Apesar da promessa dos chineses de investir pesado para equilibrar o com�rcio bilateral e agregar tecnologia � produ��o brasileira, empres�rios dos dois lados fizeram balan�o mais realista da viagem da presidente Dilma Rousseff � China, na semana passada. Eles concordam que o gigante asi�tico n�o deve ser visto mais apenas como amea�a a manufaturados nacionais, mas ressaltam que as iniciativas anunciadas ainda v�o requerer pelo menos uma d�cada de persistente negocia��o.
“O caminho ser� longo, pois n�o � f�cil inaugurar uma fase de agrega��o de valor �s exporta��es ao nosso maior importador. Os chineses est�o muito habituados a resistir �s press�es e n�o se preocupam com regras da Organiza��o Mundial do Com�rcio (OMC) e da Organiza��o Internacional do Trabalho (OIT)”, comenta Robson Braga de Andrade, presidente da Confedera��o Nacional da Ind�stria (CNI). Ele lembra que o Brasil j� enfrenta obst�culos para vender � China produto barato com qualidade superior.
Menor pre�o
O desafio continua sendo entender todas as vantagens competitivas dos asi�ticos e a complexidade do seu mercado consumidor. “A economia chinesa � de dif�cil compreens�o. Ela tem sistema de defesa comercial e estrat�gia de conquista do mercado global bem peculiares, tudo voltado ao objetivo de vender no menor pre�o”, pondera.
Em maio de 2010, a sede da Foxconn foi alvo de protestos, nos quais estudantes queimaram produtos da Apple (Mike Clarke/AFP - 25/5/10)
Em maio de 2010, a sede da Foxconn foi alvo de protestos, nos quais estudantes queimaram produtos da Apple
A miss�o empresarial que acompanhou Dilma e foi liderada por Andrade colheu informa��es sobre incentivos oficiais �s empresas chinesas, desde baix�ssima carga tribut�ria sobre a produ��o at� fomento � inova��o tecnol�gica. A situa��o trabalhista nos dois pa�ses, por exemplo, n�o � compar�vel. Na China, h� regi�es sem nenhuma Previd�ncia Social. No ano passado, a sede, em Hong Kong, da Foxconn — que anunciou investimentos de US$ 12 bilh�es no Brasil na �ltima semana — foi alvo de protestos devido a den�ncias de que uma onda de suic�dios de empregados da empresa na China foi causada pela explora��o nas f�bricas instaladas no pa�s. A companhia negou a correla��o entre as mortes e as condi��es ruins de trabalho.
O s�cio da consultoria Strategus, Rodrigo Tavares Maciel, disse que o relacionamento entre Brasil e China est� mudando. “N�o � mais s� com�rcio. Chegou a hora de os investimentos chineses se concretizarem”, resumiu. “Apesar dos resultados positivos da visita, como a vinda de investimentos externos, ainda precisamos criar programas de longo prazo que incentivem empreendedorismo, pesquisa e inova��o locais, reduzindo burocracias e estimulando parcerias entre universidades e empresas”, acrescenta o consultor Marcos Morita.
Paul Liu, presidente do Conselho da C�mara Brasil-China de Desenvolvimento Econ�mico (CBCDE), explica que a evolu��o das rela��es comerciais dos dois pa�ses vem refletindo diferentes fases da economia chinesa. “S� nos �ltimos anos, passamos a incluir investimento local de grande porte, como os dos ramos automotivo e eletr�nico”, disse. Na �ltima semana, foram mais de 20 acordos assinados.
Segundo Liu, investimentos anunciados pelas chinesas ZTE, estatal que produz equipamentos de comunica��o, e Foxconn, montadora de produtos da Apple, como iPad e iPhone, v�o exigir uma prepara��o do Brasil. “Como parceira do pa�s, a China oferece tecnologia de ponta dentro de um projeto a ser desenvolvido de 10 a 15 anos. O pa�s precisa se preparar, investindo em infraestrutura e recursos humanos. Se fosse para come�ar hoje, n�o haveria m�o de obra especializada suficiente”, destaca.
Na sua opini�o, o ideal seria o Brasil encarar melhor a ideia de se tornar plataforma de exporta��o de produtos de terceiros pa�ses e que as reuni�es de c�pula entre presidentes n�o esperem tanto para ocorrer. “Isso aceleraria decis�es e evitaria equ�vocos”, acrescenta, lembrando a s�rie de viagens bem-sucedidas da ex-presidente chilena Michelle Bachelet a Pequim.
Neg�cios na bagagem
Como saldo da viagem da presidente Dilma Rousseff � China, semana passada, o governo comemorou os an�ncios de abertura � carne su�na, a compra de 10 avi�es E-9 da Embraer pela China South, o investimento de US$ 12 bilh�es da Foxconn para a produ��o de telas de TV, celulares e tablets e a constru��o de f�brica de processamento de �leo de soja na Bahia e outra de equipamentos eletr�nicos em Goi�s.