
A economia brasileira continua emperrada pela falta de investimentos e pela desconfian�a do setor produtivo. O Produto Interno Bruto (PIB), soma da produ��o de bens e servi�os no pa�s, cresceu apenas 0,6% no terceiro trimestre em rela��o ao segundo e s� 0,9% na compara��o com igual per�odo do ano anterior, somando R$ 1,09 trilh�o. Ao ficarem abaixo da menor das estimativas que vinham sendo feitas nas �ltimas semanas, os n�meros divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) decepcionaram investidores e analistas, e criaram um clima tenso na equipe econ�mica do governo.
Na noite de quinta-feira, ao ser informada do resultado, a presidente Dilma Rousseff cobrou explica��es do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que vinha apostando em uma acelera��o mais intensa do ritmo da atividade econ�mica no per�odo. O cen�rio descortinado pelo IBGE, no entanto, � bem diferente. Com ajuste sazonal, o resultado acumulado nos quatro trimestres terminados em setembro revela uma economia crescendo ao ritmo tamb�m de 0,9%. Se for considerada a performance apenas dos nove primeiros meses de 2009, o avan�o � ainda mais t�mido, de 0,7%, indicando que nem mesmo a j� modesta estimativa do Banco Central de que o PIB poderia avan�ar 1,6% neste ano dever� ser alcan�ada.
Mantega, que na semana passada ainda apostava em alta trimestral de 1,3% , ontem se disse “surpreso” com o “pibinho”, sobretudo porque o setor de servi�os, respons�vel por 60% da composi��o do indicador, teve varia��o nula no per�odo. “N�o foi t�o alto quanto todo mundo esperava”, disse ele, em S�o Paulo, observando que nenhum dos principais analistas do mercado estimava um aumento menor do que 1%.
Mesmo assim, o ministro manteve o discurso otimista, disse que nos �ltimos tr�s meses do ano a economia deve crescer 1% e reafirmou a aposta em uma expans�o de 4% do PIB em 2013. “O que est� acontecendo na economia brasileira � um movimento difuso de recupera��o de todos os setores”, garantiu. A mesma avalia��o foi manifestada pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que, em nota, afirmou que os dados do IBGE “indicam continuidade da recupera��o da atividade econ�mica neste segundo semestre.”
Apesar de os consumos do governo e, sobretudo, das fam�lias terem apresentado forte expans�o na compara��o com o terceiro trimestre de 2011, os t�cnicos do IBGE apontam o tombo dos investimentos como fator mais preocupante e o vil�o do baixo crescimento do PIB. A chamada forma��o bruta de capital fixo (FBCF), que mede a compra de m�quinas e equipamentos voltados � atividade produtiva dom�stica, caiu 5,6% na compara��o anual e 2% em rela��o ao trimestre anterior.
A retra��o dos investimentos vai obrigar o governo federal a dar aten��o especial ao problema, no sentido de tomar medidas espec�ficas, na avalia��o do presidente da C�mara Brasileira da Ind�stria da Constru��o (CBIC), Paulo Safady Sim�o. “A economia tem de entrar num ritmo de libera��o dos investimentos em infraestrutura, com o gerenciamento de obst�culos que enfrentamos aos projetos e � aprova��o das fontes de financiamentos”, afirma.
O presidente do Sindicato da Ind�stria da Constru��o Pesada de Minas Gerais (Sicepot-MG), Alberto Jos� Salum, aponta uma paralisia das obras de infraestrutura h� mais de um ano, o que estaria comprometendo as possibilidades de crescimento da economia. “Lamento que o Brasil seja considerado um pa�s do grupo dos emergentes e esteja na rabeira das outras na��es (China, �ndia, R�ssia e �frica do Sul). Precisamos lan�ar m�o de todas as medidas para dar velocidade �s obras e investimentos”, reclama.
Novo passo A desonera��o dos investimentos e a cria��o de est�mulos � importa��o de equipamentos sem similar nacional s�o duas das medidas esperadas por Lincoln Gon�alves, presidente do Conselho de Pol�tica Industrial e Econ�mica da Federa��o das Ind�strias de Minas Gerais (FIemg). “O passo que tem de ser dado agora � no sentido de investimentos robustos, que est�o ligados, fundamentalmente, �s �reas de infraestrutura e log�stica.”
