
Os reservat�rios de energia das usinas brasileiras est�o em seu n�vel mais cr�tico dos ultimos 10 anos, informou o Operador Nacional do Sistema El�trico (ONS). Na m�dia, os reservat�rios das regi�es Sudeste e Centro-Oeste, que respondem por 70% da capacidade de armazenamento de energia do pa�s, detinham 28,52% de volume �til em 2000, ano imediatamente anterior ao racionamento. Hoje contam com 28,86%, apenas 0,34 ponto percentual a mais. Nas principais usinas hidrel�tricas localizadas em Minas Gerais, a situa��o era pior em dezembro do ano passado do que foi em dezembro de 2000.
Um retrato dessa situa��o pode ser colhido em Furnas – 1.216 megawatts (MW) –, onde o volume armazenado estava em 12,35% em dezembro de 2012, menor do que os 19,06% apurados no mesmo m�s de 2000. Os dados do ONS tamb�m mostram que na hidrel�trica de Marimbondo (1.140 MW) o n�vel de �gua era de 21,61% em dezembro de 2000 e de 16,13% no m�s passado. Na usina de Itumbiara, o volume de dezembro de 2012 era de 10,01% ante 22,45% em igual m�s de 2000. Em S�o Sim�o, a capacidade armazenada era de 51,55% h� 12 anos e agora � de 28,51%. Entre as principais hidrel�tricas do estado, somente Emborca��o e Nova Ponte est�o em situa��o melhor na compara��o entre os dois per�odos.
Todas as usinas termel�tricas do pa�s – a g�s, a �leo combust�vel, a �leo diesel e a carv�o – est�o ligadas desde dezembro e isso deveria garantir o n�vel de �gua nos reservat�rios, mas n�o � o que vem ocorrendo. Para Cl�udio Salles, presidente do Instituto Acende Brasil, isso significa que a muni��o de que o pa�s disp�e para enfrentar essa situa��o adversa j� est� sendo gasta. “Entramos em janeiro, mas o n�vel de �gua nos lagos das usinas est� caindo apesar de as t�rmicas terem sido acionadas. A �nica regi�o onde a �gua acumulada aumentou foi no Norte, que responde por apenas 5% da capacidade de armazenamento do Brasil.”
A expectativa de um poss�vel racionamento de energia j� fez o Pre�o de Liquida��o das Diferen�as (PLD) do mercado livre de energia, voltado para os grandes consumidores, subir 60% da semana passada para c�, chegando a R$ 554. “Essa alta tem a ver com a situa��o dos reservat�rios. Risco de racionamento sempre tem, mas � claro que se chover a situa��o pode se regularizar”, explica Walter Fro�s, diretor da CMU Comercializadora de Energia. Ele reconhece, no entanto, que hoje o Brasil vive uma das piores situa��es hidrol�gicas para o m�s de janeiro.
"As previs�es de chuvas para janeiro apontam volume 30% menor que o considerado normal para o m�s. Se considerar que as precipita��es s�o ainda localizadas fora dos locais ideais para as principais bacias de rios, a gera��o hidrel�trica est� amea�ada este ano", avalia Reginaldo Medeiros, presidente da Associa��o Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel). � prov�vel que as t�rmicas fiquem acionadas todo o ano. Nesse sentido, ele aponta como preocupa��o ainda maior outro fator inesperado: dos 20 gigawatts (GW) de pot�ncia t�rmica que deveriam ser entregues em 2013, s� 13 GW vingaram. Essa diferen�a representa as usinas contratadas em leil�es de 2008 e n�o conclu�das pelos empreendedores.
SINAL AMARELO Fl�vio Neiva, presidente da Associa��o Brasileira de Empresas Geradoras de Energia El�trica (Abrage), tamb�m acredita que, caso as chuvas de janeiro n�o venham no n�vel considerado normal, os fornecedores ser�o for�ados a "acender o sinal amarelo". Se o Sudeste apresentar volume nos reservat�rios das usinas abaixo do normal, Neiva considera necess�ria a ado��o pelo governo de medidas adicionais de seguran�a, como introdu��o de t�rmicas de gera��o ainda mais caras.
Ele lembra que o primeiro trimestre concentra as chuvas, o que pode at� fazer as t�rmicas voltarem ao seu emprego m�nimo a partir de abril, na melhor das hip�teses. "A sorte � que a economia n�o est� crescendo ao ritmo de 4%, como apostava o Minist�rio da Fazenda. Se considerar que a demanda de eletricidade cresce a um ritmo uma vez e meia maior que o PIB, uma expans�o maior nos deixaria �s escuras", avalia Walter Fr�es, presidente da comercializadora de energia CMU. Para o professor da Universidades de S�o Paulo (USP) C�lio Bermann, mais do que o apag�o cl�ssico, o maior risco continua sendo a fragilidade das redes de transmiss�o do pa�s, que carecem de investimentos e manuten��o. "O que a presidente Dilma Rousseff chama de falha humana � o sucateamento de redes", sublinha.
