Se o Banco Central Europeu (BCE) fosse presidido por uma albanesa de 26 anos, pediria mais uni�o aos pa�ses membros da zona do euro e menos interfer�ncia dos governos em suas pol�ticas. J� os representantes do Fundo Monet�rio Internacional (FMI) na chamada Troica - grupo de ajuda externa aos pa�ses endividados da zona do euro, que inclui BCE, FMI e Comiss�o Europeia - mostrariam mais equil�brio se viessem de pa�ses como Reino Unido e Finl�ndia, e pediriam aos governos da Alemanha, Gr�cia, Portugal, Espanha e It�lia que todos fizessem concess�es para chegar a um acordo.
No fim das contas, ap�s duas horas de discuss�es e acusa��es m�tuas, emitiriam um comunicado conjunto prometendo manter o euro por meio de reformas estruturais e cortar gastos sem prejudicar o crescimento econ�mico.
O exerc�cio levou 30 jovens l�deres de diversos pa�ses � mesa de negocia��es durante as atividades da confer�ncia anual da organiza��o One Young World, em Pittsburgh, e revelou mais do que as dificuldades que permeiam as negocia��es entre autoridades da zona do euro em meio � crise que assola o continente europeu.
Ao assumirem pap�is de representantes de governos como o da Alemanha, Gr�cia e Portugal, ou de autoridades como o presidente do Banco Central Europeu, jovens como Cheuk Kwan Chung, de Hong Kong, deixaram muito claro como a imagem que as economias europeias projetam afeta suas posi��es e o avan�o das negocia��es.
Num dos momentos mais reveladores do encontro, conduzido por economistas e analistas da corretora americana PNC, Chung sugeriu aos representantes do governo grego que fa�am mais pela sua economia, que vendam suas ilhas e fa�am seu trabalho. "E, por favor, n�o durmam � tarde, trabalhem", pediu Chung, estudante de 19 anos apaixonado por pol�tica internacional que representou o governo de Angela Merkel.
Seu colega Mehmet Apaydin, um estudante turco de 23 anos que estuda Administra��o na Universidade T�cnica do Oriente M�dio, foi claro no recado alem�o aos vizinhos endividados: "Achamos que j� fizemos muito. Precisamos de pa�ses que acrescentem � Uni�o Europeia e n�o apenas usem a zona do euro", disse o falso Wolfgang Sch�uble. A rea��o dos gregos foi instant�nea e en�rgica. "Voc�s est�o sugerindo que est�o nos fornecendo seu dinheiro como caridade?", perguntou Besart Stavileci, um jovem do Kosovo de 22 anos e que trabalha no mercado financeiro, na fun��o de um ofendido premi� grego.
"Estamos fazendo o melhor que podemos, e n�o podemos fazer mais" garantiu. Sem meias palavras, o jovem kosovar reagiu ao pedido alem�o para que os gregos n�o durmam durante as tardes afirmando que a Gr�cia se tornou uma esp�cie de bode expiat�rio da crise. "At� mesmo os Estados Unidos t�m um abismo fiscal � espera logo � frente, no come�o do pr�ximo ano, e ningu�m fala nada sobre isso", alertou.
Os pa�ses em dificuldades, como Espanha, It�lia e Portugal, repetiram o discurso de seus governantes de que est�o fazendo tudo que est� ao seu alcance para mudar o rumo de suas economias.
Ontem, no entanto, eles assumiram as vozes dos sul-africanos Zinzi Makie e Gareth Farr e da americana Jessica Wacek, respectivamente. Zinzi, uma consultora de risco da �rea de corporate banking do Absa Capital, uma subsidi�ria do Barclays na �frica, deu um recado claro aos negociadores da Troica: "Precisamos de dinheiro, mas n�o podemos abrir m�o da nossa soberania para tomar medidas porque n�o podemos arcar com mais instabilidade social", explicou. Sem meias palavras, a representante do governo Rajoy pediu o apoio dos vizinhos italianos. "Voc�s s�o os pr�ximos na linha de desconfian�a dos mercados, ent�o nos ajudem a reverter isso", apelou. Farr, em nome do governo Monti, foi enf�tico: "Medidas de austeridade n�o conseguem estimular o crescimento, precisamos de outra receita", pediu.
Isolados na discuss�o, os dois representantes do governo de Angela Merkel, Chung e Apaydin, pediram o apoio da Fran�a para equilibrar a negocia��o, mas continuaram sendo a �nica voz a pregar contra a libera��o de mais ajuda financeira aos vizinhos endividados. "Somos um governo que acaba de assumir e estamos preocupados com nosso pr�prio crescimento, que est� muito fraco, e com o desemprego que s� faz aumentar na Fran�a", rebateu o ingl�s Adil Jiwa, em nome do governo de Fran�ois Hollande.
Restou ao FMI pedir coopera��o a todos, e � albanesa Rezarta Veizaj, que presidia o BCE em nome de Mario Draghi, que a Alemanha "aja mais como Europa" para que um acordo fosse poss�vel. Por sugest�o de Portugal na voz da americana Jessica, todos concordaram que os pacotes de resgate incluam a condi��o de realiza��o de reformas estruturais - o que geralmente tem resultado em desemprego e cortes nos pa�ses que j� receberam ajuda externa.
Pressionados pelo tempo, ap�s duas horas de intensa negocia��o o comunicado que resultou do exerc�cio refletia a mesma disposi��o vaga que geralmente acompanhou as reuni�es de c�pula da Uni�o Europeia ao longo de tr�s anos de crise: todos concordam em manter o euro, fazer reformas estruturais, estimular o crescimento e fortalecer a zona do euro como uma estrutura pol�tica �nica e unida. (A jornalista viajou a convite do One Young World)