O mercado para produtos org�nicos – sem uso de agrot�xicos, aduba��o qu�mica ou horm�nios – est� se expandindo rapidamente no Brasil, mas os produtores ainda enfrentam barreiras para chegar aos consumidores. A avalia��o � de produtores org�nicos reunidos na confer�ncia Green Rio, evento de agricultura org�nica paralelo � Confer�ncia das Na��es Unidas sobre Desenvolvimento Sustent�vel, Rio+20.
A produtora rural Romina Lindemann, da empresa Preserva Mundi, que fabrica produtos de uso medicinal e veterin�rio a partir do neem, uma erva indiana cultivada na fazenda da fam�lia, no munic�pio de S�o Jo�o de Pirabas, no nordeste do Par�, reclama da falta de assist�ncia t�cnica e da log�stica de entrega.
“O neem � uma planta indiana usada h� mais de 4 mil anos na medicina na �ndia. L� ele � usado como repelente de insetos e como creme dental, pois os indianos mascam os galhos do neem como se fosse a escova de dentes”, disse.
“A dificuldade para os produtores org�nicos � o acesso � assist�ncia t�cnica. Hoje o produtor fica carente. A ind�stria qu�mica tem pessoal para colocar equipes viajando de carro pelas estradas do pa�s. Os produtos naturais custam at� mais barato, mas n�o tem a assist�ncia que a ind�stria qu�mica d�. O governo tenta fazer algumas a��es, mas ainda � muito limitado”, disse Romina, que cultiva 160 mil p�s de neem em sua fazenda.
O produto tem apresenta��es em p�, sabonete ou l�quida e pode ser usado no combate a piolhos, bernes, vermes e mosca de chifre em bovinos, na forma de ch�.
Para a produtora org�nica Rosangela Cabral, dona da empresa Secale P�es Org�nicos, o maior problema n�o foi a aceita��o de sua linha de p�es, mas a dificuldade para encontrar uma log�stica de distribui��o que atenda tanto aos grandes mercados como �s pequenas lojas de produtos naturais, muitas a centenas de quil�metros de dist�ncia de sua padaria, em Porto Alegre.
“O neg�cio est� crescendo, mas t�m mil dificuldades. A empresa est� indo bem, mas eu preciso ter mais f�lego. O problema � a log�stica de entrega, pois o volume � pequeno e o frete � caro. Para o org�nico deslanchar de vez no Brasil � preciso resolver a quest�o da distribui��o”, avaliou Rosangela que h� seis anos fabricava 500 p�es por m�s e, hoje, produz 15 mil.
O produtor rural Dick Thompson, da regi�o de Itaipava, em Petr�polis (RJ), come�ou h� cerca de 22 anos entregando verduras org�nicas para cinco amigos que moravam no Rio de Janeiro. Depois de trabalhar por anos no mercado financeiro, ele resolveu investir em um s�tio de 50 hectares na serra e optou pela produ��o sem venenos ou adubo qu�mico, quando criou a empresa S�tio do Moinho.
“Na �poca era uma novidade completa. Comecei pensando em alimentar minha fam�lia de uma forma saud�vel e correta. A� entendi que o processo era ben�fico n�o s� para a sa�de do indiv�duo, como para o meio ambiente e o mundo. Comecei entregando verduras em domic�lio para cinco amigos. A coisa foi crescendo e hoje fazemos 300 entregas por semana, disse Dick, que tamb�m vende seus produtos em uma loja pr�pria na zona sul e deve inaugurar outra na Barra da Tijuca. Al�m das hortali�as, ele tamb�m comercializa massas, granolas, p�es e outros artigos org�nicos.
Para ele, o pre�o dos org�nicos jamais ser� o mesmo que o da produ��o convencional, pelo simples fato de que a produ��o org�nica leva mais tempo para chegar ao ponto de colheita ou de abate, justamente por n�o utilizar de aduba��o qu�mica nem de horm�nios. “Um alface org�nico leva tr�s meses para estar pronto. Um de agricultura convencional pode ser colhido em dois meses. Ou seja, com org�nico eu tenho quatro safras por ano, enquanto com aduba��o qu�mica consigo seis. Os org�nicos ser�o sempre de 20% a 30% mais caros”, comparou Dick.
O secret�rio nacional de Agricultura Familiar do Minist�rio do Desenvolvimento Agr�rio (MDA), Laudemir M�ller, acredita que estrat�gias de governo possam equilibrar os pre�os. “O nosso objetivo � que os org�nicos tenham os mesmos pre�os de mercado que os n�o org�nicos. Nossa estrat�gia � promover a produ��o org�nica e a agricultura familiar, gerando desenvolvimento no meio rural, e dar acesso a um alimento de maior qualidade nutritiva e socioambiental. A produ��o org�nica j� n�o � cara. Temos uma pol�tica de cr�dito espec�fica para os org�nicos e uma assist�ncia t�cnica e de extens�o rural”, disse M�ller. Atualmente, segundo o MDA, o pa�s tem registrado cerca de 90 mil fam�lias dedicadas � agricultura org�nica.
A respons�vel pela confer�ncia Green Rio, Maria Beatriz Martins Costa, da empresa Planeta Org�nico, refor�a a tese de que a produ��o org�nica est� ficando cada vez mais barata e acess�vel a um segmento maior de consumidores, atrav�s dos ganhos de escala. “Um grande impulso que o mercado est� tendo s�o as pol�ticas p�blicas, na medida em que os agricultores familiares t�m incentivo a entrar no setor org�nico. Um dos maiores grupos de supermercado do Brasil registrou crescimento de 35% na venda de org�nicos em 2011, comparado com o ano anterior, que j� vinha de um crescimento de 70% desde 2003, quando come�aram a trabalhar com produtos org�nicos”, destacou Maria Beatriz.