Bras�lia – Um dos maiores ralos de dinheiro p�blico no Brasil, a corrup��o faz estragos incalcul�veis. Ela � capaz de impedir o desenvolvimento do pa�s e mesmo tirar vidas. A Federa��o das Ind�strias de S�o Paulo (Fiesp) estima uma perda anual de R$ 80 bilh�es, mas � dif�cil saber exatamente quanto se tira dos cofres p�blicos indevidamente. Al�m das irregularidades pass�veis de puni��o criminal, falhas de gest�o causam danos ao pa�s. Dados do Tribunal de Contas da Uni�o (TCU) indicam que a maioria dos contratos firmados entre os setores p�blico e privado tem algum tipo de problema e, invariavelmente, exige mais dinheiro p�blico. O erro na elabora��o de editais deixou de ser exce��o.
Em �guas Lindas de Goi�s, no entorno de Bras�lia, a constru��o do segundo hospital da cidade ilustra os malef�cios da combina��o entre planejamento ruim e corrup��o. Relat�rio do Minist�rio P�blico de Goi�s revela que houve desvio de R$ 8,7 milh�es na obra, quase conclu�da. Foram encontradas 25 irregularidades. A constru��o foi embargada em 2009 e, em resposta ao MP, a prefeitura informou que o or�amento aprovado pelo Minist�rio da Sa�de estava errado. Em vez dos R$ 19 milh�es previstos inicialmente, o valor deveria ser de R$ 34,4 milh�es. Depois, um novo montante foi requisitado pelo governo municipal, levando o or�amento final para R$ 56,4 milh�es. A reportagem esteve no local e constatou que o pr�dio est� quase conclu�do: faltam apenas obras de acabamento, como o piso, a pintura e a instala��o de janelas.
O caso de �guas Lindas � emblem�tico e, como ele, existem milhares espalhados pelo Brasil. As fraudes est�o disseminadas, e elas n�o s�o protagonizadas apenas por pol�ticos. A Previd�ncia Social, de abril de 2008 a julho de 2013, registrou perdas na concess�o de seguro-desemprego da ordem de R$ 2,3 bilh�es. At� o momento, foram recuperados somente R$ 505 milh�es.
Para Cl�udio Weber Abramo, diretor executivo da ONG Transpar�ncia Brasil, as causas dos desperd�cios nos munic�pios s�o claras: as cidades n�o geram riquezas e, por isso, a popula��o depende da prefeitura. “O prefeito nada de bra�ada. A popula��o fica dependente dele”, explica. O presidente do Instituto Brasileiro de �tica Concorrencial (Etco), Roberto Abdenur, diz que a corrup��o � a forma de desperd�cio que mais revolta o cidad�o, justamente porque permeia todos os outros problemas e car�ncias enfrentados pela popula��o. O efeito multiplicador da corrup��o faz com que cada R$ 1 desviado represente R$ 3 de perda para a sociedade.
INFORMALIDADE A chamada economia subterr�nea, que soma as quantias movimentadas pelas atividades informal e ilegal, tamb�m gera rombos. Tanto que provocou um preju�zo de R$ 730 bilh�es ao pa�s somente no ano passado. A produ��o de bens e servi�os � margem do Produto Interno Bruto (PIB) � calculada pelo Instituto Brasileiro de �tica Concorrencial (Etco) em conjunto com o Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Getulio Vargas (Ibre-FGV).
A pirataria e a informalidade acumulam formas de desperd�cio: n�o geram impostos, n�o recolhem contribui��es trabalhistas, n�o se preocupam com os direitos do consumidor. “� um dinheiro que deixa de fortalecer as pol�ticas p�blicas”, diz o presidente do Etco, Roberto Abdenur, para quem, apesar dos avan�os econ�micos nos �ltimos anos, ainda falta propagar os benef�cios da atividade formal. “A impress�o � que as pessoas ainda t�m medo”, comenta. (Colaborou Antonio Tem�teo)
Buracos que sugam R$ 195,7 bi
Belo Horizonte – Empresas de diversos setores da economia deixam pelo caminho boa parte do que poderia ser revertido em mais desenvolvimento para o pa�s. Em m�dia, 13% das receitas brutas das companhias s�o perdidos no transporte de produtos, preju�zo calculado em US$ 83,2 bilh�es por ano (R$ 195,7 bilh�es), conforme pesquisa da Funda��o Dom Cabral. Alguns segmentos s�o mais afetados, como as ind�strias de bens de capital (22,69% do faturamento v�o pelo ralo), de constru��o (20,88%) e de minera��o (14,63%).
A principal justificativa, diz o coordenador do estudo, Paulo Resende, s�o as m�s condi��es das estradas e a pouca oferta de ferrovias para o escoamento de produtos de baixo valor agregado. “Aproximadamente 60% de tudo o que � transportado no pa�s passam pela rodovia”, comenta. A solu��o, na opini�o dele, seria reduzir a j� conhecida depend�ncia das estradas e aumentar a oferta de ferrovias.
Investimentos rodovi�rios nos principais corredores, como as BRs 040, 381 e 262, seriam uma alternativa, ressalta Resende. O problema � que o Brasil segue bem atrasado nesse quesito. O professor lembra que, enquanto a China j� chegou a destinar 8% do Produto Interno Bruto (PIB) para as estradas e a Coreia do Sul, 10%, o Brasil investiu o equivalente a 1,8% do conjunto de riquezas, acumulando uma m�dia p�fia de 0,8% do PIB aplicado em transportes nos �ltimos 20 anos.
O impacto causado pelas perdas com log�stica n�o pesa somente no caixa das empresas. S�o os consumidores que pagam a conta do desperd�cio. Resende afirma que o impacto � sentido porque as firmas repassam o custo das perdas aos consumidores e fornecedores.
Quem depende das estradas para trabalhar sai perdendo. O caminhoneiro Cl�udio Schneider passa semanalmente pelas BRs 381 e 262 e refor�a que o p�ssimo estado das estradas atrasa as viagens. “H� 15 anos, passo pelo trecho que liga o Esp�rito Santo a Minas Gerais e nesse per�odo n�o vi melhorias, apenas mais quebra-molas e radares”, conta. “O resultado � mais tempo na estrada. Tenho levado duas horas a mais para completar o percurso.”