As fam�lias que t�m em casa pelo menos um idoso s�o mais bem estruturadas que aquelas onde a faixa et�ria de seus integrantes n�o supera os 60 anos. Os rendimentos dos mais velhos, que em grande parte soma sal�rio e aposentadoria, s�o determinantes para elevar e garantir o potencial de consumo de todo o grupo. Na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a renda m�dia das fam�lias � de R$ 2,3 mil, mas nos domic�lios onde um idoso com n�vel superior – ou em cargo de dire��o e planejamento – permanece no mercado de trabalho, esse montante mais que triplica, atingindo R$ 7,4 mil. Desse montante, 53% s�o garantidos pela chamada terceira idade.
O levantamento feito pelo professor de economia da UFMG M�rio Rodarte leva em conta dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) produzida pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estat�stica e Estudos Socioecon�micos), em parceria com a Secretaria do Trabalho e Emprego de Minas Gerais. De forma surpreendente, os dados revelam que as classes A e B
Nas fam�lias onde pais e m�es maiores de 50 est�o em profiss�es que dependem de conhecimentos n�o necessariamente ligados � escolaridade, como � o caso dos prestadores de servi�os da constru��o civil, motoristas ou costureiras, a renda familiar se posiciona al�m da m�dia, atingindo R$ 2,7 mil, sendo que 44% correspondem � participa��o do mais velho do grupo. “Geralmente, o idoso conta com mais de uma fonte de renda, o que torna esses grupos familiares mais estruturados que a m�dia”, aponta o pesquisador.
Nas classes de menor renda, as fam�lias s�o menos dependentes da contribui��o do idoso, mas ainda assim o resultado do seu trabalho faz diferen�a no or�amento. “Quando h� um idoso no grupo, observamos que a renda familiar da base da pir�mide encosta na m�dia global de rendimentos”, observa Rodarte, apontando que o or�amento desses grupos atinge em m�dia R$ 1.918, sendo a contribui��o do idoso igual a um ter�o do total.
Adiar a sa�da do mercado de trabalho foi a decis�o do empres�rio Ant�nio Eust�quio Pinto, que se aposentou h� dois anos, mas, aos 62, est� longe de ficar de pernas para o ar. Pai de tr�s filhos, sua renda � importante para toda a fam�lia. No setor de equipamentos para ind�stria ele trabalha 12 horas por o dia, o que inclui viagens internacionais em busca de conhecimento e tecnologia para sua empresa. O esfor�o lhe garante a chance de realizar projetos. “N�o vou parar t�o cedo. Tenho muito para conquistar e preciso pagar essas contas. N�o tenho como fazer isso com o valor da aposentadoria.” Ant�nio conhece boa parte do mundo, mas considera que, junto com a esposa, ainda tem muito para descobrir e continuar na ativa � o caminho. “Tamb�m preciso ajudar meus filhos. Os mais velhos j� fizeram interc�mbio cultural e a mais nova est� indo para Portugal”, conta ele referindo-se a Paulo, 25 anos, Daniele, 22, e Ana Carolina, 20.
Os dados da PED mostram que Ant�nio Eust�quio integra uma tend�ncia do brasileiro, que cada vez permanece no mercado por mais tempo. Nos �ltimos 10 anos, a popula��o maior de 60 anos quase dobrou na RMBH, passando de 348 mil para 589 mil pessoas, enquanto no mesmo per�odo o percentual caiu 6% entre os mais jovens, de 10 a 24 anos. Apesar do crescimento da popula��o, o desemprego caminhou na dire��o inversa, caindo entre os maiores de 60 anos. O percentual de empregados nessa faixa et�ria, cresceu de 16% para 19% entre 1999 e 2010, ao passo que cresceu o desemprego entre os mais jovens. O percentual de empregados entre 10 e 24 anos caiu de 46% para 43%. Se observados os maiores de 50 anos, o crescimento da participa��o dessa faixa et�ria no mercado de trabalho � ainda mais vigoroso. Em 10 anos, avan�ou de 52% para 61%.
Orgulho
Mais conhecido como Diamantino, Rodney da Silva completou 60 anos e orgulha-se de ser um excelente gar�om. Aos 56 se aposentou pelo INSS, mas nem pensa em sair do mercado. Ele, que j� serviu personalidades como os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves, os atores Grande Otelo, Vera Fischer, M�rio Lago, o cantor Milton Nascimento, entre v�rios outros, tem cinco filhos. “Dois deles ainda moram comigo.” Ajudar a fam�lia � uma das metas do gar�om, que ainda tem uma das filhas na faculdade de engenharia civil. “N�o posso e nem quero parar. O trabalho � minha vida, n�o d� para viver com a aposentadoria”, comenta ele, que todas as noites serve com disposi��o e sorriso f�cil as mesas do Bar Tiradentes, na Zona Sul de BH.
Palavra de Especialista - Jos� Carlos Ribeiro/dvogado
Al�vio na Previd�ncia
O adiamento da sa�da dos mais velhos do mercado de trabalho � positiva, especialmente nos cargos de dire��o e planejamento e naqueles semi-qualificados, que incluem rendimentos entre o topo e a base da pir�mide. Se esse ritmo for mantido, os impactos do envelhecimento na Previd�ncia Social podem deixar de existir ou serem minimizados. Isso porque os aposentados continuar�o contribuindo para o sistema, seja diretamente, em empregos com carteira assinada, ou indiretamente, quando contribuem para o crescimento do faturamento de empresas que, por sua vez, contribuem com o sistema. A preocupa��o fica por conta da perman�ncia daqueles que est�o na base da pir�mide e continuam executando trabalhos onde � necess�rio vigor f�sico, mesmo com o avan�o da idade.
Um ter�o trabalha
Os aposentados est�o distribu�dos em todos os setores do mercado de trabalho. Eles s�o desde consultores seniores, que muitas vezes passam a orientar empresas do setor onde por muito tempo trabalharam, at� as fun��es da base da pir�mide, como os trabalhadores nos chamados servi�os gerais. N�o parar � uma decis�o consolidada, independentemente da classe social. No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), um a cada tr�s aposentados continua no mercado de trabalho. Em Minas, esse percentual � ainda maior, atingindo 36% do contingente, ou 774 mil idosos na ativa.
Uma delas � a costureira e professora Ana Gra�a Santana. Depois de 25 anos de trabalho na educa��o, ela se aposentou, mas nem pensou em desacelerar. Trocou de atividade, e, em cinco anos, se transformou em uma bem-sucedida empres�ria, que j� emprega nove pessoas. O que antes era bico se transformou em uma empresa. Ana abriu um ateli� de costura, onde faz roupas sob medida e trabalha para empresas. “N�o imaginava que a demanda seria t�o grande. Trabalho mais de 10 horas por dia e, este ano, vou tirar f�rias, as primeiras em cinco anos.” Ana, que � vi�va, viu sua renda crescer depois da aposentadoria e se prepara para realizar um de seus grandes sonhos: a casa pr�pria. “Hoje sou mais realizada, profissional e financeiramente, gosto mais de ser chamada de costureira que de professora.”
No Brasil, cerca de 21 milh�es, ou 11% da popula��o, s�o maiores de 60 anos. Em 2020, esse n�mero deve atingir 30 milh�es. A previs�o � que, em 2050, 30% da popula��o esteja nessa faixa et�ria.
