V�tima do avan�o das importa��es, dos efeitos da crise financeira na Europa na demanda mundial e dos custos pesados da produ��o no Brasil, a ind�stria mineira viu a sua participa��o na produ��o de bens e servi�os do estado, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), cair � quase metade do n�vel que atingia em 1985. Naquele ano, quando o pa�s enfrentava a infla��o alta herdada do ciclo dos governos militares, o setor respondia por 28,4% do PIB mineiro. Vinte e cinco anos depois, novo levantamento da Federa��o das Ind�strias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) indica que essa fatia minguou para 15%, incluindo todos os segmentos da chamada ind�stria de transforma��o (cadeia de f�bricas que produzem bens acabados ou que ser�o usados por outros ind�strias a partir de uma s�rie de mat�rias-primas e insumos), � exce��o da minera��o.
O estudo da Fiemg leva em considera��o a s�rie hist�rica de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) sobre a participa��o da ind�stria de transforma��o no PIB de Minas, iniciada em 1985. O �ltimo dado dispon�vel se refere �s estimativas para 2010, mas n�o h� expectativas de mudan�as substanciais no ano passado, quando o crescimento da economia de Minas foi de 2,7%, id�ntico ao do Brasil. No pa�s, a Confedera��o Nacional da Ind�stria (CNI) j� trabalha com uma participa��o de 14,6% das f�bricas na economia, depois de esse bolo ter atingido 27,2% em meados da d�cada de 1980. O ano de 1985 ficou tamb�m marcado pela elei��o para presidente do ex-governador Tancredo Neves, que prometia debelar a infla��o, mas, morto em abril, n�o chegou a p�r os planos em pr�tica.
O decl�nio da participa��o da ind�stria na economia reflete tamb�m o ganho de espa�o de outros setores, como o com�rcio e o setor de presta��o de servi�os. No mercado de trabalho, a diferen�a do comportamento da ind�stria e do com�rcio preocupam, j� que a redu��o da participa��o da ind�stria no montante do emprego mantido pela economia � outro fator que caracteriza a desindustrializa��o. Segundo Guilherme Le�o, de 2003 a 2007 o emprego industrial cresceu 33%, enquando no com�rcio essa expans�o somou 45,5%. Em termos de participa��o no total dos empregos no estado, a ind�stria respondia, em 2009, por 14,2%, ante 14,8% em 2002.
O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, n�o est� satisfeito com as medidas prometidas pelo governo para reanimar a ind�stria. “O governo est� consciente do problema e tem o diagn�stico correto. Mas n�s precisamos de medidas mais ousadas e que sejam adotadas no curto prazo”, afirma. At� o momento, foi anunciado o corte da taxa b�sica de juros, aquela que remunera os t�tulos do governo no mercado financeiro e serve de refer�ncia para as opera��es nos bancos e no com�rcio e o governo promoveu mudan�as no Imposto sobre Opera��es Financeiras (IOF) para conter a entrada de d�lares no pa�s e evitar a valoriza��o do real. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou na semana passada estar negociando a desonera��o da folha de pagamento para setores que mais reclamam da concorr�ncia desleal com os importados, como o t�xtil, de autope�as e m�quinas e equipamentos.
Cr�dito Em Minas, o governo tem tentado atuar em apoio � ind�stria, com oferta de cr�dito a juros mais baixos por meio de repasse de recursos do Banco de Desenvolvimento de Minas (BDMG), que opera tamb�m com dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES), informa Marco Ant�nio Rodrigues da Cunha, subsecret�rio de ind�stria, com�rcio e servi�os da pasta do Desenvolvimento Econ�mico. “As outras duas esferas dessa equa��o, os juros b�sicos e o c�mbio dependem de uma pol�tica do governo federal. Outro campo de atua��o do estado s�o as iniciativas para estimular a diversifica��o das nossas exporta��es”, afirma.
O estudo da Fiemg procura mostrar que o estado tem caminhado para um quadro de exporta��es excessivamente concentradas em produtos b�sicos, como min�rio de ferro e caf�, e semi-elaborados, a exemplo de produtos sider�rgicos, que t�m baixa intensidade tecnol�gica e inova��o, mais um sinal amarelo no sentido da desindustrializa��o. O n�vel atual da participa��o da ind�stria de transforma��o no PIB de Minas � semelhante ao de 2002, quando foi estimado em 14,9%, menor fatia de toda a s�rie estudada pela Fiemg.
Setor v� inefici�ncia da porta para fora
A antiga cr�tica � inefici�ncia da ind�stria, como fator de incapacidade do setor de competir no mercado brasileiro e no exterior, j� foi superada e perdeu sentido, para os representantes da atividade. “A inefici�ncia est� da porta das f�bricas para fora. � claro que o setor tem sempre de inovar e se modernizar, mas mesmo fazendo isso n�o vai atingir os n�veis de produtividade e competitividade internacionais”, afirma Marcelo Luiz Moreira Veneroso, vice-presidente regional da Associa��o Brasileira da Ind�stria de M�quinas e Equipamentos (Abimaq). A institui��o divulgou, recentemente, um estudo que atribui � inefici�ncias da infraestrutura no Brasil e ao excesso de impostos o equivalente a 44% do total de custos da produ��o da atividade.
As ind�strias de m�quinas t�m batido, com insist�ncia, na tecla da desindustrializa��o por conta da perda de mercado para os produtos importados, que contam com benef�cios e uma pol�tica cambial favor�vel � sua capacidade de competir em pa�ses como a China. Parte do crescimento da produ��o que as empresas brasileiras t�m mostrado, de acordo com Marcelo Veneroso, est� associado justamente � compra de componentes de origem estrangeira adquiridos a pre�os mais baixos. O cont�udo nacional dos equipamentos fabricados no pa�s, com essa estrat�gia, teria baixado de 70% at� 2008 para 40% no ano passado.
Para o presidente da Confedera��o Nacional da Ind�stria (CNI), Robson Andrade, se n�o houver altera��o desse quadro de perda de competitividade da ind�stria brasileira, a participa��o do setor manufatureiro na economia dever� cair a 14% at� o fim do ano. Outro dado preocupante indica que a balan�a comercial dos produtos manufaturados exportados pelo pa�s no ano passado ficou deficit�ria em US$ 90 bilh�es, quando h� seis anos havia super�vit. “O que a gente v� � que a ind�stria perde participa��o no PIB n�o em decorr�ncia da migra��o de m�o de obra para outros setores estimulados pela cadeia industrial, como ocorreu no passado, mas pela dificuldade de competir e enfrentar as importa��es vultosas”, afirma.
O pesquisador Reinaldo Carvalho de Morais, da Funda��o Jo�o Pinheiro, lembra que essa capacidade da ind�stria de movimentar e dinamizar outros setores na presta��o de servi�os e fornecimento �s f�bricas � essencial para uma economia que busca crescimento sustent�vel. Essa liga��o envolve tamb�m ganhos de produtividade e qualidade, observa Guilherme Le�o, da Fiemg. “A ind�stria, especialmente a de transforma��o, � o setor com mais capacidade de movimentar cadeias produtivas mais extensas e promover e induzir mais inova��es, inclusive nos setores de servi�os, incluindo a educa��o”, diz o economista.