A onda de den�ncias contra o concurso do Senado parece n�o ter fim. Depois de a Funda��o Getulio Vargas (FGV) fracassar na distribui��o de cadernos de provas em n�mero suficiente para os inscritos no dia das provas, aplicadas no �ltimo domingo, candidatos denunciaram que as avalia��es est�o repletas de quest�es clonadas de outras sele��es — em muitos casos, processos seletivos pequenos, de prefeituras espalhadas por todo o pa�s. Para especialistas, o pl�gio p�e em xeque um certame que j� come�ou marcado por pol�micas e pode levar at� mesmo � anula��o das provas.
Na disputa pela �nica vaga oferecida na especialidade de urologia, o m�dico Ricardo Fernandes, 36 anos, encaminhou ao Minist�rio P�blico Federal e � Pol�cia Federal uma den�ncia segundo a qual, das 40 quest�es da prova espec�fica para o cargo, pelo menos 32 foram copiadas de outros exames. Somente da prova aplicada pela Pol�cia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) em 2010, tamb�m para o cargo de urologista, a FGV teria tirado 29 quest�es. Muitas s�o id�nticas. Outras t�m poucas diferen�as no texto, por�m o mesmo conte�do, expresso inclusive na ordem dos itens. “Em alguns casos, a prova da FGV apresenta uma historinha, que em nada modifica a quest�o, e depois aparecem o enunciado e os itens id�nticos aos da prova da PM do Rio”, observou Fernandes, que pediu o cancelamento do exame.
Isonomia ferida
O Correio enviou as quest�es que foram alvo da queixa para a FGV. Depois de analisar o conte�do ao longo de quatro horas, a banca informou que investigar� a den�ncia. “Os questionamentos sobre a exist�ncia de perguntas j� constantes em concursos anteriores, no que se refere �s provas de fisioterapia e urologia, que abrigaram pouco mais de 0,5% dos candidatos inscritos, ser�o apurados com o rigor que sempre norteou a trajet�ria de quase 70 anos de bons servi�os prestados pela FGV ao Brasil”, informou a institui��o.

No dia das avalia��es, a FGV anunciou a anula��o dos exames para tr�s cargos — de analista legislativo, nas �reas de an�lise de sistemas e an�lise de suporte de sistemas, e de t�cnico legislativo, na �rea de enfermagem — por causa da troca de cadernos de provas em quatro salas de aula de uma institui��o de ensino em Taguatinga, no Distrito Federal.
Erros s�o recorrentes
Em meio a tantas den�ncias de irregularidades, a que mais choca os candidatos � a de que quest�es apresentadas na prova do Senado foram encontradas em concursos aplicados por outras bancas, sinal de incompet�ncia da organizadora. Em busca de uma das 246 vagas oferecidas no �rg�o, com sal�rios que variam de R$ 13,8 mil a R$ 28,3 mil, muitos deixaram de lado uma s�rie de projetos pessoais e investiram dinheiro e tempo na prepara��o. Somente com os valores das inscri��es, que variaram de R$ 180 a R$ 200, a Funda��o Getulio Vargas arrecadou R$ 29,2 milh�es.
“Se as quest�es fossem da pr�pria FGV, a gente at� poderia pensar que elas fazem parte de um banco e foram reaproveitadas ao longo de um per�odo. Mas ver perguntas de outras organizadoras � algo absurdo, talvez at� criminoso”, desabafou um concorrente ao cargo de fisioterapeuta, que tamb�m protocolou den�ncia no Minist�rio P�blico Federal.
O m�dico Ricardo Fernandes, 36 anos, tamb�m ficou revoltado com a situa��o. Como, na confer�ncia dos gabaritos, viu que pode ter conseguido pontua��o para ser convocado, ele disse que o pedido de anula��o pode at� prejudic�-lo, mas n�o abre m�o de uma investiga��o. “A gente estuda, abre m�o de um monte de atividades, pensando que vai fazer uma sele��o s�ria, e acontece isso”, disse.
A Associa��o Nacional de Prote��o e Apoio aos Concursos (Anpac) orientou os candidatos que se sentirem lesados a registrar queixas no Minist�rio P�blico. “Est� uma confus�o. O Senado escolheu muito mal a banca, que j� responde por outros problemas em concursos no Rio de Janeiro”, avaliou Ernani Pimentel, presidente da Anpac e da Vestcon. “Se, de fato, houver c�pias, isso � um profundo desrespeito ao candidato”, acrescentou.
Na contram�o, o advogado especialista em concursos David Nigri n�o v� motivos para tanto alvoro�o. “Existe problema quando a prova cobra conhecimentos n�o previstos em edital, mas n�o quando h� quest�es copiadas, a n�o ser que algu�m tenha a informa��o privilegiada de que elas ser�o repetidas”, opinou. (RM e CB)