Redu��o da conta amea�ada
Para Cl�udio Salles, presidente do Instituto Acende Brasil, se n�o chover, o governo dever� tentar ofertar mais energia para reduzir a depend�ncia do sistema el�trico da chuva. Para isso, poder� acionar novamente a usina t�rmica de Uruguaiana, que depende do fornecimento de g�s da Argentina e est� parada h� anos. Outra op��o seria usar usinas t�rmicas emergenciais, como ocorreu no racionamento em 2001. O pre�o da medida foi pago pelo consumidor durante tr�s anos. Do lado do consumo, a alternativa seria, em primeiro lugar, incentivar a popula��o a consumir menos energia, racionalizando o uso do insumo. A outra sa�da seria o racionamento.
Outro consenso dos agentes � que o elevado custo da gera��o t�rmica, cinco vezes e meia ao da hidrel�trica, tamb�m dever� esvaziar a promessa do governo de reduzir o valor das contas de luz a partir de fevereiro, em 20,2% em m�dia. Enquanto a ind�stria que compra energia no mercado livre j� sente os efeitos da disparada alta da energia despachada, o mercado cativo dos consumidores residenciais perceber� no bolso ao longo do ano, � medida que as revis�es tarif�rias forem aprovadas. No caso de Bras�lia, o pre�o mais alto chegar� em agosto.
Segundo Fl�vio Neiva, presidente da Associa��o Brasileira de Empresas Geradoras de Energia El�trica (Abrage), o uso intensivo das usinas t�rmicas j� conspirou com os planos da presidente. Nem mesmo a ajuda do Tesouro, estimada em at� R$ 7 bilh�es para arcar com as diferen�as das empresas que n�o aderiram ao plano de redu��o das tarifas, seria suficiente. O diretor executivo da Associa��o Brasileira das Grandes Empresas de Transmiss�o de Energia El�trica (Abrate), C�sar de Barros Pinto, tamb�m n�o v� condi��es conjunturais para garantir a redu��o da conta de luz no patamar prometido, em raz�o do uso intensivo de uma energia mais cara, a t�rmica. (ZF/SR)
Racionamento branco � defendido
A Associa��o Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) divulgou ontem estudo no qual defende redu��o volunt�ria no consumo de energia, o que � chamado por especialistas de racionamento branco. Segundo a entidade, a gera��o de energia termel�trica no sistema brasileiro dever� levar o Encargo de Servi�os ao Sistema (ESS) a um novo recorde hist�rico: R$ 929,2 milh�es em dezembro.
“A Abrace entende que pode ser considerada a possibilidade de redu��o volunt�ria da demanda para diminui��o do consumo, para reduzir os custos globais para todos os consumidores, como vem sendo estudado pelo Operador Nacional do Sistema El�trico (ONS)”, informou, em nota.
Em outro comunicado ontem, a Abrace esclareceu que uma redu��o volunt�ria da demanda poderia ser avaliada no contexto de um Pre�o de Liquida��o de Diferen�as (PLD) – custo da energia no mercado de curto prazo – alto. "A Abrace entende que, devido ao PLD elevado, empresas que est�o comprando no mercado � vista podem avaliar a possibilidade de reduzir a demanda". “� preocupante o fato de n�o haver uma expans�o da capacidade de reserva do sistema el�trico brasileiro proporcional ao seu crescimento”, disse o presidente da Abrace, Paulo Pedrosa.
A��ES EM QUEDA A crescente perspectiva de racionamento de eletricidade em 2013 j� provocou estragos extras na confian�a de investidores do setor. A not�cia de que a reuni�o dos �rg�os respons�veis pela gest�o do sistema, marcada para a tarde de amanh� no Minist�rio de Minas e Energia (MME), trataria exclusivamente dos riscos de desabastecimento, gra�as aos baixos n�veis dos reservat�rios das hidrel�tricas combinados ao consumo elevado em dias de alta temperatura, derrubou ontem as a��es das empresas.
O medo de racionamento ajudou a puxar para baixo a Bolsa de Valores de S�o Paulo (BM&FBovespa), que fechou em queda de 0,94%. As a��es preferenciais (PN) da Eletrobras recuaram 4,72% e as de Cesp e Cemig, 3,4% e 3,3%, respectivamente. O temor foi agravado com a informa��o de que a conta da gera��o termel�trica adicionada � das hidrel�tricas para garantir a demanda j� se aproxima de R$ 1 bilh�o por m�s, j� que o ESS de refer�ncia para dezembro dever� atingir R$ 929,2 milh�es.