O que levaria voc� a mudar de emprego? Para a maioria dos profissionais brasileiros que ocupam cargos gerenciais, novas possibilidades de desenvolvimento da carreira, mais qualidade de vida e maior apoio � forma��o seriam as principais respostas a esse questionamento. � o que dizem os especialistas e atesta uma pesquisa realizada este ano pela empresa de recrutamento norte-americano Robert Half, que ouviu executivos de 11 pa�ses, entre eles o Brasil. Frente a esse quadro, cada vez mais as corpora��es daqui investem em programas motivacionais para reterem os trabalhadores em seus quadros.
De acordo com a coach e diretora t�cnica do escrit�rio Homero Reis e Consultores, Thirza Reis, a remunera��o � muito importante nessa quest�o, por�m outros elementos t�m ganhado mais relev�ncia entre os profissionais do pa�s. “Uma proposta financeira estruturada � fundamental, mas hoje muita gente troca de emprego por mais bem-estar”, avalia. “Quando a pessoa chega a postos gerenciais e j� tem alguma estabilidade econ�mica, ela come�a a colocar em xeque se vale a pena o volume de estresse.” O gerente s�nior da Robert Half, S�crates Melo, completa: “Hoje os profissionais est�o
Os n�meros da pesquisa quantificam o que dizem os especialistas (ver gr�fico). Para 34% dos entrevistados no Brasil, o principal fator que os levaria a escolher uma corpora��o em detrimento de outra seria o “desenvolvimento de carreira/ maiores responsabilidades”, ou seja, a possibilidade de crescimento profissional. A m�dia dos 11 pa�ses participantes do estudo ficou em 24%, o que significa que os brasileiros d�o mais import�ncia a esse ponto que, por exemplo, os austr�acos (17%) e os holandeses (16%).
Em segundo lugar no ranking, o quesito qualidade de vida foi a resposta de 32% dos entrevistados daqui. Na B�lgica, esse t�pico recebeu cita��o de 42% dos executivos ouvidos e, na Fran�a, ele mereceu ainda mais aten��o: 44% dos indagados colocaram esse elemento no topo da lista. No geral, ele recebeu 37% das indica��es. Segundo Thirza Reis, esse ponto � o que mais vem ganhando for�a entre os brasileiros nos �ltimos anos. “A qualidade de vida � o grande tema nas discuss�es hoje em dia, at� porque ela � o objetivo final de todo mundo”, comenta a coach, que explica em que consiste essa express�o t�o utilizada atualmente: “Dizemos que a ideia � ter os tr�s pilares fundamentais da vida — trabalho, relacionamentos e lazer — equilibrados. Ent�o, o objetivo � ter um emprego que n�o consuma os demais pilares.”
Um outro ponto mereceu destaque por parte dos profissionais brasileiros: o apoio � forma��o e aprendizagem. Enquanto pa�ses como Luxemburgo (1%) e It�lia (6%) colocaram esse t�pico no fim da lista, o Brasil concedeu-lhe o terceiro lugar, com 10% das respostas, quatro pontos percentuais acima da m�dia. Para os especialistas, esse incentivo � capacita��o � visto como um est�mulo pelos trabalhadores por acarretar em ganhos ao curr�culo, � carreira e, consequentemente, aos rendimentos.
A pesquisa da Robert Half tamb�m avaliou os contrastes entre os sexos no mercado de trabalho e concluiu que as mulheres levam mais em conta do que os homens fatores como qualidade de vida e apoio � forma��o na hora de escolher entre um emprego e outro. Quanto ao primeiro t�pico, foram 35% de men��es delas contra 27% deles. J� em rela��o ao incentivo � capacita��o, ele foi a escolha de 13% das trabalhadoras e de apenas 5% dos trabalhadores brasileiros. O presidente do Conselho Federal de Administra��o (CFA), Sebasti�o Luiz de Mello, explica o resultado com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE): “As mulheres estudam mais do que os homens. Elas t�m, em m�dia, 7,4 anos de estudos. J� o sexo oposto dedica-se cerca de 6,9 anos aos bancos escolares”. Al�m disso, Thirza Reis diz que “a mulher ainda � mais voltada para a fam�lia, para o cuidado e para a est�tica, enquanto o homem � muito educado para o resultado”.
Programas
Diante desses anseios dos profissionais brasileiros, as empresas t�m ampliado os programas motivacionais para manterem os trabalhadores em seus quadros. “A escassez generalizada de m�o de obra, qualificada ou n�o, criou um c�rculo virtuoso de valoriza��o profissional, em que as empresas buscam a todo custo segurar seus funcion�rios”, conta Mello. Nesse processo, vale quase tudo: de b�nus generosos at� cursos e viagens para o exterior, passando por flexibilidade de hor�rios e premia��es por metas alcan�adas.
� o caso da perfumaria brasiliense Lord, que mant�m muitos projetos para a empresa ser atraente aos olhos dos colaboradores. Entre os benef�cios que a loja oferece, est�o pr�mios por cotas de vendas, que podem chegar a viagens nacionais e internacionais, cursos de atualiza��o semanais, din�micas de motiva��o, descontos em sal�es de beleza e festas de confraterniza��o. “Esse investimento realmente funciona. Todos os nossos trabalhadores est�o h� bastante tempo na casa”, comenta a diretora de marketing da rede, Luciana Lucena, que participa da elabora��o das campanhas motivacionais.
Um exemplo do que diz a diretora � a atual gerente da filial da Asa Sul, Ana L�cia Rezende, 30 anos. H� 12, ela chegou � rede para trabalhar como empacotadora. Pouco depois, largou o emprego e foi para uma multinacional de cosm�ticos, mas s� ficou cinco meses por l�. “Senti falta de tudo que tinha no grupo, tanto o relacionamento com o diretores quanto os cursos e as viagens”, lembra. Ana L�cia voltou para a Lord e n�o se arrepende. Al�m de todo o apoio que recebeu para fazer sua p�s-gradua��o e v�rios outros cursos, ela diz ter realizado um sonho gra�as � perfumaria. “Conheci Paris e Marrocos, com tudo pago, depois de atingir umas metas de vendas”, conta, orgulhosa.
Artif�cio aprovado pelos especialistas, as premia��es tamb�m s�o a aposta da Beiramar Im�veis. “Temos programas de incentivo mensais, metas curtas premiadas com carros, motos, Ipads”, fala o diretor comercial da imobili�ria, Paulo Fernandes. Al�m disso, o grupo investe no espa�o f�sico e em cursos de forma��o para os colaboradores, alguns at� realizados em spas. De acordo com Fernandes, o esfor�o vale a pena. “Nosso �ndice de satisfa��o � muito alto, o que implica diretamente uma baixa rotatividade”, conta o diretor.
Troca-troca
Os �ltimos dados do Departamento Intersindical de Estat�stica e Estudos Socioecon�micos (Dieese) apontam que a rotatividade — ou seja, a troca de emprego — � alta no Brasil. Em 2009, ela atingiu a marca de 39%. Os n�meros mostram que, em 2009, 42,7% dos desligamentos ocorreram com at� seis meses de contrato. De 2000 a 2009, cerca de 80% dos desligamentos foram de v�nculos com menos de dois anos de dura��o.