
No quarto-cozinha de 20 metros quadrados em que mora a gerente comercial Gilmaria Ara�jo, de 25 anos, quase tudo foi comprado pela internet. Do notebook � mesa de jantar, passando pelo micro-ondas, o fog�o, o aparelho de DVD, a televis�o, o smartphone e o arm�rio de cozinha. A extensa lista, que inclui outros m�veis e mais apetrechos tecnol�gicos, � a s�ntese da express�o “tudo ao mesmo tempo agora”, usada para descrever uma gera��o de pessoas que quer viver intensamente o hoje, sem desgrudar do celular, do tablet e das redes sociais.
Entre 2002 e 2012, cerca de 40 milh�es de brasileiros deixaram a condi��o de pobreza. Com mais dinheiro no bolso e mais dignidade, eles passaram a integrar uma nova e fortalecida classe m�dia, que est� mais plural, educada e, tamb�m, conectada. Nos �ltimos anos, ao passo que ia colecionando novos membros, a chamada classe C foi mudando a cara do Brasil tecnol�gico.
O acesso � internet, em 2006, era restrito a apenas 35,3 milh�es de pessoas. Seis anos depois, esse n�mero j� ultrapassa os 83,4 milh�es. N�o por acaso, os 48,1 milh�es de novos usu�rios al�aram o Brasil ao posto in�dito de quinto pa�s em n�mero de conex�es � rede mundial de computadores. Atentas a esse fen�meno, as empresas com atua��o no pa�s tiveram de se adaptar. “N�s fomos � favela no Rio de Janeiro e vimos que talvez fosse um bom neg�cio fazer como os donos de lan house. Eles cobravam por hora, e n�o por dados, para o cliente acessar a internet”, lembra o diretor da TIM para a Regi�o Centro-Oeste, Leonardo Queiroz.
Em quatro anos, o mercado de telecomunica��es nacional se tornou uma m�quina de fazer dinheiro. At� novembro de 2012, havia no pa�s 260 milh�es de celulares. Isso quer dizer que, a cada 100 habitantes, h� 131,99 aparelhos ligados, sendo a maior parte (80,7%) de linhas pr�-pagas. “Em geral, a classe C � uma grande ca�adora de promo��es. Por isso, � muito comum que um s� consumidor tenha de tr�s a quatro aparelhos, cada um de uma operadora, para economizar nas liga��es”, conta a diretora do grupo Troiano de Branding, Renata Natacci.
Sonhos realizados
Tamb�m uma “ca�adora de promo��es”, Gilmaria Ara�jo n�o abre m�o do smartphone, que, al�m de entrar na internet, comporta tr�s chips, “todos eles pr�-pagos”, conta ela. De diarista passou a panfleteira de uma rede de ensino profissionalizante. Na escola aprendeu a mexer no computador, na internet e criou gosto pela coisa. Em um m�s, passou a orientadora educacional e, em seguida, agerente comercial. Hoje, com acesso a cr�dito e a renda mensal de cerca de R$ 1,1 mil, ela coloca os sonhos � prova. Mobiliou a casa, voltou a estudar e passou a guardar dinheiro para adquirir novos mimos, como um moderno aparelho televisor e um carro zero.
A vida de Gilmaria remete � de outros tantos milh�es de brasileiros. A tecnologia faz parte tamb�m da vida do vendedor Estev�o Fagundes, de 22 anos, que estuda computa��o gr�fica e � aficionado por eletr�nicos. Em casa, ele possui um verdadeiro arsenal tecnol�gico que vai de smartphones a tablets, passando por netbooks e notebooks. O investimento, segundo ele, � justificado pelo seu interesse nos equipamentos, mas tamb�m em avan�ar nos estudos e conquistar novas posi��es profissionais. Para isso, ele conta que consome todas as informa��es relacionadas a sua �rea de atua��o e que chega a trocar de celular de dois em dois meses “para ter acesso a todas as novidades tecnol�gicas e estar por dentro do que acontece no mercado”. A troca da vez ser� por um rec�m-lan�ado iPhone 5.
Mas o investimento, segundo o rapaz que trabalha como vendedor em um shopping popular e tem sal�rio fixo de R$ 730, tem justificativa. “Hoje, o meu curso � t�cnico e quero continuar estudando para fazer uma faculdade e ter minha pr�pria ag�ncia de publicidade e marketing no futuro”, revela. “Para isso, entendo que preciso estar conectado a tudo o que surge e estudar muito. E os aparelhos me ajudam muito nisso pela mobilidade e praticidade”, completa.
Ferramentas de trabalho
Dono de sonhos grandiosos, Estev�o segue uma rotina pesada em busca daquilo que os pais n�o conquistaram. “Meu pai estudou at� a quinta s�rie e minha m�e at� o primeiro ano do segundo grau, eles n�o tiveram as mesmas chances que eu”, relata o rapaz. Ele destaca ainda que ter condi��es de comprar um ou outro equipamento eletr�nico n�o � apenas um luxo, mas tamb�m um caminho para conquistar o que planeja. “Na internet � poss�vel pesquisar de tudo. At� as informa��es que facilitam o meu trabalho e outras que podem me ajudar a aprimorar meus conhecimentos”, acrescenta.
Com perfil diferente do de Estev�o, o m�sico Luiz Marcos Garcia Ramos come�a a se entregar �s tecnologias de seu smartphone e do notebook, adquirido recentemente por R$ 1,4 mil. Em breve, ele, que tem rendimentos mensais de R$ 1 mil, deve comprar outros equipamentos para finalizar seu est�dio, de onde sai parte de sua renda. “Vivo dos shows e do aluguel do est�dio. Mas preciso investir em uma webcam poderosa, modem e outros equipamentos”, conta. Para Luiz, gastar boa parte do que ganha com tecnologia virou quest�o de “sobreviv�ncia”, j� que para o futuro ele quer gravar um disco junto com a sua banda e fazer turn�s.