Com Vicente Nunes
O temor de uma piora generalizada da economia global, decorrente do aprofundamento da crise nos Estados Unidos e na Europa, levou os principais bancos centrais do mundo a adotarem medidas para proteger seus mercados dom�sticos. Em um �nico dia, as autoridades monet�rias reduziram juros ou os mantiveram em n�veis �nfimos e atuaram diretamente no c�mbio. As institui��es querem, a todo custo, evitar que o p�nico observado nas bolsas de valores — que ontem despencaram mais de 5% na Europa e quase 6% no Brasil — se transforme em uma amea�a aos sistemas financeiros e �s moedas locais. A
Em uma tentativa de estancar a supervaloriza��o do iene em rela��o ao d�lar, ap�s a divisa chegar ao maior patamar desde a Segunda Guerra Mundial, em 1945, o Banco Central do Jap�o injetou dinheiro na economia e manteve a taxa de juros entre zero e 0,1% ao ano. A institui��o aumentou o seu fundo de compras de t�tulos de 10 trilh�es para 15 trilh�es de ienes. Ampliou ainda o programa de empr�stimos de 30 trilh�es para 35 trilh�es.
O Banco Central da Turquia adotou uma estrat�gia semelhante e prometeu despejar d�lares na economia dom�stica, como forma de segurar a valoriza��o da Lira turca. Em paralelo, a institui��o reduziu os juros b�sicos para 5,75% ao ano, o menor patamar hist�rico.
Mesmo as autoridades da Zona do Euro, que carecem de solu��es para estimular a economia no bloco, n�o se arriscaram a mexer nos juros. O Banco Central Europeu (BCE) manteve a taxa b�sica em 1,50% ao ano, postura adotada pelo Banco da Inglaterra, que deixou seus encargos inalterados em 0,50% ao ano. O banco brit�nico tamb�m reiterou a inten��o de utilizar at� 200 bilh�es de libras em seu programa de compra de t�tulos das institui��es financeiras.
A blindagem buscada pelos bancos � resultado da desconfian�a que, da mesma forma como ocorreu em 2008 durante o estouro da crise financeira, assolou os mercados de capitais ontem. Al�m do represamento dos empr�stimos entre os bancos comerciais, os investidores protagonizaram o que � conhecido no jarg�o econ�mico como “efeito manada” e fizeram derreter as bolsas de valores. Os principais �ndices europeus chegaram em alguns casos, como em Mil�o, a 5,16%. Nem a disposi��o em combater as turbul�ncias, demonstrada pelo presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, foi suficiente para acalmar os investidores. (Leia mais na p�gina 9).
Cont�gio
O p�nico nos preg�es europeus foi amplificado pela divulga��o do volume de pedidos de aux�lio-desemprego nos Estados Unidos, que somaram 400 mil na semana passada, e se propagou nos demais mercados. O Dow Jones, principal indicador de Nova York, caiu 4,31%, em seu pior resultado desde o in�cio de 2009. Al�m dos ativos de empresas, os investidores tamb�m fugiram das commodities (mercadorias com cota��o no mercado internacional). O petr�leo nos EUA caiu 5,77%, anulando os ganhos acumulados em 2011 pelos aplicadores. Gr�os e metais tamb�m entraram na espiral de vendas dos pap�is, empurrando o �ndice de commodities CBR, que re�ne 19 mat�rias-primas, 2,7% para baixo, maior recuo di�rio desde 11 de maio.
Nem mesmo o ouro, tido como reserva segura de valor, escapou. Depois de registrar um novo recorde de US$ 1.680 a on�a, o ativo se desvalorizou, refletindo a tentativa dos agentes de usar o lucro
obtido com o metal para cobrir outras perdas. A procura pelas pepitas, entretanto, deve continuar em alta, segundo Andr� Nunes, diretor da Reserva Metais.
Para ele, os �ltimos epis�dios na Gr�cia e a instabilidade dos pa�ses do Oriente M�dio (produtores de petr�leo) aumentaram a busca pelo ouro. “No cen�rio atual, onde n�o est� claro como as economias desenvolvidas resolver�o seu alto e insustent�vel endividamento, � bastante prov�vel que o ouro continue sua trajet�ria de valoriza��o”, afirmou.
Renda fixa
O �xodo dos investidores das commodities afetou diretamente a Bolsa de Valores de S�o Paulo (BM&FBovespa), uma vez que as a��es da Petrobras e da Vale s�o as que mais influenciam os preg�es. Os pap�is das companhias recuaram 7,36% e 5,39%, respectivamente. Com isso, a bolsa paulista encerrou o dia com tombo de 5,72%, aos 52.811 pontos, pior desempenho desde novembro de 2008.
O indicador chegou a recuar 6,05% no meio do dia e terminou as negocia��es sem a valoriza��o no pre�o de nenhuma a��o. Para Antonio Colangelo Luz, economista da Trevisan Escola de Neg�cios, � dif�cil prever a movimenta��o nos pr�ximos dias, mas o mercado tende a ficar mais cauteloso.
“O Brasil dever� sofrer n�o apenas com a redu��o das aplica��es em bolsa, mas tamb�m com a queda das exporta��es e o risco de descontrole da infla��o. Creio que os investidores v�o preferir a renda fixa, ouro ou at� mesmo a aplica��o em im�veis”, disse.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Miriam Belchior, entretanto, garantiram que o governo est� preparado para tomar qualquer medida necess�ria para minimizar os efeitos externos. Embora Mantega tenha admitido que a crise ter� impactos no Brasil, destacou que a situa��o do pa�s nunca esteve t�o s�lida, capaz de resistir a abalos. Para ele, � natural que ocorram quedas na cota��o de a��es da bolsa e nas rela��es comerciais.
Unidos
O presidente franc�s, Nicolas Sarkozy, telefonou ontem para o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, para discutir a situa��o na Zona do Euro. Ele tratar� hoje do mesmo assunto com a chanceler alem�, Angela Merkel, e com o l�der espanhol, Jos� Luis Rodr�guez Zapatero. O primeiro ministro italiano, Silvio Berlusconi, anunciou a ado��o de um “pacto” para refor�ar o crescimento do pa�s e tranquilizar os mercados “at� o m�s de setembro”.