Foi a quinta retra��o trimestral seguida dos investimentos e a queda mais forte dos �ltimos tr�s anos e meio, mostrando que as medidas tomadas pelo governo para estimular a atividade n�o foram capazes de superar a desconfian�a dos empres�rios sobre os rumos da economia e convenc�-los a tirar da gaveta os projetos de amplia��o ou constru��o de f�bricas. “O que puxou o PIB para baixo foi o recuo na produ��o de bens de capital, como consequ�ncia imediata do cen�rio de incertezas no Brasil e no exterior”, comentou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE.
Consumo ignora crise
Ana Carolina Dirnardo e Marinella Castro
O consumo das fam�lias continuou desafiando todos os demais indicadores da economia e mantendo a trajet�ria de alta. Favorecido pelo elevado n�vel de emprego e pelo aumento real da massa salarial, o gasto na compra de bens dur�veis apresentou uma expans�o de 3,4% no terceiro trimestre em rela��o a igual per�odo do ano anterior. Foi o 36º crescimento trimestral das fam�lias na compara��o anual. “A demanda continua crescendo mais que a oferta dispon�vel, tamb�m estimulada pelo cr�dito e pelos incentivos do governo a alguns setores”, sublinhou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stico (IBGE).
Com crescimento nominal de 13,7% no saldo de opera��es de cr�dito do sistema financeiro com recursos livres para pessoas f�sicas e sal�rios 6,6% maiores que a m�dia, o consumo das fam�lias � um fator importante de aquecimento da economia. Mas j� h� sinais preocupantes no horizonte, como a inadimpl�ncia recorde e menos investimento na produ��o, observa Rebeca. A incapacidade de quitar os d�bitos preocupa tamb�m o economista da Confedera��o Nacional do Com�rcio de Bens, Servi�os e Turismo (CNC) F�bio Bentes. Ele ressaltou que a fartura de cr�dito existente no mercado comprometeu o or�amento dos brasileiros, que ainda pagam compromissos assumidos anteriormente. “O crescimento nas vendas de bens dur�veis continua, mas em ritmo menor”, destacou.
IPI reduzido Os incentivos dados para que as fam�lias brasileiras n�o tenham medo de gastar e permane�am colocando dinheiro em circula��o foram decisivos para que o servidor p�blico Manoel Ant�nio Ribeiro, 50 anos, decidisse presentear o sobrinho. Ele aproveitou o desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para eletrodom�sticos de linha branca e comprou uma geladeira de R$ 1,2 mil. O pagamento foi � vista. “Como ele se casa ainda este m�s, eu j� vinha planejando isso. E esta � uma boa hora”, disse.
Firme no mercado de trabalho, a fam�lia do engenheiro Rodrigo Soares n�o sentiu o esfriamento da economia. O or�amento dom�stico est� em dia e as atividades como os gastos com educa��o e lazer para os filhos Bruno, de 17 anos, e Giovana, de 13, seguem sem cortes. As despesas do lar e at� as viagens de f�rias tamb�m est�o mantidas. Rodrigo e a mulher, Denise Ara�jo, professora de ingl�s, sentem que a demanda do mercado continua aquecida nos setores em que atuam, mas reconhecem uma preocupa��o real com o futuro. “Conseguimos manter um equil�brio financeiro no dia a dia. A preocupa��o agora � com os pr�ximos anos, j� que o mercado para a constru��o civil j� come�a dar alguns sinais de desaquecimento”, comenta.
Servi�os Apesar de ter participa��o crescente na economia do pa�s, o setor de servi�os n�o contribuiu para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre. O crescimento zero em rela��o ao trimestre anterior e de 1,4% sobre igual per�odo do ano passado revela uma fraqueza generalizada, puxada pelo recuo de 1% dos servi�os financeiros. Segundo os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), registraram crescimento os servi�os de informa��o (0,5%), com�rcio (0,4%), atividades imobili�rias e aluguel (0,4%) e outros servi�os (0,3%). Administra��o, sa�de e educa��o p�blica (0,1%) e transporte, armazenagem e correio (-0,1%) ficaram est�veis. Na avalia��o de F�bio Bentes, o fraco desempenho do setor de servi�os, que corresponde a pelo menos 60% do (PIB), est� relacionado ao ritmo lento de investimento das ind�strias.