Protestos na Espanha, embates entre pol�cia e manifestantes na Gr�cia e em Portugal, revolta na Fran�a, na It�lia e na Inglaterra. As cenas violentas que t�m corrido – e assombrado – o mundo mostram que os problemas detonados h� quatro anos, pelo estouro da bolha imobili�ria dos Estados Unidos, est�o longe do fim. Muito pelo contr�rio. Mantido o atual quadro de desemprego elevad�ssimo – um em cada dois jovens espanhois est�o sem trabalho –, de cortes de sal�rios e aposentadorias, de desmonte do estado de bem-estar social europeu constru�do ao longo de d�cadas, a terceira onda de turbul�ncias est� prestes a varrer o planeta. E, desta vez, ser�o as quest�es sociais a dar o tom da crise.
Diante desse quadro, os economistas s�o enf�ticos: se a atividade econ�mica n�o se recuperar rapidamente, estancando o desemprego, ser� inevit�vel a revolta da popula��o. Protestos e atos de viol�ncia contra a destrui��o da renda e do emprego se tornar�o rotina. O diretor-geral da Organiza��o Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, antev� uma “Primavera �rabe” na Europa, refer�ncia ao movimento liderado pelos jovens da Tun�sia contra o desemprego, que levou a derrocada do governo local. Pelas contas da OIT, desde 2008, o mundo j� destruiu 30 milh�es de postos de trabalho. E, somente em 2013, com a atividade crescendo menos, outras 2,4 milh�es de vagas ser�o limadas.
Sem al�vio Nem mesmo a ligeira recupera��o da economia dos EUA minimiza o temor ante a terceira onda da crise. Primeiro, porque o n�mero de postos de trabalho abertos naquele pa�s tem sido insuficiente para reduzir o desemprego que ronda os 8% da Popula��o Economicamente Ativa (PEA). Segundo, porque as desigualdades sociais na locomotiva que move o mundo s� aumentam. O mesmo ocorre na Alemanha, a principal lideran�a da Zona do Euro, onde a pobreza j� atinge, nos c�lculos da Eurostat, a ag�ncia de estat�sticas do continente, 15,8% da popula��o ante os 10% observados no in�cio do anos 2000.
Para o mega-investidor h�ngaro-americano George Soros, a Alemanha est� prestes a entrar em recess�o e a travar a recupera��o da economia global. “Isso j� n�o � uma previs�o; � a observa��o de um fato. A popula��o alem� n�o sente isso ainda, e n�o acredita nisso. Mas � uma realidade na periferia, e vai atingir o pa�s dentro de seis meses”, sentencia em um artigo publicado em sua p�gina na internet. Na Espanha e na Gr�cia, os problemas ganharam contornos dram�ticos: 25% dos habitantes em idade para trabalhar n�o encontram uma ocupa��o. Pelos dados do Banco Mundial, em solo grego, apenas entre 2008 e 2009, os homic�dios qualificados cresceram 35%; na Espanha, 15,38%.
D�cada perdida “A Europa deve ter uma d�cada perdida”, avalia Newton Rosa. Alex Agostini, economista-chefe da ag�ncia de classifica��o de risco Austin Rating, acrescenta: “O continente caminha para uma crise social. Esse � o ponto seguinte a uma crise econ�mica”. Na Espanha, a crise refor�ou o discurso separatista da Catalunha. O governo, por�m, n�o demonstra inten��o de aceitar. Ainda naquele pa�s, as dificuldades financeiras est�o levando as pessoas a reduzirem at� as despesas com sa�de. Nas contas do Banco Mundial, elas encolheram 8% entre 2008 e 2010. Na sexta-feira, a Organiza��o M�dica Colegial espanhola, que re�ne profissionais do setor, emitiu um manifesto contra os cortes de gastos do governo com sa�de, alegando que “os pacientes est�o passando por dificuldades sem precedentes”.
Praticamente, todos os pa�ses da Zona do Euro reduziram esse tipo de gasto. Entre 2009 e 2010, a Alemanha cortou 0,95% das despesas; a Fran�a, 3,07%; a It�lia, 2,27%; e a Gr�cia, 9,48%. “� inevit�vel uma crise social na Europa, mas ela n�o dever� ser generalizada. Um importante atenuante ser� a mobilidade social do europeu, sem d�vida, mais bem preparado para buscar oportunidades em outros mercados e continentes”, avalia Alexandre Coelho, diretor para as Am�ricas do banco de investimentos Daiwa Capital Markets, em Nova York.