si, e tenho certeza de que quando elas entram na escola a coisa n�o � o melhor dos mundos, mas elas n�o s�o como eu. Elas levantam a m�o certamente, tretam l� dentro da escola, � outra coisa. E acho que exatamente por causa delas, dos movimentos sociais, que teremos mais uma contribui��o geracional do que efetivamente uma atua��o do Estado".


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