
A atriz da Globo Bruna Aiiso, que interpreta Laurita na novela de Walcyr Carrasco “Terra e Paix�o”, revelou recentemente que ela e sua m�e perderam um trabalho em uma campanha de Dia das M�es por n�o serem fisicamente parecidas. Filha de uma mulher preta e de um homem amarelo, de ascend�ncia japonesa, a atriz puxou mais ao pai e conta que j� vivenciou diversas situa��es de racismo envolvendo sua m�e.
De acordo com Bruna, recentemente, as duas estavam prestes a assinar um contrato para uma campanha de Dia das M�es de uma empresa de dermocosm�ticos, mas acabaram sendo cortadas quando a equipe respons�vel percebeu que dona Lia, sua m�e, era uma mulher preta, e n�o amarela. Para a atriz, o que ocorreu foi um sinal de racismo estrutural.
“Ningu�m nunca vai chegar at� mim e dizer que n�o vai me contratar porque a minha m�e � negra. Fica uma coisa subentendida. Disseram que a campanha n�o rolaria porque haviam pensado que a minha m�e era asi�tica. Desde pequena vi minha m�e passar por situa��es racistas, mas apenas de uns anos para c� me dei conta disso. As fichas v�o caindo e a gente vai entendendo e dando nome para as coisas. Ela passou por mais essa, mas n�o ilesa. As feridas se acumulam”, disse Bruna.
Debate sobre ra�a
A atriz tamb�m relembrou que, durante a inf�ncia, a m�e foi v�tima de racismo constante n�o s� por ser negra, mas tamb�m por ter uma filha de pele clara.
“Talvez ela n�o tivesse consci�ncia das microagress�es que sofrera desde sempre. Quando eu era levada � escola, as pessoas perguntavam quem era a m�e daquela crian�a, ou se ela era a minha bab�. No mercado, as pessoas a perseguiram por achar que ela n�o poderia estar ali. Hoje, mais adulta, sabendo como as coisas acontecem, tenho a consci�ncia de que ela sofria racismo”, explicou.
Atualmente, elas superam barreiras juntas. Apesar de aquela campanha de Dia das M�es n�o ter dado certo para elas, a atriz afirma que “foi at� bom n�o ter acontecido naquele momento” e que as duas chegaram a estrelar outras campanhas juntas.
“O audiovisual tem o v�cio de estruturar as fam�lias de forma �bvia, sendo que na vida real as coisas n�o s�o bem assim. O Brasil � m�ltiplo. Fomos convidadas para v�rias campanhas e eu acredito que ocupar e construir espa�os � a melhor resposta. Pretos e pretas no topo, empregados, protagonizando e enriquecendo � o que queremos”, afirmou.
Para al�m dos debates sobre protagonismo preto, Bruna tamb�m � conhecida por falar sobre pautas envolvendo a comunidade amarela no Brasil. Para ela, estrelar como Laurita na novela das nove da Globo � uma grande conquista n�o s� para ela, mas tamb�m para o que ela representa.
“S� o fato de ter uma atriz em uma novela da faixa das nove em uma papel relevante j� � motivo para se comemorar. A comemora��o � ainda maior quando Walcyr Carrasco brilhantemente d� a ela um p�ssimo car�ter e um vilanismo que chega a ser n�o s� anti�tico, mas tamb�m cruel”, enfatizou.
A atriz tamb�m expressou satisfa��o pela personagem n�o corresponder ao estere�tipo recorrente de “minoria modelo” – quando o grupo �tnico � percebido como possuidor de um grau de sucesso socioecon�mico superior � m�dia da popula��o, com fortes valores morais e comportamentos exemplares, geralmente para justificar a mis�ria de outros grupos vulnerabilizados e, dessa forma, tamb�m servindo como instrumento de fortalecimento da branquitude.
“N�s, artistas amarelos, podemos interpretar qualquer personagem. N�o somos estrangeiros. Somos brasileiros de v�rias classes sociais, realidades, personalidades e experi�ncias de vida. E uma m�dica amarela anti�tica � extremamente poss�vel. Walcyr arrasou nessa sacada”, comentou.
“Trata-se de uma mulher interessante, com muitas camadas e coisas surpreendentes. N�o � uma personagem que vai passar pelos outros, mas sim ter import�ncia na trama”, completou.
Protagonismo amarelo
Bruna afirma que faz parte de um avan�o no audiovisual, e que pretende continuar dessa forma. “Ainda que haja pessoas que pensem que estou reclamando, n�o estou. N�o � sobre mim, mas sobre uma classe inteira que n�o teve oportunidades. N�s, amarelos, existimos”, explicou ela, que tamb�m administra uma p�gina no Instagram onde procura divulgar o trabalho de outros artistas amarelos, o “Somos Brasileiros”.
Para ela, apesar da exist�ncia dos avan�os, eles ainda s�o lentos. Com o protagonismo da comunidade asi�tica no Oscar deste ano, Bruna acredita que o Brasil tende a seguir os mesmos passos e ampliar a discuss�o sobre a presen�a de atores e atrizes amarelos em seus produtos de entretenimento.
“Enxergo avan�os, mas � algo muito devagar. Acho que o Brasil tende a copiar tudo o que vem dos EUA. H� um delay [atraso], mas esse espelho � presente. O Oscar tem regras rigorosas quanto �s inscri��es, �s cotas para pessoas racializadas e � diversidade; e tem havido, aqui no Brasil, um movimento para que haja ao menos um ator ou atriz amarelo no elenco. Acho que deve haver essa discuss�o na maior emissora da TV brasileira e uma das maiores do mundo”, afirmou.
“� uma felicidade para a classe art�stica brasileira perceber que as coisas podem tomar um rumo diferente. Neste ano, Michelle Yeoh, ao ganhar o Oscar, disse que ‘esse pr�mio � para todas as meninas e meninos que se parecem comigo’. Para mim, ali ela j� disse tudo”, complementou.
Outros trabalhos
Al�m da novela, Bruna j� est� confirmada em outros trabalhos no segundo semestre de 2023. Ela estar� presente no filme que aborda o sequestro do apresentador e empres�rio S�lvio Santos, e em outro, chamado “Um dia cinco estrelas”. Nas plataformas digitais, estar� em “Desejos S/A”.
Para ela, s�o personagens que possuem um arco dram�tico, diferentemente de outros pap�is que ela j� havia interpretado.
Bruna j� havia participado de outra novela, “Bom Sucesso”, em que viveu um relacionamento com um homem negro, L�o, vivido por Ant�nio Carlos Bernardes, tamb�m conhecido como Mussunzinho por ser filho do humorista Mussum. Na ocasi�o, o personagem dele n�o teria um par rom�ntico claramente estabelecido e dividiria suas possibilidades de relacionamento entre a personagem de Aiiso, uma japonesa, e uma francesa, vivida por Rhaissa Batista.
Em uma vota��o popular, 90% dos telespectadores apoiou que L�o se casasse com a personagem de Bruna. “O p�blico gosta [de diversidade], e � algo que d� certo. N�o cabe uma desculpa para n�o ousar em colocar pessoas [de outras etnias] em cena”, disse a atriz.
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